Sonangol muda administração porque quer “agilidade e proatividade”
A petrolífera angolana justificou as mudanças internas. Quer que o "alargamento e especialização da equipa de gestão" traga capacidade de adaptação, agilidade e proatividade na resolução de problemas.
Num comunicado da Sonangol enviado à agência Lusa, a petrolífera angolana justifica as alterações à estrutura da empresa com a necessidade de “estabilização e fortalecimento” que “exige uma alteração da composição do seu conselho de administração e dos respetivos pelouros”. Uma nova estrutura que promova a ” capacidade de adaptação, a agilidade e a proatividade”.
As conclusões foram retiradas após um “diagnóstico realizado à Sonangol e às suas subsidiárias” e tendo em conta o panorama da produção petrolífera do país. “As áreas críticas para o sucesso do processo de transformação da Sonangol estão claramente identificadas e serão atribuídas a administradores totalmente focados e com um profundo conhecimento dos respetivos dossiês. O alargamento da equipa de gestão, e a especialização da mesma, vai permitir um maior envolvimento diário nas operações e uma intervenção mais célere perante os desafios que se apresentam”, refere a petrolífera.
O alargamento da equipa de gestão, e a especialização da mesma, vai permitir um maior envolvimento diário nas operações e uma intervenção mais célere perante os desafios que se apresentam.
“O contexto económico em que operamos é complexo e exigente, pelo que precisamos de reforçar a nossa capacidade de adaptação, a agilidade e a proatividade, através de uma maior divisão de pelouros e, assim, de uma maior capacidade de atuação”, justifica ainda a empresa no mesmo comunicado.
José Eduardo dos Santos exonerou três administradores executivos da Sonangol, decisão que se concretizou no dia em que deixou as funções como primeiro ministro de Angola (26 de setembro). Abandonaram os cargos César Paxi, Jorge de Abreu e Paulino Jerónimo, administrador e presidente da comissão executiva da petrolífera. Com esta mudança, Isabel dos Santos terá mais poder na Sonangol.
A própria Isabel dos Santos publicou no Twitter a nova estrutura.
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Neste contexto, o economista português Emídio Pinheiro, que até novembro passado integrou o conselho de administração da CGD liderado por António Domingos, assumirá agora funções nas áreas que não são o negócio principal da Sonangol, nomeadamente a gestão da Sonangol Holdings e Indústria. Antes de sair para a CGD, Emídio Pinheiro liderou durante 11 anos o Banco Fomento Angola.
São ainda integrados no conselho de administração da Sonangol, conforme outro decreto presidencial assinado pelo ex-Chefe de Estado, Ivan Sá de Almeida, para exercer funções nas áreas relativas à produção e exploração, e a advogada portuguesa Susana Almeida Brandão, para coordenar a área jurídica.
"A empresa estava com os cofres vazios, tínhamos muitas dificuldades e este ano tem sido um ano no fundo de gerir essas dificuldades e devagarinho começar a pensar no futuro.”
A empresária Isabel dos Santos assumiu em junho de 2016 o cargo de presidente do conselho de administração do grupo Sonangol, nomeada para as funções pelo pai, José Eduardo dos Santos, então Chefe de Estado angolano, tendo como missão conduzir a reestruturação da petrolífera, o maior grupo empresarial de Angola. “A empresa estava com os cofres vazios, tínhamos muitas dificuldades e este ano tem sido um ano no fundo de gerir essas dificuldades e devagarinho começar a pensar no futuro”, disse Isabel dos Santos, após a cerimónia de investidura de João Lourenço como Presidente de Angola, sucedendo a 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos.
O ouro negro perde o brilho
As reservas internacionais angolanas renovaram mínimos históricos em agosto, caindo para 15.609 milhões de dólares (13,3 mil milhões de euros), metade do valor contabilizado antes da crise, no início de 2014, indicam dados do Banco Nacional de Angola (BNA). Estas reservas são necessárias nomeadamente para garantir importações de alimentos, maquinaria ou matéria-prima para as indústrias e desde o início do ano já perderam, em valor, desde janeiro, mais de 5.100 milhões de dólares (4.430 milhões de euros). Garantem o equivalente a menos de meio ano de importações de alimentos, bens e equipamentos, tendo em conta as necessidades, numa altura de forte contenção na disponibilização de divisas aos bancos.
A informação resulta de dados preliminares do BNA, a que a Lusa teve esta terça-feira acesso, sobre as Reservas Internacionais Líquidas (RIL), indicando que só entre julho e agosto – período de eleições gerais em Angola – caíram mais de 1.800 milhões de dólares (1.534 milhões de euros). No início de 2014, antes da crise da cotação do petróleo, as reservas angolanas ascendiam a 31.154 milhões de dólares (26,5 mil milhões de euros). A Sonangol tem ainda um nível de endividamento elevado e continua pressionada pelos baixos preços do petróleo nos mercados internacionais. Lucros caírem dos três mil milhões em 2013 para os 400 milhões em 2016.
Angola enfrenta dificuldades financeiras, económicas e cambiais, tendo o BNA aumentado a venda de divisas (euros) à banca comercial angolana, que está sem acesso a dólares face à suspensão das ligações com correspondentes bancários internacionais. Desde agosto de 2016 que o banco central – que atualmente é o único fornecedor de divisas à banca comercial – tem vindo a aumentar a injeção de moeda estrangeira no mercado cambial primário, a um ritmo de cerca de 1.000 milhões de euros por mês. No entanto, desde as eleições gerais de 23 de agosto que essas vendas por parte do BNA caíram fortemente, a um ritmo semanal entre os 50 e os 100 milhões de euros.
A 26 de setembro, no discurso de tomada de posse como novo Presidente da República de Angola, João Lourenço traçou como uma das metas da sua governação o controlo da taxa de inflação, através da aplicação de “regras rígidas” de política cambial e fiscal, com uma “atenção” virada igualmente à banca para garantir a “credibilidade internacional”. As reservas contabilizadas pelo BNA são constituídas com base em disponibilidades e aplicações sobre não residentes, bem como obrigações de curto prazo.
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