
Aumentar e otimizar o investimento em renováveis
O sistema precisa de mais investimento em renováveis, mas também precisa de otimizar a integração no sistema elétrico da nova eletricidade produzida.
O crescimento da potência instalada de solar e eólico é simultaneamente necessário e desafiador. Necessário, porque é a única forma de descarbonizar o sistema elétrico e de permitir a eletrificação dos consumos de modo competitivo. Desafiador, porque a sua integração crescente no sistema gera problemas operacionais e financeiros que só podem ser ultrapassados alterando, em simultâneo, o modo tradicional de remuneração da eletricidade produzida e o próprio funcionamento e gestão do sistema elétrico. Se isso não for feito, o investimento em nova potência solar e eólica pode ficar comprometido, pondo em causa a viabilidade do projeto de descarbonização. E se isso for mal feito, pode pôr em causa a sustentabilidade (financeira) do sistema.
Sobre este tema, tem sido dada particular atenção à manutenção das condições financeiras para assegurar o investimento em renováveis. Na recente reforma do regulamento do mercado interno de eletricidade, que entrou em vigor em meados de 2024, o tema dos contratos por diferenças (CFDs) e a possibilidade de criação de garantias públicas para PPAs são entendidos como elementos determinantes na viabilização e aceleração do investimento em nova capacidade renovável, mostrando que o modo tradicional de remuneração em mercado é incompatível com a manutenção de condições que permitam o investimento em nova geração, sendo tanto mais incompatível quanto maior a penetração de renováveis.
O efeito canibalização das renováveis, sobretudo no solar, é bem conhecido: renováveis deprimem o preço da eletricidade no mercado grossista, o que dificulta a manutenção das condições de investimento em nova capacidade renovável. Se apenas atendermos à superação deste problema, assegurando manutenção de condições financeiras para a realização do investimento em renováveis, sem atender às necessidades do sistema, só estaremos a olhar para os interesses de quem produz. Se é certo que o apoio público, através da criação de condições para a realização e generalização de PPAs, pode revelar-se necessário para viabilizar novo investimento em solar e eólico, não é menos verdade que esse apoio, sobretudo se recorrer a CFDs, pode impor custos indesejados ao sistema, os famosos CIEGS.
O sistema precisa de mais investimento em renováveis, mas também precisa de otimizar a integração no sistema elétrico da nova eletricidade produzida. Para que isso aconteça, é preciso mais investimento em renováveis e, simultaneamente, forte investimento em flexibilidade, para que o sistema valorize e acomode a nova potência renovável de forma ótima – condição imprescindível para que o investimento em renováveis se traduza num sistema elétrico competitivo.
O investimento em armazenamento através de baterias e as comunidades de energia (CERs) são duas formas de assegurar essa flexibilidade e essa integração ótima. As baterias valorizam a eletricidade produzida porque permitem ajustar a produção variável às necessidades do sistema. As comunidades de energia permitem a valorização máxima da eletricidade produzida, porque a produção e partilha local de produção, com ou sem armazenamento, permite partilha de investimentos, evita custos de rede para quem consome e evita investimentos futuros em redes. E são ambas formas de transformar o que é visto como um problema das renováveis – a sua variabilidade e a sua fragmentação e dispersão pelo território – como oportunidades e vantagens das renováveis.
As baterias e as CERs obrigam a inovar no modo como produzimos e consumimos eletricidade, sendo ambos formas de otimizar a integração de renováveis no sistema, porque permitem alinhar automaticamente os interesses de quem produz com as necessidades de quem consome, beneficiando todo o sistema. E são, também, catalisadores de inovação, porque não são soluções viáveis sem forte digitalização e sem a utilização crescente de inteligência artificial (IA). Neste campo, e de modo algo paradoxal e contraintuitivo, a UE até pode ter alguma vantagem face aos EUA e à China: tem necessidades imediatas que só serão supridas com recurso a IA e tem modelos de negócio evidentes para a aplicação à escala europeia deste tipo de soluções.
Se é verdade que quantos melhores forem as condições para a realização de PPAs, melhores são as condições para continuar a investir em renováveis, recordemos que, mais do que manter as condições financeiras que permitem investir em renováveis, importa assegurar a sua integração ótima e competitiva no sistema elétrico. Esta integração ótima minimiza custos e maximiza as oportunidades (e a necessidade) de inovação, sobretudo em tudo o que está relacionado com digitalização do sistema. Os esforços na promoção de PPAs, armazenamento, CERs devem avançar em paralelo, porque são a garantia de que temos condições sustentáveis para avançar na eletrificação enquanto via prioritária para a transformação estrutural e competitiva da nossa economia.
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