Mais dívida, corte de subsídios e impostos. Como Merz quer pôr a Alemanha na rota do crescimento

  • Joana Abrantes Gomes
  • 15:47

Friedrich Merz quer formar um novo Governo na Alemanha até à Páscoa. Os sociais-democratas e os Verdes são possíveis parceiros de coligação, para fazer o país voltar a ser o motor da economia do euro.

Friedrich Merz vai tornar-se, aos 69 anos, o próximo chanceler da maior economia da Zona Euro, após sair vencedor das eleições legislativas antecipadas deste domingo. Natural do mais populoso dos 16 estados da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestefália, este conservador formado em Direito, mas que desde cedo se tem dedicado à política e com experiência no mundo empresarial, quer formar um Governo que consiga reformar o travão constitucional à dívida do país para o pôr no caminho do crescimento económico.

Até chegar à liderança da União Democrata-Cristã (CDU), a qual conquistou apenas à terceira tentativa, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu em 1989 antes de se dedicar à política nacional como membro do Parlamento federal alemão, cinco anos mais tarde. Chegou a estar afastado da política ativa após 2009, período em que exerceu advocacia e trabalhou no setor privado, na filial alemã da BlackRock.

No entanto, Merz chega agora a primeiro-ministro da Alemanha sem experiência governativa, depois de “herdar” a CDU da ex-chanceler Angela Merkel em 2021, com quem as diferenças ideológicas e estratégicas foram evidentes ao longo do tempo.

Os resultados provisórios já divulgados ditam uma vitória do bloco conservador da União Democrata-Cristã (CDU) e do partido “irmão” União Social-Cristã na Baviera (CSU), que, juntos, conquistaram 208 lugares dos 630 que compõem o Bundestag. Longe da maioria absoluta, Merz vai ter de se coligar com pelo menos mais um partido para conseguir formar Governo.

Mas, diante de um Parlamento mais fragmentado, com o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) a duplicar os resultados das eleições anteriores e a tornar-se a segunda força política, pode tornar-se ainda mais difícil para o próximo quadro governativo inverter o cenário de contração económica dos últimos dois anos para passar a uma taxa de crescimento anual de 2%.

O principal desafio reside no facto de a AfD e o Die Linke (A Esquerda) deterem um total combinado de 216 assentos – mais de um terço do Bundestag –, o que lhes confere a capacidade de vetar quaisquer alterações constitucionais, quando para aumentar o teto da dívida — um passo crucial para financiar o reforço dos investimentos em Defesa e Infraestruturas — é necessária uma maioria de dois terços dos 630 deputados.

“A AfD é contra uma reforma do travão à dívida. O Die Linke é contra um aumento nos gastos com Defesa, embora possa apoiar uma reforma do travão da dívida para aumentar o investimento”, assinala o economista Niklas Garnadt.

Com uma postura mais conservadora socialmente, mas mais favorável às empresas em comparação com Olaf Scholz e mesmo Angela Merkel, o líder da CDU defende a redução das prestações sociais, como do subsídio de desemprego, bem como da burocracia e do número de funcionários públicos. Simultaneamente, apoia cortes nos impostos sobre os rendimentos pessoais e das empresas, o que, a concretizar-se, baixaria as receitas do Estado para criar mais investimento.

Outra preocupação para Friedrich Merz é a relação transatlântica e a revitalização do eixo franco-alemão. A sua prioridade absoluta é “criar unidade na Europa” face às pressões vindas da nova Administração norte-americana e de Moscovo.

“Concordo plenamente com todos aqueles que estão a exigir mais liderança da Alemanha e, francamente, estou disposto a fazê-lo porque estou a ver que a Alemanha está numa posição estratégica no centro da Europa”, disse o próximo chanceler alemão, na Conferência de Segurança de Munique.

Como descreve o Politico, Merz é um “atlantista convicto” que “vê o estatuto da Alemanha como a maior economia da Europa como uma oportunidade para ‘não ser anão’ em comparação com um Trump ‘imprevisível'”.

Não obstante, no primeiro discurso após a vitória, afirmou: “A prioridade absoluta será reforçar a Europa o mais depressa possível, para que, passo a passo, possamos mesmo alcançar a independência face aos Estados Unidos”.

Quanto à China, a posição do líder dos conservadores parece menos flexível em comparação com Olaf Scholz, tendo mesmo reconhecido que a Alemanha tem uma grande dependência do gigante asiático.

Exemplo disso é o peso do mercado chinês nas vendas da Volkswagen, atualmente em situação de crise, com cortes salariais e fecho de fábricas, e sobre a qual Merz já disse estar “fora de questão” o Estado ajudar economicamente.

Além disso, os analistas argumentam que os resultados eleitorais deste domingo não são favoráveis a grandes reformas económicas. “É difícil ver o próximo Governo a ser capaz de entregar muito mais à economia do que um impacto positivo de curta duração de alguns cortes de impostos, pequenas reformas e um pouco mais de investimento”, disse Brzeski, do ING, que considera uma reforma do sistema de pensões “altamente improvável”.

Mas um dos primeiros atos de Merz após a vitória nas eleições de domingo já está a gerar polémica: convidou Benjamin Netanyahu para uma visita à Alemanha, quando o Tribunal Penal Internacional emitiu há meses um mandado de captura contra o primeiro-ministro israelita.

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