Porque voto como voto
Portugal precisa de uma revolução mental. Cada individuo português precisa de ganhar consciência de que é digno de uma larga liberdade e totalmente apto para a independência.
Acredito que, em Portugal, tem havido, desde sempre, Estado e Governo a mais na vida das pessoas. E quero deixar bem claro que isto não é um problema da Democracia, ou sequer causado pelas “esquerdas”.
Escrevia já Eça de Queiroz, nas suas “Cartas Inglesas”, sobre a dependência do Governo: “Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”
Em “Últimas Páginas”, dizia também Eça, sobre os “Governos Apostados em Errar” que “Entre nós tem-se visto governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por frio sistema. Há períodos em que um erro mais ou um erro menos realmente pouco conta. No momento histórico a que chegámos, porém, cada erro, por mais pequeno, é um novo golpe de camartelo friamente atirado ao edifício das instituições; mas ao mesmo tempo tal é a inquietação que todos temos do futuro e do desconhecido que cada acerto, cada bom acerto é uma estaca mais, sólida e duradoura, para esteiar as instituições. Toda a dúvida está em saber se ainda há ou se já não há, em Portugal, um governo capaz de sinceramente se compenetrar desta grande, desta irrecusável verdade.”
Já outro dos mais geniais portugueses de sempre, Fernando Pessoa (que estava longe de ser um apreciador de Eça de Queiroz e o considerava um “jornalista de província”, convém dizer neste contexto) foi, na sua análise, ainda mais fundo, com maior crueza, em “Portugal entre Passado e Futuro”, ao considerar que “a nossa crise política é o sermos governados por uma maioria que não há. A nossa crise moral é que desde 1580 — fim da Renascença em nós e de nós na Renascença — deixou de haver indivíduos em Portugal para haver só portugueses. Por isso mesmo acabaram os portugueses nessa ocasião. Foi então que começou o português à antiga portuguesa, que é mais moderno que o português e é o resultado de estarem interrompidos os portugueses. A nossa crise intelectual é simplesmente o não termos consciência disto.”
Pessoa acrescentaria ainda sobre nós que “refilamos só de palavras. Dizemos mal só às escondidas. E somos invejosos, grosseiros e bárbaros, de nosso verdadeiro feitio, porque tais são as qualidades de toda a criatura que a disciplina moeu, em quem a individualidade se atrofiou.” (” Crónicas da Vida que Passa” in O Jornal, nº5. Lisboa: 8-4-1915)
Esta interrupção na existência de indivíduos em Portugal, esta atrofia da individualidade, permanece.
O meu voto na Iniciativa Liberal é, mais que tudo, um voto filosófico. Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, e tantos outros dos nossos maiores, estão certos.
Portugal precisa de uma revolução mental. Cada individuo português precisa de ganhar consciência de que é digno de uma larga liberdade e totalmente apto para a independência.
Tem de acabar a interrupção da existência dos portugueses. A Iniciativa Liberal é o partido que mais e melhor promove esta revolução mental primacial.
Especialista de Comunicação e docente universitário
Membro da Iniciativa Liberal, Conselheiro Nacional e coordenador do Núcleo Territorial de Alcochete
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