Uso de tecnologia na reabilitação de AVC pode trazer vantagens económicas?

Jorge Oliveira está a desenvolver na unidade de investigação HEI-Lab, da Lusófona, uma tecnologia baseada em realidade virtual que ajuda a recuperar de lesões cerebrais, como as deixadas por AVC.

Professor da Universidade Lusófona desenvolveu tecnologia para a recuperação de lesões cerebrais que é já usada no Centro de Reabilitação de Alcoitão e no âmbito de um programa promovido pela junta de freguesia de Benfica. Se esta tecnologia fosse generalizada, traria vantagens económicas para o País, diz o professor. Licenciado em psicologia e doutorado em Neurologia Clínica, Jorge Oliveira está a desenvolver na unidade de investigação HEI-Lab, da Universidade Lusófona, uma tecnologia baseada em realidade virtual que ajuda a recuperar de lesões cerebrais, como as deixadas por Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Esta tecnologia permite criar um ambiente imersivo, que pode ter características de um jogo, e que motivam o utilizador a realizar múltiplas tarefas essenciais à sua recuperação. Pode ser usada em diferentes dispositivos, como o computador, tablet ou óculos de realidade virtual – escolhidos em função do perfil da pessoa ou do contexto de utilização.

Por enquanto a máquina ainda não substitui completamente o homem, mas no futuro, admite Jorge Oliveira em entrevista ao ECO, poderá recorrer-se à Inteligência Artificial para acompanhar o paciente entre as sessões e adaptar a intervenção às suas características e respostas durante as sessões. Esta tecnologia é já usada no Centro de Reabilitação de Alcoitão e pela junta de freguesia de Benfica no âmbito de um programa para os mais idosos. Jorge Ferreira garante que se esta tecnologia fosse generalizada existiam vantagem económicas, sobretudo pelo facto de poder diminuir a sobrecarga dos serviços de saúde.

O ECO falou com Jorge Oliveira na sequência da sua participação na 2.ª reunião científica da secção de reabilitação do AVC, da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação, que se focou no tema “Techno-Stroke Tecnologia na Reabilitação do AVC”. Jorge Oliveira falou precisamente sobre “Realidade Virtual na Reabilitação Cognitiva”

Como é que a tecnologia pode ajudar na recuperação de um AVC?

O AVC pode ter consequências a vários níveis na pessoa. As principais consequências são cognitivas, em funções que envolvem a capacidade de atenção, concentração e memória, mas também em funções como a linguagem e as capacidades motoras. Por essa razão, a recuperação de um AVC é um processo multidisciplinar que envolve vários profissionais de diferentes especialidades. Um tipo de tecnologia que tem vindo a ser estudada nesta área é a realidade virtual, e tem sido investigada na recuperação de um AVC tanto ao nível da reabilitação cognitiva como motora. A grande vantagem desta tecnologia é que permite simular situações que podem ser propiciadoras de uma intervenção para a recuperação destas funções. Uma dessas características é o facto de ser um ambiente imersivo e que pode ter características de jogo que motivam o utilizador a realizar estas tarefas, que na metodologia tradicional, por serem repetitivas e requererem a continuidade da intervenção durante longos períodos, podem ser pouco motivadoras para as pessoas em recuperação. A tecnologia pode ajudar a criar formas de intervenção mais motivadoras, que aumentam a adesão ao tratamento e consequentemente a sua eficácia.

A tecnologia desenvolvida consiste na simulação de atividades da vida diária como ir às compras, arrumar os alimentos no frigorífico e outras atividades quotidianas, porque quando a intervenção cognitiva é realizada no contexto destas atividades diárias, a transferência da aprendizagem do treino para a vida real pode ser mais facilitada e contribuir para o ganho de independência mais efetivo na vida dessa pessoa”

Na Universidade Lusófona desenvolveu uma forma de ajudar os doentes com lesões cerebrais a recuperarem com recurso a realidade virtual. Como funciona?

A tecnologia que estamos a desenvolver na unidade de investigação HEI-Lab da Universidade Lusófona para a recuperação de um AVC tem por base a realidade virtual (RV). A RV pode ajudar porque além das vantagens anteriores, permite simular situações do dia a dia, onde se podem manifestar as alterações cognitivas resultantes de um AVC. A tecnologia desenvolvida consiste na simulação de atividades da vida diária como ir às compras, arrumar os alimentos no frigorífico e outras atividades quotidianas, porque quando a intervenção cognitiva é realizada no contexto destas atividades diárias, a transferência da aprendizagem do treino para a vida real pode ser mais facilitada e contribuir para o ganho de independência mais efetivo na vida dessa pessoa. Esta tecnologia pode ser utilizada em diferentes dispositivos, como o computador, tablet ou óculos de realidade virtual, que podem ser escolhidos em função do perfil da pessoa ou do contexto de utilização. Por exemplo, se pretendemos que a pessoa realize estas atividades em sua casa, talvez seja preferível a utilização de um tablet, mas, por outro lado, se pretendemos criar um ambiente mais imersivo e realista, a utilização dos óculos de realidade virtual será mais indicada.

As máquinas são mais eficazes do que alguns tratamentos que implicam mão humana, por exemplo fisioterapia?

Estas intervenções exigem sempre a intervenção humana, mas o seu grau de envolvimento pode variar consoante os objetivos da intervenção e as características da aplicação utilizada. Será possível, no futuro, a utilização de inteligência artificial para acompanhar o paciente entre as sessões e adaptar a intervenção às suas características e respostas durante estas sessões, criando uma intervenção mais personalizada e autónoma.

A realidade virtual, neste caso, permite reduzir o número de recursos humanos e o número de sessões de terapia de um tratamento?

Nesta fase, ainda não podemos afirmar com exatidão que a necessidade de recursos humanos é menor neste tipo de intervenções, mas podemos dizer que a necessidade de ter estas sessões presencialmente pode ser reduzida. Isto porque o utilizador pode realizar algumas sessões do seu plano em casa, seguindo a prescrição, e durante o intervalo entre sessões, quando não têm acesso ao terapeuta, reduzindo assim o número de sessões presenciais com o terapeuta e no local.

Esta abordagem pode constituir-se como uma vantagem económica se aplicada a nível nacional, porque poderá permitir diminuir a sobrecarga dos serviços de saúde e, por outro lado, melhorar o acesso destes pacientes aos serviços de saúde e às intervenções para a reabilitação cognitiva no AVC”

Há já algum centro público a recorrer a este método?

A tecnologia que estamos a desenvolver, baseada em realidade virtual, tem sido utilizada em vários locais, o que tem sido muito importante para o processo de melhoria constante destas tecnologias. Os contributos que recebemos dos profissionais e pacientes têm sido fundamentais para ajustar as aplicações às necessidades destes tratamentos. No contexto da reabilitação cognitiva no pós-AVC, uma das parcerias mais antigas é com o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, que tem colaborado connosco desde 2010. Numa perspetiva de prevenção de alterações cognitivas, também colaboramos com a Junta de Freguesia de Benfica no âmbito do Programa Memória Ativa Sénior, onde estas pessoas no contexto do envelhecimento realizam atividades de estimulação cognitiva com realidade virtual. Estes dois locais têm sido as colaborações mais ativas nesta área de utilização das tecnologias para a intervenção nas funções cognitivas.

Qual a vantagem económica para o país se este método fosse generalizado a nível nacional?

Tendo em conta as vantagens que temos observado, tanto por parte dos pacientes, que beneficiam de um treino mais motivador e, consequentemente, com maior adesão e eficácia, como por parte dos profissionais, que são recetivos a estas abordagens e as consideram vantajosas, pensamos que a possibilidade de os pacientes realizarem estas intervenções de forma mais autónoma e sob a forma de exercícios prescritos em casa é uma dimensão favorável. Esta abordagem pode constituir-se como uma vantagem económica se aplicada a nível nacional, porque poderá permitir diminuir a sobrecarga dos serviços de saúde e, por outro lado, melhorar o acesso destes pacientes aos serviços de saúde e às intervenções para a reabilitação cognitiva no AVC.

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