
Está na hora de reformar Portugal
A um político, pedimos que nos dê esperança, que faça os portugueses confiarem que ainda vale a pena continuar a acreditar.
Os portugueses não falam em uníssono, nem são uma entidade una que exprime opiniões. Votam através da sua individualidade, pelo que na agregação coletiva dos votos, qualquer extrapolação deve ser cuidadosa, porque ninguém, quando depositou o voto, pensou que estava a votar para um panorama, mas para um partido. As maiorias absolutas são acasos da soma e a de 2022 nunca se teria repetido no dia seguinte. Os portugueses não decidiram não dar maioria absoluta a Montenegro, nem decidiram, por exemplo, deliberadamente que queriam o Chega segundo partido.
Compete aos políticos sentir o pulso das populações a cada eleição que passa, porque se uns votos são de convicção, outros são de descontentamento. Se o PS sentiu a ira, se o Chega sentiu esperança, o PSD devia sentir um voto de confiança muito inseguro. Deve agora sentir o peso da responsabilidade que lhe cai sobre os ombros.
Numa altura em que o PS está mais frágil do que nunca, não deve sequer negociar com o governo. Não pode ir para eleições, mas não pode não ser oposição. Deve ser a responsabilidade que garante um governo estável, de quatro anos, que, em 2029, possa pagar eleitoralmente pelos resultados das suas políticas. Se o PS quer existir e defender a democracia, abstenha-se de negociar. A política tem de ter consequências, estas são as da governação Costa, agora vamos ver o que o PSD consegue fazer.
O maior antídoto para o descontentamento, para o populismo ou para o eleitoralismo precoce é uma boa governação. É um conjunto de servidores da causa pública, desinteressados, mas comprometidos. São políticas públicas capazes, pensadas para pôr o país em convergência. O país tem de ser reformável, porque, nesta legislatura, algo maior está em jogo. Está na altura do vai ou racha e se no fim dos quatro anos os eleitores sentirem que estão iguais, o Luís pode ser o Pedro Nuno do PSD.
O caderno de encargos é grande, desafiante e eu condenso o meu em cinco traves: Educação, Segurança Social, Fiscalidade, Justiça e Reforma do Estado e da Administração Pública. Se hoje um governo capaz tem de responder às problemáticas da imigração desregulada, da sensação de insegurança ou de um sistema de saúde em rutura, um governo reformista da direita que não trabalhe nas cinco traves que referi, ainda não viu o filme todo. O problema não é hoje ou o próximo ano, é um sentimento de esquecimento, injustiça e estagnação que um governo à Costa, à base de unicamente atirar dinheiro para os problemas ou governar à vista nada resolve.
Se aqui já muito escrevi sobre educação, hoje posso, a título de exemplo, falar da fiscalidade. Reformar o sistema fiscal passa por fazer literalmente do zero, terraplanar o que existe. Passa por condensar a rede infindável de impostos e taxas diferentes; rever o sistema de incentivos dados à economia, onde estou certo de que uma derrama estadual no IRC não é, de todo, o ideal; aliviar significativamente a carga fiscal que asfixia a classe média já remediada; pôr termo a um IRS que penaliza os que estão menos mal e que se complexifica com deduções e incentivos mil e, podia continuar… Não temos um sistema fiscal, mas uma manta de retalhos montada para tirar dinheiro da economia, sem rei nem roque e, consistentemente, continua sem estudar os impactos que os remendos ad hoc vão provocando.
Se estas eleições significam o fim do bipartidarismo, não estou certo. Por um lado, podemos caminhar para um sistema tripartido, onde o PSD seria charneira. Por outro, pode ser inevitável que PS ou PSD se absorvam, que se tornem redundantes ou pisem os mesmos terrenos. Podemos ficar só com um e não é certo que seja o PSD. Luís, agora, está nas tuas mãos, tanto a responsabilidade de desenhar desígnios para o país, de o fazer voltar a crescer, como de provar que a existência do PSD continua a fazer sentido.
A um político, pedimos visão e ambição, pedimos que nos venda o país que sonha poder deixar-nos. Pedimos que queira ser orgulhoso de um legado e que não nos deixe órfão de ideias ou vontade de reformar ou regenerar o que já vimos que não funciona. A um político, pedimos que nos dê esperança, que faça os portugueses confiarem que ainda vale a pena continuar a acreditar. Este é o jogo dos próximos quatro anos e espero que todos estejam preparados para o jogar.
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