Quanto custa ser campeão na F1? Os milhões atrás de um troféu

  • Jorge Girão
  • 5 Outubro 2020

Para Lewis Hamilton conquistar o 6º título mundial foi necessário um investimento de 364 milhões de euros. Mas a Mercedes só contribuiu com 9% do valor. De onde vem o restante?

A Fórmula 1 é um desporto de números impressionantes — velocidades de cortar a respiração, acelerações e travagens de assustarem os mais intrépidos. Também as finanças das equipas ostentam valores astronómicos, mas apesar das quantias elevadas, o investimento parece fazer todo sentido para a Mercedes.

A categoria máxima do automobilismo é um dos desportos mais exigentes: em pista estão os automóveis mais avançados do mundo, recorrendo a tecnologia a que, em alguns casos, nem a NASA tem acesso.

Nada é deixado ao acaso, sendo todos os componentes que dão corpo aos Fórmula 1 aturadamente testados através de sofisticadas ferramentas de simulação e todos os cenários devidamente antecipados.

As equipas são verdadeiras máquinas, muito bem oleadas, que têm como objetivo encontrar aquele último milésimo de segundo que faz a diferença entre o sucesso e o fracasso.

Mas, evidentemente, tudo tem um custo e a Mercedes, que tem vindo a dominar o panorama dos Grandes Prémios de Fórmula 1 desde 2014, tem mais de mil funcionários — desde pilotos aos responsáveis da limpeza — para colocar dois carros em pista ao longo de uma temporada, que normalmente tem entre vinte e vinte e duas corridas.

"A FOM (Formula One Management) tem vindo a gerar cerca de dois mil milhões de euros anualmente através de contratos com os circuitos que albergam Grandes Prémios, direitos de transmissão televisiva e acordos de patrocínio.”

É uma organização colossal que exigiu o ano passado 364 milhões de euros para que Lewis Hamilton conquistasse o seu sexto título Mundial e a Mercedes assegurasse o seu sexto cetro de construtores.

São valores avultados que pesariam nas contas da maior parte das empresas nacionais, mas para os quais a Mercedes contribui apenas com 32,78 milhões de euros.

Então de que forma a Mercedes está no campeonato anual com mais seguidores a nível mundial, promovendo-se numa plataforma global, contribuído apenas com 9% do orçamento total da equipa, que está sediada em Brackley, Inglaterra?

Para além da contribuição da Daimler – o grupo que integra a marca de Estugarda – a formação dos “Flechas de Prata” tem três fontes de rendimentos: receitas dos direitos comerciais da Fórmula 1, patrocínios e parcerias técnicas.

A maior fatia do orçamento da Mercedes AMG F1 Team advém precisamente das receitas dos direitos comerciais do mais importante campeonato de automobilismo do mundo.

A FOM (Formula One Management) tem vindo a gerar cerca de dois mil milhões de euros anualmente através de contratos com os circuitos que albergam Grandes Prémios, direitos de transmissão televisiva e acordos de patrocínio.

Cerca de metade destes dois mil milhões de euros são distribuídos pelas dez equipas segundo o Acordo da Concórdia — contrato que define os direitos e deveres de todos os stakeholders — recebendo as equipas mais bem-sucedidas e com maior peso histórico quantias superiores às restantes.

Apesar do secretismo do Acordo da Concórdia, é possível estimar que a Mercedes tenha recebido em 2019 150 milhões de euros – a Ferrari terá auferido de 174 milhões de euros graças ao seu peso e histórico e apesar de ter ficado no segundo lugar do Campeonato de Construtores.

A segunda maior parcela dos rendimentos da equipa de Fórmula 1 da Mercedes são os patrocínios que podemos ver nos carros, que ascendem aos 100 milhões de euros. A Petronas — a petrolífera do estado da Malásia e a 158ª maior companhia do mundo, segundo a revista Fortune — contribuiu com quase 65 milhões de euros, mas Puma, Bose, UBS, Tommy Hilfiger, entre outras empresas, pagaram igualmente principescamente para terem o direito de aparecerem nos carros pilotados por Lewis Hamilton e Valtteri Bottas.

A terceira fatia do orçamento da equipa da Mercedes resulta das parcerias técnicas que granjeou nos últimos anos. Na esfera da Fórmula 1, a estrutura que opera em Brackley forneceu e fornece alguns componentes técnicos à Racing Point — uma equipa que usa motores e caixa de velocidades da Mercedes. Mas as parcerias não se ficam por aqui, estando a trabalhar com a INEOS nas equipas de ciclismo — uma das mais importantes da modalidade — e a America’s Cup – a mais relevante do mundo da vela.

Através destas lucrativas colaborações a equipa de Fórmula 1 da Mercedes auferiu em 2019 mais de 70 milhões de euros.

Graças a estas receitas, o grupo Daimler, dona da marca Mercedes e da equipa de Fórmula 1 sediada em Brackley, teve apenas de investir 32,78 milhões de euros para conquistar ambos os títulos em 2019.

Este investimento do conglomerado germânico gerou um retorno estimado de 5,4 mil milhões de euros de AVE (advertising value equivalent – valor de publicidade equivalente), o que ajudou a que a Mercedes se tornasse na oitava marca mais valiosa do mundo…

Não é barato estar na Fórmula 1 e não estará ao alcance de todos os construtores automóveis, mas a Mercedes mostra que poderá ser uma operação rentável e capaz de ajudar a marca, assim como os seus patrocinadores, a conquistar os seus objetivos – vender os seus produtos.

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