Chineses querem fábricas que Volkswagen vai fechar na Alemanha
Aquisição de fábricas na Europa permitiria aos fabricantes da China ganhar influência na indústria automóvel e evitar pagar tarifas sobre os carros elétricos. Decisão de Berlim só depois das eleições.
A Volkswagen prepara-se para encerrar fábricas na Alemanha, pela primeira vez na sua história. Apesar de a gigante automóvel ainda não ter avançado com pormenores, estas unidades industriais já estão a gerar o interesse de investidores chineses, que procuram entrar naquele que é o berço das maiores fabricantes automóveis do mundo e, assim, tornar-se mais competitivas no setor na Europa.
O interesse chinês é avançado esta quinta-feira pela Reuters, que cita uma fonte próxima do governo chinês. A aquisição de uma fábrica na Europa permitirá à China ganhar influência na indústria automóvel alemã, num momento em que as empresas chinesas estão a procurar concorrer com o setor automóvel europeu, sobretudo na venda de elétricos.
Das telecomunicações à robótica, as empresas chinesas têm investido em várias indústrias na Alemanha, a maior economia da Europa, mas que travou o crescimento em 2024 pelo segundo ano consecutivo. No entanto, estes grupos asiáticos ainda não conseguiram estabelecer-se na produção automóvel, apesar de a Mercedes-Benz ter dois grandes acionistas chineses.
Caso estes investidores chineses consigam assumir o controlo de uma fábrica de carros na Alemanha, isto iria permitir às fabricantes de elétricos chinesas evitar pagar tarifas, assim como aumentar a concorrência face às empresas europeias.
O governo germânico terá, no entanto, a última palavra final sobre um investimento desta importância no país. Com eleições antecipadas marcadas para fevereiro, qualquer posição do Executivo de Berlim sobre este investimento apenas deverá surgir após a ida às urnas, em que Olaf Scholz será novamente candidato pelo SPD.
Em dezembro, a Volkswagen e o sindicato IG Metall chegaram a um acordo que visa o eventual encerramento de duas das suas dez fábricas na Alemanha, poupando cerca de quatro mil milhões de euros. Este entendimento surge depois de a multinacional ter admitido em setembro a possibilidade de fechar fábricas no país de origem, pela primeira vez na sua história.
Fabricantes europeus pedem à UE esforço para estimular setor
O novo presidente da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) pediu esta quinta-feira à União Europeia (UE) um esforço conjunto para estimular o setor e defendeu que “não há vencedores em potenciais guerras comerciais”.
Numa carta enviada a líderes europeus, incluindo às presidentes da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, e do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, Ola Kallenius registou que “é agora crucial estabelecer as condições” para fortalecer e prolongar a importância do setor automóvel na Europa.
Na missiva, o responsável do principal lobby automóvel da Europa, que no início do ano sucedeu ao líder do Grupo Renault, Luca de Meo, assinalou que a economia do bloco e da indústria está “numa encruzilhada”. Nesse sentido, Kallenius, que também é presidente executivo do Grupo Mercedes-Benz, apresentou três prioridades para os responsáveis continentais para estimular o setor.
Um das prioridades sugeridas passa por um caminho realista para a descarbonização do setor – “um que seja guiado pelo mercado e não por penalizações”. “A indústria automóvel europeia continua comprometida com o objetivo de neutralidade carbónica de 2050, bem como com a mudança para o transporte e mobilidade sem emissões, mas a estratégia de descarbonização deve criar crescimento económico e competitividade, não limitá-los”, disse o responsável nascido na suíça e com nacionalidade alemã
Ola Kallenius acrescentou que o ecossistema da mobilidade elétrica deve tornar-se mais atrativo para os consumidores e pediu uma atualização das metas europeias. “Poucas previsões anteviram as realidades geopolíticas e macroeconómicas atuais, mas a maioria dos objetivos políticos estão assentes em previsões que não se materializaram” escreveu, apontando que estes “devem ser adaptados à diferente realidade”.
Com o objetivo de pressionar as fabricantes a controlarem as emissões, Bruxelas tem aplicado multas caso estas falhem os objetivos. Em setembro do ano passado, Luca de Meo estimou que as compensações pagas pelo setor por incumprimento das metas de emissões atinjam até 15 mil milhões de euros.
Ao mesmo tempo, o presidente da ACEA pediu uma estratégia regulatória que melhore a competitividade das indústrias europeias e que se assegurem ações coordenadas – incluindo através da conclusão da união do mercado de capitais.
“Além disso, devem ser promovidas políticas industriais que permitam aos fabricantes europeus serem altamente competitivos no mercado automóvel de forma global. Isso inclui investigação e desenvolvimento e inovação, bem como a sua tradução na comercialização”, sugeriu. “É fundamental assegurar uma cadeia de valor ágil e competitiva. Isto deve incluir componentes automóveis, desenvolvimento e fabrico de baterias, desenvolvimento de ‘software’ e semicondutores”, acrescentou.
A última prioridade, segundo o presidente da ACEA, passa pela promoção de novas abordagens, de forma a “criar relações comerciais mundiais e mutuamente benéficas”. Kallenius alertou que as diferenças políticas e comerciais entre UE, EUA e China estão em risco “de se aprofundarem ainda mais” e que, por isso, o bloco europeu e a indústria automóvel devem tentar “navegar entre a cooperação e a competição”.
“Nós, europeus, tivemos, nas últimas décadas, ganhos significativos com a abertura dos mercados e com o crescimento do comércio livre, mas, naturalmente, também teremos muito a perder se este desenvolvimento se reverter”, sublinhou.
O presidente da ACEA defendeu que não há vencedores em potenciais guerras comerciais e que as medidas protecionistas não são necessariamente a melhor solução.
Também hoje, num encontro com jornalistas noticiado pela Efe, Kallenius sugeriu que “um simples aumento das tarifas” pode ser “prejudicial para o modelo de negócio do setor automóvel”, uma vez que poderá levar a um consequente escalada em que todos aumentam as tarifas.
A Comissão Europeia (CE) passou a aplicar, em outubro, taxas punitivas de 35,3% ao fabricante chinês SAIC (MG e Maxus, entre outras marcas), de 18,8% à Geely e de 17% à BYD, por um período máximo de cinco anos.
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