Vencedores e vencidos. Um guião para ler os resultados das eleições europeias
O PS venceu as eleições europeias. O PSD teve uma derrota histórica e o Bloco é a terceira força política. Sete leituras que se podem fazer das eleições deste domingo.
O PS venceu as eleições europeias de domingo com 33,38% dos votos e o PSD não terá ido além dos 21,94%, revelam os resultados quando a contagem de votos em todas as freguesias está terminada, faltando apenas nove consulados num total de 100. O Bloco de Esquerda chegou ao terceiro lugar do pódio, o PCP e o CDS perderam e o PAN foi a surpresa da noite ao colocar um eurodeputado pela primeira vez no Parlamento Europeu. Mas afinal o que significa isto tudo?
PS vence e alarga distância face ao PSD
Costa saiu vencedor das eleições europeias, onde obteve vários avanços positivos. Foi o partido com maior percentagem de votos (33,38%) e maior número de eurodeputados sentados em Estrasburgo. Mais: cresceu face ao resultado de 2014 quando teve 31,46% dos votos, ainda não sendo certo a esta hora se aumenta o número de eurodeputados face aos oito de 2014. Além disso, os socialistas conseguiram garantir uma larga distância de segurança face ao PSD, que ficou em segundo lugar, com 21,94%. Conseguiu ainda contrariar uma das ideias comuns na análise política que é a de que, nas europeias, os eleitores penalizam o partido que está no poder. No entanto, é ainda difícil perceber que impacto este resultado poderá ter nas legislativas de 6 de outubro. Principalmente, porque a taxa de abstenção bateu um novo recorde e ninguém sabe ao certo se os eleitores das europeias são os mesmos das legislativas. Contudo, há um número que pode servir de alerta para obrigar o PS a olhar para as legislativas com atenção. É que mesmo com uma política de devolução de rendimentos durante a legislatura, com a economia a crescer e o desemprego a recuar, o PS parece estar longe dos cerca de 1,5 milhões de votos que conseguiu em 1999 e 2004.
PSD teve o pior resultado de sempre
Quando concorreu sozinho nas eleições europeias, o PSD conseguiu sempre um resultado superior a 30%. Nas eleições deste domingo, ficou-se pelos 21,94%, segundo os resultados quase finais. O PSD não só teve um mau resultado, em percentagem, como pode não ter conseguido aumentar o número de eurodeputados — em 2014 elegeu seis. Além disso, uma análise aos dados sobre o número de votos mostra que o PSD perdeu muito apoio desde a última vez que foi sozinho a eleições. Face a 2009, quando PSD e CDS foram separados, os sociais-democratas perderam à volta de 400 mil votos. Rio mantém-se como líder para concorrer às legislativas de outubro, mas esta derrota não deverá facilitar o caminho até lá. Os eleitores penalizaram a estratégia política de Rio, que desde o início teve dificuldades em manter o partido unido à sua volta.
Bloco ganha balanço, PAN surpreende e CDS perde
O Bloco de Esquerda chega ao terceiro lugar, ao conseguir 9,82% dos votos, um aumento face aos 4,56% de 2014. Com esta vitória, e ao contrário do que aconteceu à CDU, o Bloco parece ter saído a ganhar mais do que o PCP com a geringonça — um facto aliás já notado nas eleições autárquicas de 2017. Quanto ao PAN, a surpresa foi total — e apanhou desprevenidos até os próprios responsáveis do partido. O PAN chegou à Assembleia da República em 2015 e quatro anos depois entra no Parlamento Europeu, ao capitalizar para si causas muito atuais, ligadas à ecologia, aos animais e às questões das alterações climáticas. Já o CDS saiu a perder, o que parece indicar que os bons resultados de Assunção Cristas nas autárquicas não tiveram reflexo nas eleições para o Parlamento Europeu.
Esquerda sai reforçada. Direita perde
A noite de domingo foi cheia de recados sobre a divisão esquerda direita no plano político nacional. Tanto PSD como CDS saíram derrotados. Por outro lado, PS e BE reforçaram a sua posição face aos resultados de há cinco anos. Já o PCP foi penalizado, com o resultado a ficar em cerca de metade do que foi conseguido em 2014. Esta conjugação de resultados levou os líderes dos partidos à esquerda a sublinhar a importância do reforço deste bloco em detrimento do bloco da direita, formado por PSD e CDS. Até do Aliança, o partido criado pelo ex-militante do PSD, Pedro Santana Lopes, chegou um aviso: “Talvez agora alguns percebam a importância de uma proposta que fiz de uma convergência de centro direita”, disse Santana. Cristas admitiu que houve uma “polarização” no seu espaço político.
PS na mesma em Lisboa, BE ganha muitos votos
A distribuição dos votos pelo território nacional é um dos indicadores mais finos para que os partidos olham para medir com mais certezas o seu resultado. Um dado curioso é que apesar de ter vencido as eleições, no concelho de Lisboa teve um resultado muito próximo ao de 2014. Um salto muito significativo foi dado pelo Bloco de Esquerda que duplicou a percentagem de votos face a 2014. Os votos nos grandes centros urbanos são decisivos em legislativas — só no distrito de Lisboa estão mais de 2 milhões de eleitores.
Europeias já não servem para penalizar governos
Em oito eleições europeias, quatro foram ganhas pelo partido que está no poder. A última foi este domingo. As restantes três foram em 1999, com Guterres, e em 1987 e 1989 com Cavaco Silva. Apesar de há haver um empate nos cartões vermelhos e verdes dados pelos eleitores aos governos em europeias, o que aconteceu este domingo já não se verificava há 20 anos.
Os mais pequenos: PAN vinga, Aliança, Livre e Iniciativa Liberal ficam pelo caminho
Entre os partidos mais pequenos, só um — o PAN — conseguiu um lugar nas cadeiras do Parlamento Europeu. Os restantes não conseguiram esse feito. No entanto, os projetos podem não ter ficado por aqui. O Aliança, por exemplo, dizia no domingo que ia ver os dados melhor, principalmente, em Lisboa.
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