Trabalhadores ouviram que TAP tem de “poupar”, mas continuam sem conhecer plano de reestruturação

Dois dias de reuniões entre companhia aérea e representantes trabalhadores focaram-se na situação económica e financeira da empresa e não em medidas de recuperação. Sindicatos e CT esperavam mais.

A situação não é boa — é mesmo bastante má — e é preciso poupar dinheiro“. A mensagem que a Comissão de Trabalhadores (CT) da TAP recebeu da empresa foi clara, mas pouco específica. Nem este grupo nem os sindicatos receberam pormenores sobre o plano de reestruturação nos dois dias de reuniões que tiveram lugar esta quinta e sexta-feiras. Sabe-se apenas que o objetivo é que a companhia aérea regresse a níveis operacionais e financeiros pré-pandemia em 2025. O caminho até lá ainda não é conhecido.

“Não houve ainda nenhuma conversa sobre medidas a nível laboral que possam ser aplicadas. O que houve uma apresentação da situação económica da empresa, em 2019, neste momento e com a projeção até 2025“, conta Cristina Carrilho, coordenadora da CT da TAP, ao ECO. A empresa pediu confidencialidade sobre a informação transmitida, mas a representante dos funcionários sublinha que a situação é de conhecimento público. “A operação da TAP está reduzida a 20% a 30% do que era“.

A TAP e o Boston Consulting Group (BCG) — a consultora que está a desenhar o plano de reestruturação — estiveram nos últimos dias num périplo de encontros com sindicatos e CT para discutir o documento que aponta um caminho de retoma para os próximos cinco anos, sendo o objetivo conseguir nessa altura atingir a recuperação da empresa. O ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, já adiantou que haverá diminuição do número de trabalhadores e adaptação da frota.

Mas os trabalhadores esperavam mais. “Além dos pressupostos e dos cenários macro, urge saber quais as medidas concretas que terão impacto nos tripulantes de cabine. A vida dos tripulantes não se compadece com este impasse”, diz o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), a quem foi também feita uma apresentação centrada “na descrição da atual situação da empresa, assim como do setor da aviação em geral”.

O sindicato que representa o pessoal de voo lembra que o plano tem de ser entregue em Bruxelas a 10 de dezembro (como condição para aprovação do empréstimo de 1,2 mil milhões de euros) e defende que a aproximação do prazo reduz a capacidade negocial, “arrastando e agravando a situação já dramática vivida pelos tripulantes de cabine e comprometendo o futuro da companhia”. Da mesma forma, Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) rejeita “aceitar imposições e factos consumados”.

“Os responsáveis da empresa, e não só, têm debitado na comunicação social que a tal reestruturação se faria em estreito diálogo com os trabalhadores, que é como quem diz com os seus representantes. Mas qual diálogo? Com reuniões como a que ocorreu hoje [quinta-feira]? Sem qualquer representante da Comissão Executiva ou do Conselho de Administração? Não, isto não é diálogo”, sublinhou.

A administração foi representada por Miguel Malaquias (que não integra o conselho, mas é coordenador do plano de reestruturação), enquanto o diretor de Recursos Humanos da TAP, Pedro Ramos, também estava presente. Do lado da BCG estava ainda Carlos Elavai. Mas a ausência de Miguel Frasquilho e Ramiro Sequeira foi sentida por alguns dos sindicatos.

“Por um lado, nenhum membro do Conselho de Administração ou Comissão Executiva da TAP esteve presente, o que o é claramente uma ignomínia (leia-se desonra) perante a situação atual, i.e. não há uma liderança que dê a cara! Por outro lado, foi inacreditável não receber uma única informação sobre o Plano de Reestruturação”, criticam, num comunicado conjunto, uma plataforma de sete sindicatos.

Este grupo — composto pelo Sindicato dos Economistas (SE), Sindicato dos Engenheiros (SERS), Sindicato dos Contabilistas (SICONT), Sindicato das Indústrias Metalúrgica e Afins (SIMA), Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC), Sindicato dos Quadros da Aviação Comercial (SQAC) e pelo Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA) — considera que a ajuda à TAP deveria ter sido feita através de mecanismos temporários de ajudas de Estado por força da pandemia.

Somos o único país europeu a recorrer ao mecanismo de Resgate e Reestruturação, que mais não significa do que uma troika dentro da TAP de seis em seis meses, para verificar o cumprimento de uma «ementa» violentíssima para o país, para o grupo TAP e todos os seus trabalhadores”, aponta. “Como é possível um Governo, tratar assim o seu maior exportador e concomitantemente onerar brutalmente o erário público (recorrendo aos mecanismos temporários não envolveria o OE 2020/2021), quando tinha mecanismos que toda a Europa está a recorrer?”.

Contactada pelo ECO sobre as reuniões, a TAP não respondeu. Os trabalhadores continuam assim à espera de perceber quais medidas que irão ser adotadas para reduzir custos e recuperar a operação. Em todo o caso, a retoma será condicionada pela evolução da pandemia, em especial restrições de viagens e o desenvolvimento da vacina.

“Estamos sempre muito sujeitos a essas condições”, sublinha Cristina Carrilho, acrescentando que a Comissão de Trabalhadores — que tem de dar um parecer ao plano de reestruturação — irá aguardar pelas próximas reuniões (que ainda não têm data) antes de tomar qualquer ação.

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