Mercados, bancos e outros papões. Como vai ser a Itália que sair do referendo?

  • Marta Santos Silva
  • 3 Dezembro 2016

Um "Não" vai ter mais impacto do que um "Sim", mas a volatilidade vai ser a curto prazo. Mais preocupante é o futuro dos bancos 'zombi' que Renzi deveria salvar.

Quando este domingo se contarem as cruzes no “Sim” e no “Não”, o resultado final vai ter um impacto significativo na economia italiana. Como o ECO já explicou, num referendo que era só mais um passo na vontade reformista do primeiro-ministro Matteo Renzi jogam-se agora a confiança no governo e o futuro europeu de Itália. Que impacto terá o resultado nos mercados? E na banca italiana?

Os mercados podem ficar nervosos, mas vai passar

Os analistas do Barclays assumem um tom pacificador ao falar sobre o impacto do referendo italiano nas taxas de juro das obrigações do país. Embora se preveja alguma volatilidade imediatamente após o referendo — mais positiva se vencer o “Sim” e mais negativa com a vitória do “Não” — “as perspetivas a médio prazo dependem mais” de outros fatores, como a probabilidade de se manter a lei eleitoral aprovada em julho, que asseguraria maior estabilidade aos governos, e os receios de uma vitória do partido populista Movimento Cinco Estrelas na próxima eleição.

A incerteza à volta do referendo já fez subir as taxas de juro da dívida italiana, mas os analistas do Barclays não preveem que a resposta ao plebiscito marque uma viragem drástica com efeitos a médio prazo — já no final da semana, no dia 8, as declarações do Banco Central Europeu devem sossegar os investidores, visto que se espera um tom pacificador.

No Credit Suisse, a perspetiva é semelhante. “Por muito que possa haver volatilidade dos mercados, não vemos consequências de relevância sistémica, mesmo no caso de uma vitória do “Não”,” escrevem os analistas numa nota publicada no princípio de novembro. Anteviam ainda que, embora o “Não” seja um resultado possível, “provavelmente não vai tirar a Itália da Zona Euro, e talvez nem a leve a eleições antecipadas”.

As agências de rating: o maior risco vem da DBRS

A ameaça chegou na quinta-feira: a agência de rating canadiana DBRS, a mais pequena das quatro cuja decisão é significativa para o Banco Central Europeu, considera um “Sim” a melhor resposta possível no referendo italiano, sendo que um “Não” que ganhasse com uma margem larga poderia preocupar. A DBRS tem neste momento a Itália na categoria A-, sendo que uma descida a colocaria na área BBB — ao nível do rating da Moody’s, da Fitch e da Standard & Poor’s.

Os analistas do Barclays consideram, no entanto, que uma descida não ia afetar profundamente as obrigações do governo. Já os bancos podem estar mais em risco se as condições de financiamento definidas pelo Banco Central Europeu se deteriorassem. No entanto, “não consideramos que um “Não” resultasse automaticamente numa redução do rating italiano”, escrevem os analistas.

Os bancos “zombis” são o que mais preocupa

A incerteza e a adversidade dos mercados que se antevê se o governo de Renzi cair pode dificultar o financiamento dos bancos italianos, muitos dos quais estão já em circunstâncias frágeis. A vítima óbvia é o Monte dei Pasci, que falhou o teste de stress do BCE em julho. Mas há mais sete bancos em risco de falir se o resultado do referendo for desfavorável, segundo disseram ao Financial Times fontes oficiais e responsáveis de bancos.

Os bancos em risco incluem alguns de média dimensão, como o Popolare di Vicenza e o Veneto Banca, e também alguns bancos pequenos que foram intervencionados em 2015, como o Banca Etruria e o CariChieti. O problema principal? É o crédito problemático: bancos italianos têm 360 mil milhões de euros em crédito problemático, com apenas 225 mil milhões em capital para enfrentar eventuais perdas.

Outro grande risco é a recapitalização do Monte dei Pasci — uma vitória do “Não”, com a possibilidade de queda do governo de Renzi e da chegada ao poder de partidos populistas, deixa o plano de recapitalização em águas de bacalhau, visto que Renzi deixou parte das prestações para depois da data do referendo.

E a economia?

Os analistas da Capital Economics sublinham que o referendo — e a instabilidade que acarreta — vem numa má altura para a economia italiana. “Pode ser que a economia já se esteja a contrair”, sublinha uma nota divulgada pela empresa de consultadoria económica. “O PIB expandiu-se em apenas 0,3% no primeiro trimestre”, e foi de zero no segundo.

Uma recuperação para 0,3% no terceiro trimestre pode não ser suficiente para salvar a economia italiana, especialmente tendo em conta que “a incerteza política adicional no final do ano pode fazer com que os consumidores e as empresas atrasem as despesas, reduzindo ainda mais a procura”, escreve a Capital Economics.

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