China já retaliou contra tarifas de Trump, mas abre a porta a negociação com EUA
Medidas retaliatórias da China incluem controlos à exportação de metais para eletrónica e possíveis sanções à dona da Calvin Klein e à Tesla. Trump e Xi Jinping devem conversar no final da semana.
No dia em que entra em vigor a tarifa adicional de 10% sobre todas as importações chinesas para os EUA, Pequim deu a conhecer a prometida retaliação contra as mais recentes restrições comerciais impostas por Donald Trump. Além de novas taxas sobre uma série de produtos provenientes dos Estados Unidos, entre os quais carvão, petróleo e gás natural liquefeito (GNL), abriu uma investigação à Google, adicionou a dona da Calvin Klein à lista de “entidades não fiáveis” e impôs controlos à exportação de equipamento militar, painéis solares e metais essenciais para equipamentos eletrónicos.
As medidas, anunciadas esta terça-feira pelo Ministério do Comércio da China, devem entrar em vigor a partir de 10 de fevereiro. O que está a ser encarado como uma estratégia do gigante asiático para uma “diplomacia de última hora” entre Xi Jinping e o homólogo norte-americano, que planeiam falar com no final da semana, segundo um porta-voz da Casa Branca.
“Se ocorrerem conversações entre os dois líderes nos próximos dias, há espaço para ajustes, isenções parciais ou gestos recíprocos que poderiam evitar uma nova espiral de tensões comerciais“, considera Julien Chaisse, professor da City University de Hong Kong e especialista em Direito Económico Internacional, citado pela Al Jazeera. Mas, ressalva, tudo depende da interpretação que Donald Trump fizer destas medidas.
No entanto, ao contrário do Canadá e do México, com quem o líder da Casa Branca chegou a acordo na segunda-feira para suspender por 30 dias as tarifas que se preparava para aplicar aos países vizinhos, não será tão fácil um acordo entre a China e e EUA.
“É claramente mais difícil para os EUA e a China chegarem a acordo sobre as exigências económicas e políticas de Trump. O anterior otimismo do mercado em relação a um acordo rápido ainda parece incerto”, assinalou Gary Ng, economista sénior da Natixis em Hong Kong, citado pela Reuters.
O economista da Natixis alerta que, mesmo que as duas maiores potências económicas do mundo cheguem a acordo sobre algumas questões, “é possível que as tarifas sejam utilizadas como uma ferramenta recorrente, o que pode ser uma fonte importante de volatilidade do mercado este ano”.
Em resposta às novas tarifas impostas pelos EUA, o Ministério das Finanças chinês anunciou a aplicação de taxas de 15% sobre o carvão e o GNL e de 10% sobre o petróleo, o equipamento agrícola e alguns camiões provenientes dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos representaram apenas 1,7% das importações de petróleo da China no ano passado, no valor de cerca de 6 mil milhões de dólares, enquanto forneceram cerca de 6% das importações de GNL da China.
Empresas do setor de maquinaria agrícola e de construção como a Caterpillar, a Deere & Co. e a AGCO podem ser afetadas pelas taxas chinesas. Mas também a Tesla, detida por Elon Musk, caso o Cybertruck — que, neste momento, ainda aguarda ‘luz verde’ das autoridades de Pequim para iniciar as vendas no país — seja designado como um “camião elétrico”.
Se ocorrerem conversações entre os dois líderes nos próximos dias, há espaço para ajustes, isenções parciais ou gestos recíprocos que poderiam evitar uma nova espiral de tensões comerciais.
Em paralelo, a China também anunciou a abertura de uma investigação à Google por alegada violação das leis antitrust (práticas de monopólio) do país, e adicionou à lista de “entidades não fiáveis” a PVH Corp, holding de marcas como a Calvin Klein e a Tommy Hilfiger, ou a empresa de biotecnologia Illumina.
De acordo com o Ministério do Comércio do gigante asiático, a PVH Corp e a Illumina adotaram o que considera serem “medidas discriminatórias contra as empresas chinesas” e “prejudicaram” os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas. No que toca à Google, os produtos, como o motor de busca, estão bloqueados na China, com as receitas provenientes deste país a representarem cerca de 1% das vendas globais. Ainda assim, trabalha com parceiros chineses, como os anunciantes.
A estas medidas junta-se a imposição de controlos à exportação de alguns metais essenciais para aparelhos de eletrónica, equipamento militar e painéis solares.
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