Cinco pontos para distinguir as visões económicas de Clinton e Trump

  • Marta Santos Silva
  • 27 Setembro 2016

Do comércio livre ao impacto que os seus programas teriam no défice, saiba o que distingue as visões económicas dos dois candidatos à Casa Branca.

Hillary Clinton e Donald Trump ainda só estiveram frente a frente uma vez para discutir as suas visões para os Estados Unidos, mas o que se disse durante os 90 minutos de debate acerca de como as propostas dos dois candidatos à Casa Branca se diferenciam e assemelham no que toca à maior economia do mundo?

Enquanto Donald Trump conseguiu não dizer uma palavra sobre as suas propostas para equilibrar o orçamento norte-americano, Hillary Clinton foi enganadora acerca da sua posição relativamente ao comércio livre ao longo dos anos. Nalgumas questões, por exemplo na política fiscal, os candidatos não podiam estar mais afastados, noutras, como no que toca à segurança social, estão mais próximos do que se pensaria.

Comércio livre

  • Hillary Clinton: A candidata tem mudado de perspetiva acerca dos acordos de comércio livre ao longo da sua carreira. O NAFTA foi assinado pelo seu marido, Bill Clinton, durante o seu mandato enquanto presidente dos EUA, e Hillary descreveu o novo acordo que está a ser negociado por Barack Obama, o TPP, ou Parceria Transpacífica, como um tratado muito prometedor no seu livro publicado em 2012. Durante as eleições primárias, porém, Clinton começou a afirmar-se como uma opositora ao TPP, tal como o seu rival de então, Bernie Sanders. A candidata já prometeu rever atentamente as regras de comércio livre, incluindo o NAFTA.
  • Donald Trump: Também Trump, por seu lado, defende afincadamente que acordos como o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) diminuem os empregos disponíveis nos Estados Unidos. O candidato do Partido Republicano propõe que se imponham tarifas de 45% nas importações vindas do México e da China, tendo chegado a sugerir que seriam em parte esses impostos que financiariam a construção de um muro na fronteira do México para impedir a imigração ilegal. A posição de Trump é muito mais radical do que a de Clinton, o que é evidente num relatório do Peterson Institute for Internacional Economics, que concluiu que as propostas de Trump provocariam “uma guerra de comércio internacional que enviariam a economia norte-americana para uma recessão e acabariam com milhões de empregos”. Hillary Clinton já acusou repetidamente Trump de ser simplista na sua perspetiva dos acordos de comércio livre.

Salário mínimo

  • Hillary Clinton: Defende o aumento do salário mínimo para 12 dólares por hora (cerca de 10,66 euros), uma posição que é considerada pouco progressiva por algumas fações do Partido Democrata, incluindo os apoiantes de Bernie Sanders, que defendem um aumento para 15 dólares (cerca de 13,33 euros). Também vários estados, incluindo por exemplo a Califórnia e Seattle, já anunciaram que vão aumentar progressivamente o salário mínimo até aos 15 dólares ao longo dos próximos anos.
  • Donald Trump: Não tem uma política diretamente direcionada para o salário mínimo. O candidato dos republicanos defende que as suas políticas económicas — com base em cortes nos impostos dos mais ricos — iriam dar mais força à economia e diminuir o desemprego, o que, diz, eliminaria a necessidade de um aumento do salário mínimo. Trump acredita também que os vários estados devem ter o direito de definir independentemente o seu salário mínimo.

Segurança Social

  • Hillary Clinton: Ambos os candidatos prometem “salvar a Segurança Social”, mas têm visões diferentes para o fazer. Hillary propõe expandir o programa de forma a recompensar os cuidadores informais, aqueles que cuidam de crianças, idosos ou familiares com deficiência ou doença sem qualquer remuneração por isso, com mais créditos da Segurança Social, e pretende ainda aumentar as quantias recebidas por viuvez. Para pagar esta expansão, Clinton aponta para a sua proposta de aumento de impostos para os mais ricos, sobre a qual falamos abaixo.
  • Donald Trump: Já Trump, mais uma vez, não tem um plano específico, apesar de falar frequentemente em proteger a Segurança Social. Essa proteção seria assegurada pelo resto do projeto económico que Trump defende fortaleceria a economia o suficiente para a Segurança Social se tornar autossustentável — cortes nos impostos dos mais ricos e redução da regulamentação para as empresas. “Enquanto republicanos, opomo-nos a aumentos de impostos e acreditamos no poder dos mercados para criar riqueza e ajudar a assegurar o futuro do nosso sistema de Segurança Social”, lê-se no programa do Partido Republicano.

Política Fiscal

  • Hillary Clinton: Pretende aumentar os impostos para os norte-americanos mais ricos. Aqueles com os rendimentos mais altos estariam sujeitos a um imposto de pelo menos 30%. Clinton defende esta medida afirmando que os mais ricos foram os que mais beneficiaram nos últimos anos, e devem agora pagar “a sua justa parte”. A antiga Secretária de Estado de Barack Obama pretende também implementar medidas para combater os paraísos fiscais e outras estratégias usadas pelos mais ricos para fugir aos impostos norte-americanos. Na semana passada, Clinton propôs ainda a criação de um imposto de 65% sobre as maiores heranças milionárias.
  • Donald Trump: Defende o corte de impostos a todos os escalões, e já afirmou que o seu plano prevê que muitos americanos deixem de pagar impostos completamente. A grande diferença está nos impostos das empresas. O candidato quer cortar o imposto sobre os rendimentos das empresas, que estava em 35%, para 15%. Trump acredita que a liberalização da economia e o corte dos impostos vão fortalecer as dinâmicas de mercado e acabar por enriquecer toda a população.

Impacto no défice

  • Hillary Clinton: A agência de rating Moody’s emitiu um parecer em que concluiu que as propostas de fiscalidade e de despesa de Hillary Clinton teriam um efeito “relativamente modesto” no défice. Um relatório publicado no dia 21 de setembro pelo grupo não partidário Committee for a Responsible Federal Budget, citado pelo Wall Street Journal, concluiu que as propostas de aumento de impostos de Clinton cobririam grande parte do aumento da despesa que a candidata se propõe a levar a cabo caso chegue à presidência, ao longo dos próximos dez anos. Isso deixaria a dívida a 86% do PIB em 2026, uma subida de 9%, que é o mesmo que a estimada pelo Congressional Budget Office se as políticas atuais permanecessem inalteradas durante uma década.
  • Donald Trump: O think tank conservador Tax Foundation anunciou que o plano fiscal de Donald Trump agravaria o défice norte-americano em 5,9 biliões de dólares em 10 anos. O mesmo relatório do Committee for a Responsible Federal Budget alerta para o facto de que as reduções de despesa de Trump não são suficientes para compensar os enormes cortes nos impostos que este propõe fazer, o que provocaria um aumento dramático da dívida norte-americana após 10 anos.

Editado por Paulo Moutinho.

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