BRANDS' ECO As relações transatlânticas Europa-EUA e a construção de uma nova parceria estrátegica

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  • 15 Março 2021

No 1º de cinco webinars organizados pela Câmara de Comércio Americana em Portugal,no âmbito das comemorações do 70º aniversário da fundação em Portugal, falou-se sobre as relações transatlânticas. 

No primeiro de cinco webinars organizados pela Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham Portugal), em colaboração com a AmCham EU, no âmbito das comemorações do 70º aniversário da fundação da AmCham em Portugal em 1951, e coincidindo com a presidência de Portugal no Conselho Europeu até junho de 2021, falou-se sobre as relações transatlânticas.

O evento foi presidido por António Martins da Costa, Presidente da AmCham Portugal e moderado por Roger Coelho, Diretor de Política Sénior da AmCham EU. Contou ainda com a participação de Marjorie Chorlins, vice-presidente sénior para os Assuntos Europeus da U.S. Chamber of Commerce, Rupert Schlegelmilch, diretor-geral para o Comércio da Comissão Europeia, Florian Wastl (Mars), vice-presidente do Comité sobre Comércio da AmCham EU e diretor de relações públicas para a Europa da Mars, e Tim Figures, Diretor Associado da Boston Consulting Group.

Durante a sessão, ficou claro que a AmCham pretende participar ativamente no fortalecimento das relações transatlânticas, construindo uma nova parceria estratégica com resultados tangíveis.

Sendo atualmente o foco necessariamente na recuperação económica pós-Covid, a relação da Europa com os Estados Unidos é chave da equação. Na verdade, não há dois blocos económicos e geopolíticos no mundo que tenham sido tão integrados e tenham relações económicas, comerciais e de investimento tão estreitas quanto os Estados Unidos e a UE.

"Um acordo transatlântico será essencial para superar os novos desafios que o mundo enfrenta, agravados pelos efeitos da Covid-19, garantindo um futuro mais saudável e sustentável.”

No entanto, a relação ficou sob alguma tensão nos últimos quatro ou cinco anos, com a Europa a procurar renovar, se não recalibrar, a relação transatlântica. Do Irão ao comércio com a China, os dois lados discordaram muitas vezes e o Ocidente nem sempre esteve todo de acordo. Embora o governo Trump tenha claramente alguma responsabilidade, as tensões começaram a ferver muito antes, com o protecionismo de ambos os lados, com tarifas sobre aço e alumínio e disputas sobre aviões. Sem uma reinicialização sob a administração Biden, os EUA e a Europa correm o risco de se distanciarem.

Um acordo transatlântico será essencial para superar os novos desafios que o mundo enfrenta, agravados pelos efeitos da Covid-19, garantindo um futuro mais saudável e sustentável.

Recentemente, o Presidente Biden esboçou alguma esperança na conferência de Munique, quando disse: “Estou a enviar uma mensagem clara ao mundo: a América está de volta. A aliança transatlântica está de volta. E não estamos a olhar para trás; estamos ansiosos, juntos”. E adiantou: “Tudo se resume a isso: a aliança transatlântica é uma base sólida – a base sólida – sobre a qual a nossa segurança coletiva e a nossa prosperidade compartilhada são construídas. A parceria entre a Europa e os Estados Unidos é, e deve continuar a ser, a pedra angular de tudo o que esperamos realizar no século XXI, tal como o fizemos no século XX”.

Marjorie Chorlins, vice-presidente sénior para os Assuntos Europeus da U.S. Chamber of Commerce, admitiu que o relacionamento é “desafiado e desafiador, mas com potencial”.

Rupert Schlegelmilch, diretor-geral para o Comércio da Comissão Europeia comparou a relação a um paciente que “está a sair do hospital, ansioso pela primavera e cheio de esperança após um período muito difícil”.

Florian Wastl (Mars), vice-presidente do Comité sobre Comércio da AmCham EU e diretor das relações públicas para a Europa da Mars, sublinhou que as coisas não são todas “rosy” e “não devemos esperar que a relação volte a ser como era há quatro anos”, mas admite que há sinais de uma “relação mais colaborativa”.

Tim Figures, Diretor Associado da Boston Consulting Group, enfatizou que é um “relacionamento absolutamente crítico, com uma potencialidade imensa, mas que é muito importante cultivar os rebentos verdes e cimentar o relacionamento especial para benefício da UE e dos EUA ”.

Marjorie Chorlins frisou que as tensões entre os EUA e a Europa têm vindo a crescer há já algum tempo, apesar das negociações da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) que teriam sido, se não tivessem falhado, a maior iniciativa comercial bilateral já negociada, mas estagnada em 2019, depois que a Comissão Europeia ter declarado “obsoletos e não mais relevantes”. “Claramente, isso foi exacerbado por muitas das medidas tomadas pela última administração, que criaram uma dinâmica mais desafiadora do que a que era necessária”, referiu na sessão. Chorlins acrescentou que há esperança, com a nova administração americana, enfatizando a diversidade, a experiência e os relacionamentos, e um aceno para o multilateralismo e um retorno ao palco internacional. “Existe a perspetiva de melhorar as relações. Não acho que não haja desafios, mas há potencial para colaboração.”

Tim Figures avisou que Biden deixou claro que os EUA não voltarão à era comercial de Obama quando ele era vice-presidente, mas sublinhou que há potencial em temas como o clima, a manutenção das regras de ordem internacional e do bom funcionamento da supervisão da OMC sobre o comércio global.

Como é que as empresas olham para o futuro do relacionamento transatlântico? Florian Wastl referiu que os negócios são “realistas” naquilo que podem esperar. “Nenhuma das diferenças que existia nos últimos quatro anos desapareceu. Na verdade, existem novas diferenças em relação a impostos, subsídios e serviços.” E isso sem mencionar a guerra comercial inflamada de dezasseis anos entre a Airbus e a Boeing, que tem afetado o relacionamento transatlântico. Ambas são pioneiras no setor aeroespacial e indústrias-chave para os seus respetivos países, resultando em tratamento tributário favorável e subsídios governamentais. No entanto, os governos já mudaram a sua abordagem para uma mais compatível, como resultado dos procedimentos da OMC. “Uma coisa mudou fundamentalmente, não apenas o tom da nova administração, mas o reconhecimento de que há coisas maiores e mais importantes nas quais os dois lados do atlântico podem trabalhar juntos”, disse durante o webinar.

O outro tema é a China, que é um parceiro comum, mas também um adversário em questões geopolíticas e de direitos humanos. “A China concentrará as mentes, tanto em Washington quanto em Bruxelas, e tornará mais fácil fazer as coisas”, adiantou Florian Wastl. Rupert Schlegelmilch apontou que ainda persistem disputas sobre aço e alumínio, mas que deve ser possível resolvê-las na questão das aeronaves, uma vez que as medidas de compliance foram tomadas e que a verdadeira questão é como lidar com a entrada no mercado do Extremo Oriente e da China. “Em relação ao alumínio e ao aço, a tarifa é baseada na segurança nacional, o que achamos muito difícil de aceitar porque não há ameaça à segurança nacional, e a administração Biden parece concordar com isso”, referiu Rupert Schlegelmilch na sessão.

O embaixador da União Europeia nos Estados Unidos, Stavros Lambrinidis, já instou a administração Biden a suspender as tarifas impostas às importações de aço e alumínio da UE e a trabalhar para resolver a disputa de longa data sobre os subsídios às aeronaves. Lambrinidis disse num evento recentemente organizado pela US Chamber of Commerce, que Bruxelas estava pronta para trabalhar com os Estados Unidos no sentido de fortalecer as relações comerciais transatlânticas e não tinha nenhum desejo de erguer uma “fortaleza à volta da Europa”.

No geral, parece que uma área em que todos os especialistas em comércio concordam é que os dias de um grande acordo ao estilo TTIP acabaram, com Florian Wastl a sugerir que se deve antes esperar pequenos acordos em diferentes setores. Usando o exemplo do contencioso à volta da lagosta, onde a UE concordou em eliminar as tarifas europeias sobre as lagostas em troca de tarifas mais baixas dos EUA sobre uma série de exportações europeias, Wastl lamentou: “os dias do TTIP acabaram e não voltarão”.

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