
A verdadeira razão para o falhanço das startups
Embora a narrativa dominante seja a de que as startups falham devido à falta de adequação do produto ao mercado, a falta de financiamento ou calendário, os números indicam o contrário.
Enfrentamos atualmente uma crise global de saúde mental, e o mundo das startups não é exceção. Nos últimos anos, crises como a Covid-19 provocaram instabilidade política e económica, e conduziram a um cenário de fundadores esgotados e a lutar mental e emocionalmente.
Os números fazem pensar: dados da Endeavor Brasil detalham que aproximadamente 72% dos empreendedores relatam problemas de saúde mental, uma taxa notavelmente maior do que a da população em geral. No estudo, mais de metade dos fundadores referiram sofrer de insónias, e quase o mesmo número já passou por um esgotamento profissional.
Mais de sete em cada 10 descreveram ter experienciado ansiedade e 61% confessaram já ter considerado deixar a empresa. Por isso, embora a narrativa dominante seja a de que as startups falham devido à falta de adequação do produto ao mercado, a falta de financiamento ou calendário, os números indicam o contrário. A verdadeira razão do fracasso das startups pode ser aquilo a que eu costumo chamar uma “dimensão humana”.
Perguntemos a qualquer investidor de capital de risco ou angel investor: Qual é o fator número um para o sucesso nas primeiras fases? A equipa fundadora, o CEO, dirão. Então, por que a saúde do fundador ainda é tratada como uma preocupação secundária? (…) A saúde do fundador não é uma nota de rodapé. É uma métrica-chave e está na hora de tratá-la como tal.
Burnout, conflito entre cofundadores, desalinhamento, má tomada de decisão. Na realidade, o número é provavelmente ainda maior porque, pelo que vejo, estas questões são muitas vezes mascaradas como “product market fit” ou “falta de dinheiro”. Qual é realmente o problema que geralmente leva a estas falhas? Exaustão emocional, tomada de decisão pouco clara, dinâmicas internas ou de equipa não resolvidas. Diria que provavelmente 65–70% dos fracassos de startups se devem a problemas relacionados com humanos. E, por isso, grande parte desses fatores são, na verdade, evitáveis e geríveis.
Mudemos a lente. Perguntemos a qualquer investidor de capital de risco ou angel investor: Qual é o fator número um para o sucesso nas primeiras fases? A equipa fundadora, o CEO, dirão.
Então, por que a saúde do fundador ainda é tratada como uma preocupação secundária?
A minha declaração para os investidores é: “Se leva a sério o seu investimento, deveria estar a levar igualmente a sério a saúde mental e emocional da pessoa que está a liderar o projeto.”
A saúde do fundador não é uma nota de rodapé. É uma métrica-chave e está na hora de tratá-la como tal.
É claro que o mundo das startups precisa de uma mudança sistémica para uma maior consciencialização sobre saúde mental e emocional, e que o fundador não deve ser o único responsável por isso. Ainda assim, ficam algumas sugestões que podem ser aplicadas de forma imediata:
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Mudar a mentalidade e, com isso, a narrativa
A crença mais perigosa? “Isto só acontece aos outros.” Os fundadores devem reconhecer os seus limites e sua humanidade, e evitar operar como máquinas.
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Entender como o corpo e o cérebro funcionam sob pressão
Os fundadores são atletas de alto desempenho, mas ao contrário dos atletas, a maioria não entende como cuidar de seu sistema nervoso. Está na hora de trazer a educação sobre o sistema nervoso, o entendimento das emoções e as dinâmicas psicológicas internas para cima da mesa.
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Incorporar a regeneração
A recuperação não é opcional. Descanso, movimento, técnicas de respiração e regulação do sistema nervoso são essenciais para o desempenho sustentado. Criar espaços para esses momentos de reset é essencial.
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Ouvir os sinais
Fadiga, ansiedade, insónia, tensão e sintomas crónicos são sinais somáticos fortes, não pequenas irritações.
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Procurar ajuda profissional
Trabalhe com um coach ou terapeuta. Não apenas com o seu cofundador ou parceiro, mas com um profissional neutro e treinado. Use métodos somáticos para processar emoções, não apenas estratégias cognitivas e baseadas em conversas.
Mas os fundadores não são os únicos a poder mudar o rumo das coisas. Também os investidores podem ter um papel relevante: normalizar o coaching e a terapia como parte de gerir um negócio de alto crescimento, oferecer workshops, círculos ou sistemas de apoio para suas empresas investidas, facilitar conversas abertas sobre burnout, regulação emocional e pressão de liderança, e alocar recursos (por exemplo, comprometer 1% do investimento) para iniciativas de saúde do fundador são algumas ideias que podem fazer sentido.
É que o bem-estar do fundador não é uma questão pessoal: é um impulsionador-chave dos negócios. Se quisermos um ecossistema mais forte, todos precisamos de desempenhar um papel – fundadores, investidores e todo o mundo das startups.
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