Investidores dançam no fio da navalha ao ritmo dos criptoativos
A crescente aposta nas criptomoedas entre os investidores portugueses, ainda que atrativa, não substitui princípios financeiros sólidos. A literacia financeira é crucial nesta nova era digital.
A forma como os portugueses investem o seu dinheiro parece ser uma espécie de fusão da tradição da poupança do mealheiro com a modernidade das criptomoedas.
Segundo um recente estudo da Blackrock, 43% dos investidores portugueses possuem criptoativos. Sim, leu bem: quase metade! Confesso que, ao ler este número, fiquei tão surpreso como se tivesse descoberto que o pastel de nata era, afinal, uma invenção finlandesa. Como é possível que um país conhecido pela sua baixa taxa de poupança e baixos níveis de literacia financeira (dos menores da Europa) e uma aversão quase genética ao risco, se encontre de repente na “vanguarda” europeia do investimento em criptoativos? Será que descobrimos um atalho para a prosperidade financeira, ou estamos a entrar num jogo perigoso sem sequer conhecer as regras?
A explicação para este fenómeno pode residir numa combinação de fatores: a crescente digitalização das finanças, a procura por alternativas de investimento num contexto de baixas taxas de juro e, sobretudo, a crescente e preocupante “gamificação” do investimento.
O mundo dos criptoativos pode oferecer oportunidades interessantes, mas não deve ser visto como um bilhete de lotaria premiado.
Com a popularização de aplicações de trading fáceis de usar e a promessa sedutora de ganhos rápidos, muitos portugueses, especialmente os mais jovens, parecem estar a desvalorizar a disciplina e a prudência pela emoção do “jogo” dos mercados digitais onde proliferam os mais variados criptoativos.
A forte valorização da bitcoin nos últimos anos tem alimentado esta febre do ouro digital. Histórias de pessoas que ficaram ricas da noite para o dia circulam como lendas urbanas modernas, atraindo investidores inexperientes como mariposas para a luz.
No entanto, esta abordagem ao investimento é tão sustentável quanto tentar construir um castelo na areia da praia: emocionante no momento, mas potencialmente desastroso a longo prazo.
É por isso crucial não perder nem descurar os princípios fundamentais de investimento, independentemente dos ativos financeiros escolhidos. A diversificação do risco continua a ser uma estratégia crucial, assim como a disciplina da poupança e do investimento regular se revelam pilares que sustentam qualquer estratégia financeira sólida. E, acima de tudo, apostar seriamente na educação e na literacia financeira, que se revelam elementos essenciais para navegar neste novo mundo de oportunidades e também de muitos riscos.
É encorajador ver os portugueses a abraçarem novas formas de investimento. Contudo, é fundamental que o façam de forma sustentável e informada.
O mundo dos criptoativos pode oferecer oportunidades interessantes, mas não deve ser visto como um bilhete de lotaria premiado. A verdadeira sabedoria financeira está em encontrar um equilíbrio entre inovação e cautela, entre o entusiasmo do novo e a solidez dos princípios básicos de investimento. Afinal, na crypto como na vida, nem tudo o que reluz é ouro – às vezes, é apenas o brilho temporário de um ecrã de smartphone.
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