Seis em cada dez mulheres já tiveram uma ideia de negócio, mas só 11% a concretizou
Metade das mulheres em Lisboa não chegou a avançar com a ideia de negócio, devido a desafios a nível financeiro, falta de segurança, conhecimento e desmotivação, aponta o “Women & Wealth".
Seis em cada dez mulheres em Lisboa já tiveram uma ideia de negócio, mas apenas 11,4% conseguiu concretizar o projeto. Metade nem chegou a avançar com a ideia. Motivos? Desafios a nível financeiro, falta de segurança, conhecimento e desmotivação.
Uma esmagadora maioria das mulheres (81,9%) está aquém das suas ambições financeiras e 42% admite ter conhecimentos básicos de literacia financeira, conclui a 2ª edição do relatório “Women & Wealth – Literacia Financeira no Feminino”, da Portuguese Women in Tech.
“A baixa literacia financeira das mulheres em Portugal leva a um maior risco de endividamento, menor capacidade de planeamento a longo prazo e maior dependência de terceiros nas decisões financeiras. Estes pontos contribuem também para uma menor segurança e menos ambição no momento de criação de negócios“, aponta Inês Santos Silva, cofundadora da Portuguese Women in Tech, ao ECO.
Baixa literacia financeira
Depois de no ano passado ter sido inquirida uma amostra de cerca de 100 mulheres na região Norte, nesta edição do relatório “Women & Health” foram questionadas, entre 20 de maio a 19 de julho, 138 mulheres entre os 23 e 57 anos, no distrito de Lisboa.
“É interessante verificar que, apesar de os dois inquéritos terem sido efetuados em anos diferentes e considerado dois diferentes perfis geográficos, os resultados no geral são muito semelhantes aos mais diversos níveis, nomeadamente no que diz respeito aos níveis de literacia e segurança financeiras destas mulheres. Isto valida o nosso entendimento de que se trata de uma questão que é urgente trabalhar a nível nacional”, defende Inês Santos Silva.
“Uma das principais diferenças verificadas neste novo inquérito passa pelo facto de o bolo estar mais dividido no que toca à autoperceção que as mulheres, em Lisboa, têm acerca da sua literacia financeira, sendo que a maioria afirma ter conhecimentos intermédios (44,9%). No Porto, a maioria afirmava ter conhecimentos básicos (53,9%). Ainda assim, continua a ser significativa a fatia correspondente às mulheres, em Lisboa, que afirmam ter conhecimentos básicos neste âmbito (42%)”, detalha.
Outra das diferenças, “tem a ver com a existência de mais mulheres a contribuírem para as decisões financeiras no seu contexto profissional (31,2% vs 18,8% no Porto, em 2023)“, aponta ainda.
Mais de 30% nunca tentou negociar salário
No que toca ao tema “negociar salário” destaca-se igualmente diferenças entre as duas regiões. “Em Lisboa, há muito mais mulheres a afirmarem já ter tentado negociar o seu salário (71% vs 48,7% no Porto, em 2023)“, refere.
Neste campo da remuneração, quase quatro em cada dez inquiridas considera injusto o seu salário atual, tendo em conta as suas capacidades/conhecimentos/função. Destas, duas em cada dez sentem que ser mulher pesou nesta questão. Mas, dentro do grupo de mulheres que não consideram o seu salário justo, 37% confessa nunca ter tentado negociá-lo.
Entre as duas regiões há diferenças no que toca a investimentos, “com 58,7% das mulheres em Lisboa a afirmar ter dinheiro investido em um ou mais produtos financeiros e a fazer a total gestão desse investimento. No Porto, estas mulheres representavam 42,2% do total”, sintetiza Inês Santos Silva.
Mulheres e empreendedorismo
Num ano, verifica-se igualmente diferenças no que se refere a ideias de negócio e a sua concretização. Em Lisboa, 63,8% das mulheres vs 51,3% de há um ano no Porto diz ter tido, pelo menos, uma ideia de negócio, com pouco mais de um terço (36,2%) a admitir que nunca teve nenhuma. Há um ano esse valor era de 48,7%.
Mas da ideia à sua concretização vai uma larga distância. “Das mulheres que afirmam já ter tido uma ideia de negócio, exatamente metade (50%) confirma não ter avançado de todo com essa ideia”, pode ler-se no estudo. Das que decidiram avançar 22,7% ainda a estão a concretizar e 15,9% não chegou a concretizar. “Apenas uma em cada 10 (11,4%) destas mulheres avançou com a sua ideia de negócio e conseguiu concretizá-la“, detalha o relatório.
No Porto, a percentagem de mulheres que não avançou de todo com a sua ideia de negócio era ligeiramente superior (53,2%), com 17,6% das que avançaram com a ideia a não o conseguirem concretizar; 12,7% ainda a estavam a concretizar e 16,5% conseguiram concretizar.
Quando questionadas acerca das razões pelas quais nunca chegaram a concretizar ou a avançar de todo com a sua ideia de negócio, metade (53,4%) das mulheres inquiridas em Lisboa “alega desafios a nível financeiro, 51,7% falta de segurança e 43,1% falta de conhecimento”. Mas não só. Desmotivação é a razão apontada por 32,8% destas mulheres e falta de apoio do mercado é referida por 20,7% delas. “Ainda há quem afirme que não foi levada a sério por ser mulher (10,3%)”, aponta o estudo.
Há um ano, no Porto, mais de metade (64,3%) das mulheres “confessava falta de segurança, 58,9% desafios a nível financeiro e 44,6% falta de conhecimento” e “falta de apoio do mercado (26,8%) e desmotivação (21,4%) eram outras das razões apontadas”.
Mais de 80% aquém das ambições financeiras
Uma larga maioria (81,9%) das inquiridas em Lisboa diz estar aquém das suas ambições financeiras vs 79,2% no Porto; com apenas 11,6% em Lisboa admitir ter atingido essas ambições (vs 11% no Porto) e 5,1% estar além delas, valor ligeiramente há um ano a Norte, 6,6%.
Em Lisboa, “dentro da fatia das mulheres que concretizaram a sua ideia de negócio, 80% continua a assumir-se aquém das suas ambições financeiras”, refere o inquérito.
“Já olhando para as mulheres que dizem ter atingido as suas ambições financeiras ou estar além destas, 91,3% tem dinheiro investido em um ou mais produtos financeiros. De notar ainda que, considerando a amostra de mulheres que afirmam ter conhecimentos avançados de literacia financeira, 92,9% não só tem dinheiro investido em algum produto financeiro, como faz a total
gestão desse investimento”, destaca o estudo relativamente aos resultados em Lisboa.
Já entre as mulheres que afirmam ter conhecimentos básicos ou nenhuns de literacia financeira, 40,3% não tem qualquer dinheiro investido.
“Os números do nosso estudo são um pouco melhores do que a média nacional, uma vez que a conferência Women & Wealth se dirige a mulheres com formação superior, a trabalhar em tecnologia. Mas o potencial de progresso é enorme”, conclui Inês Santos Silva.
“Em Portugal, a baixa literacia financeira não está circunscrita a mulheres. Ainda recentemente, Portugal foi considerado o segundo pior país da União Europeia em termos de conhecimento financeiro”, lembra a cofundadora da Portuguese Women in Tech.
Outro estudo do Doutor Finanças, levado a cabo este ano, “concluía que mais de metade da população (64%) tem baixos níveis de conhecimento financeiro. Isto é evidente, uma vez que 45% da população nunca realizou qualquer tipo de investimento, quase metade dos portugueses não possui um fundo de emergência e Portugal tem consistentemente apresentado taxas de poupança equivalentes a metade da média da Zona Euro“, elenca.
Face as estes baixos valores de literacia financeira do país, mais do que medidas dirigidas ao público feminino, “Portugal precisa, acima de tudo, de iniciativas dirigidas a todos”, defende a Inês Santos Silva.
“Precisamos de aumentar os nossos conhecimentos financeiros, uma vez que este é um dos fatores que nos mantêm mais pobres do que os nossos congéneres europeus. Para isso, a introdução de conteúdos de literacia financeira nas escolas é essencial. Para os mais velhos, acredito que as empresas podem ter um papel importante de capacitar os seus trabalhadores com estes conhecimentos, uma vez que beneficia todos”, diz. “É urgente aumentar a literacia financeira dos portugueses.”
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