Taxas de juro abaixo de 0%? Afinal, podem não ser eficazes
Estudo analisou decisões de crédito e investimento. Concluiu que pessoas percepcionam juros negativos dos bancos centrais como "emergência" e a estratégia acaba por ter o efeito contrário ao esperado.
Fazer baixar o custo do dinheiro para o fazer circular e estimular a economia é a arte dos bancos centrais, que foi — na última crise — levada ao extremo com os juros abaixo de 0%. Seis anos depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter atirado a taxa de referência para 0%, levando as taxas de mercado para valores negativos, um novo estudo avisa que, afinal, não é uma estratégia eficaz.
Se na Zona Euro a situação é essa, nos EUA, Reino Unido, Noruega, Austrália, Nova Zelândia, Israel e Canadá os juros são atualmente inferiores a 0,25%, aumentando a probabilidade de os bancos centrais fazerem cortes para contrariar o impacto da pandemia. É essa a expectativa dos mercados monetários para o Banco de Inglaterra, por exemplo, enquanto o homólogo neozelandês já está a trabalhar com a banca para se prepararem para taxas de juro negativos.
No entanto, um novo estudo de economia comportamental concluiu que os juros negativos são ineficientes e poderão até mesmo ser contra-producentes. “Se o objetivo é motivar as pessoas a assumirem mais dívida e a aumentarem o investimento em ativos de risco, então juros a zero são na realidade mais eficazes do que juros negativos“, diz Lior David-Pur, responsável pela agência de gestão da dívida de Israel, à Reuters (acesso livre).
Pur é o co-autor de um estudo publicado no Journal of Behavioral and Experimental Economics, que concluiu que o impacto é maior na tomada de risco e no comportamento financeiro quando a descida nos juros é de 1% para 0%. Essa mudança — que foi a levada a cabo, este ano, pelos bancos centrais dos Estados Unidos e da Austrália — poderá gerar maiores ganhos de acordo com a avaliação às decisões de investimento de 205 estudantes (divididos em quatro grupos) em reação a juros negativos.
O grupo em que os juros caíram abaixo de 1% acabou por diminuir o endividamento em 1,75%, enquanto a procura por empréstimos subiu 20% no grupo em que os juros caíram para 0%. “O número zero em si mesmo tem um significado para as pessoas”, explica David-Pur, à Reuters. O outro co-autor do estudo, Anatoli Annenkov (ex-economista do BCE) clarificou que juros negativos levaram a descidas no endividamento (crédito para investimento) porque esta decisão é sinal “de algum tipo de situação de emergência”.
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