Tudo o que reluz é ouro. Febre do ouro contagia investidores portugueses

Os máximos da cotação do ouro, que negoceia perto dos 3.000 dólares por onça, têm gerado maior interesse junto dos portugueses, que estão a investir cada vez mais no metal precioso.

Nem tudo o que reluz é ouro, diz o ditado. Mas, no caso dos investimentos no metal amarelo, o que reluz é mesmo ouro. E cada vez mais valioso. Com as cotações sem darem sinais de fadiga, a aproximarem-se vertiginosamente dos 3.000 dólares por onça, a febre do ouro já chegou a Portugal. São cada vez mais portugueses a investir, seja através da compra de ouro físico, seja através de ativos financeiros.

O aumento do preço do ouro tem atraído investidores à procura de ativos de refúgio, impulsionados principalmente pela valorização do metal amarelo e pela crescente incerteza económica global“, explica Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, ao ECO.

O especialista realça que “os investidores portugueses não se têm mostrado indiferentes” à escalada dos preços do ouro e “estão informados, pois o investimento em ouro faz parte da tradição portuguesa, especialmente o ouro físico”. “Além disso, têm demonstrado um crescente interesse no ouro como forma de proteção contra a incerteza económica e a instabilidade nos mercados financeiros”, reforça.

Os investidores portugueses não se têm mostrado indiferentes [à escalada dos preços do ouro] e estão informados, pois o investimento em ouro faz parte da tradição portuguesa, especialmente o ouro físico. Além disso, têm demonstrado um crescente interesse no ouro como forma de proteção contra a incerteza económica e a instabilidade nos mercados financeiros.

Paulo Monteiro Rosa

Economista sénior do Banco Carregosa

No caso do Banco Carregosa, que disponibiliza aos investidores a possibilidade de comprar barras de ouro e investir em fundos e ETF, “a procura de ouro físico tem evoluído favoravelmente”. “Embora seja certo que haja um aumento da procura durante as épocas festivas, como o Natal e a Páscoa, o início deste ano foi particularmente positivo, certamente impulsionado pelos máximos históricos sucessivos do metal amarelo nos mercados internacionais”, explica o economista sénior.

Apesar de reconhecer que os portugueses preferem ter o ouro “em mão”, Paulo Monteiro Rosa diz que, “nos últimos anos, também tem havido um crescente interesse por fundos de investimento, ETF e certificados de ouro, que permitem uma exposição ao metal precioso sem a necessidade de o possuir fisicamente”. “Estes instrumentos são vistos como uma alternativa prática e acessível, oferecendo a possibilidade de diversificação e menores custos de transação, ao mesmo tempo que eliminam as preocupações com o armazenamento físico do ouro”, explica.

Notamos um interesse crescente nos últimos meses, sobretudo através da compra de ETF [exchange traded funds] sobre ouro físico.

Steven Santos

Diretor de plataformas de trading do BiG

O BiG também tem assistido a um aumento da procura por parte dos investidores portugueses neste ativo. Notamos um interesse crescente nos últimos meses, sobretudo através da compra de ETF [exchange traded funds] sobre ouro físico. Nos últimos cinco e 30 dias, o iShares Physical Gold ETC foi mesmo o mais comprado pelos nossos clientes dentro da nossa oferta de ETF“, refere Steven Santos, diretor de plataformas de trading do BiG.

O metal precioso tem registado uma evolução absolutamente estonteante, com os preços a saltarem de máximo em máximo, ao longo dos últimos anos, brindando os investidores com ganhos expressivos. A matéria-prima negoceia atualmente em torno de 2.913 dólares por onça, depois de no arranque da semana ter batido um novo recorde nos 2.956,15 dólares por onça.

A cotação do metal dourado tem beneficiado da procura por ativos de refúgio, num momento em que os investidores continuam preocupados com o ambiente de crescente incerteza, acentuado pelo anúncio de novas taxas aduaneiras por parte da Administração republicana nos Estados Unidos; pelas guerras na Europa e no Médio Oriente; e pelo abrandamento económico na Europa. Estes eventos, associados ao ciclo de descida de taxas de juro, favorecem o investimento em ouro.

É natural que o investimento em ouro continue a crescer, especialmente em períodos de instabilidade geopolítica. Com a persistente incerteza global, muitos investidores tendem a procurar o ouro como refúgio seguro e forma de proteção contra a inflação”, explica o economista do Banco Carregosa.

Paulo Monteiro Rosa alerta, porém, que “embora possa haver uma valorização do ouro por algum tempo, especialmente devido à crescente procura chinesa, os investidores devem estar cientes de que, de acordo com as métricas históricas, o ouro está atualmente sobrevalorizado”.

O ouro tem beneficiado do aumento das tensões geopolíticas num mundo multipolar e da desvalorização do dólar americano, pelo que, a manterem-se ambos os fatores, o ouro poderá continuar a revalidar novos máximos históricos.

Steven Santos

Diretor de plataformas de trading do BiG

“A valorização expressiva do ouro desde o início de 2024 foi motivada pelos bancos centrais, sendo que nos últimos meses começamos a assistir a maior interesse e participação dos investidores de retalho”, justifica Steven Santos.

O diretor do BiG nota ainda que “o ouro tem beneficiado do aumento das tensões geopolíticas num mundo multipolar e da desvalorização do dólar americano, pelo que, a manterem-se ambos os fatores, o ouro poderá continuar a revalidar novos máximos históricos“.

Com os analistas a anteciparem que há potencial para ganhos adicionais, a febre do ouro deverá continuar a atrair mais investidores portugueses. Mas os especialistas avisam que há cuidados a ter. Desde logo, ao contrário do que acontece com as ações, a evolução do metal dourado não está associada aos resultados de uma atividade, nem gera dividendos.

Os investidores “devem considerar que o ouro não gera juros nem dividendos, sendo a sua procura comandada principalmente por motivos geopolíticos ou macroeconómicos como ativo escasso e de refúgio, e não tanto por necessidades de utilização industrial”, sintetiza Steven Santos. Assim, “o ouro pode complementar uma carteira de investimento como diversificador de risco, ao ter baixa correlação com as ações e as obrigações, mas não ser a sua base ou a principal componente”.

O ouro é conhecido por ser um porto seguro em tempos de incerteza económica, mas o seu preço é influenciado por diversos fatores, como taxas de juro, inflação e procura global.

Paulo Monteiro Rosa

Economista sénior do Banco Carregosa

Também Paulo Monteiro Rosa aponta que “o ouro é conhecido por ser um porto seguro em tempos de incerteza económica, mas o seu preço é influenciado por diversos fatores, como taxas de juro, inflação e procura global”.

Por outro lado, para quem escolhe a compra de ouro físico, é preciso considerar “custos adicionais, como armazenamento e seguros associados”, avisa Paulo Monteiro Rosa. Ou seja, para guardar o ouro é preciso alugar um cofre, o que custa dinheiro.

“O ouro é uma opção de proteção e diversificação de carteira, e não necessariamente uma estratégia de rendimento, já que o metal amarelo gera apenas ganhos de capital, o que torna o ouro mais atrativo quando as taxas de juro descem e as moedas oferecem um rendimento menor, tornando-se quase indiferente deter moeda ou ouro nesta perspetiva”, remata o economista.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Tudo o que reluz é ouro. Febre do ouro contagia investidores portugueses

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião