Fintech365, um programa para a transformação digital

  • ECO
  • 15 Abril 2021

António Ferrão (Portugal Fintech) e André Mestre (Microsoft) explicam ao ECO os objetivos do programa Fintech365. Já há 22 startups escolhidas para trabalharem com as instituições financeiras.

Chama-se Fintech365. A Microsoft criou o primeiro programa para inovação tecnológica no sistema financeiro com a Portugal Fintech e durante três meses, startups de tecnologia financeira vão resolver desafios e propor soluções prontas a implementar em seis instituições: Banco CTT, BBVA, Caixa Geral de Depósitos, Fidelidade, Novo Banco e Unicre.

Em entrevista por escrito ao ECO, António Ferrão, diretor da Fintech Solutions (Portugal Fintech), e André Mestre, Senior Account Executive na Microsoft Portugal, explicam os objetivos do programa que já selecionou 22 startups e entre elas há nove portuguesas: Automaise, Bee Engineering, Docdigitizer, Hapi, Itscredit, Loqr, Prazo.pt, Reflora Initiative e Visor.ai.

O programa está dividido em quatro fases, sendo que a primeira consiste na comunicação dos desafios e alocação das startups à instituição financeira com que vão trabalhar. Na segunda etapa serão definidos os objetivos da prova de conceito, bem como os seus requisitos técnicos e legais, na terceira as startups vão partir para a implementação das suas propostas e, finalmente, numa quarta fase, os projetos serão apresentados numa sessão onde se pretende extrair aprendizagens e definir estratégias de próximos passos.

“O programa quer ser um facilitador entre instituições e startups”

António Ferrão, Portugal FintechD.R.

Qual é o objetivo do programa?

António Ferrão (AF): O objetivo do Fintech 365 é aproximar grandes instituições financeiras e startups fintech através da execução de provas de conceito que respondam a desafios reais das instituições. Este programa foi desenvolvido a partir dos constrangimentos que cada uma das partes identifica neste tipo de colaboração.

Se, por um lado, as startups referem que as instituições não expõem as suas necessidades e não criam canais mais ágeis para interagir com startups, as instituições sentem dificuldades em identificar startups que respondam aos seus desafios concretos.

O programa pretende assim ser um facilitador desta relação, retirando a fricção a uma normal jornada comercial, chegando assim mais facilmente à fase de prova de conceito. O programa está focado em interações diretas, 100% focadas em negócio e orientadas a use cases pré identificados como prioritários para as instituições.

O que é que esperam alcançar no final do programa Fintech365?

AF: O programa trará resultados em várias frentes, mas o objetivo final prende-se com os resultados das provas de conceito. Cada instituição irá avaliar se identificou o parceiro certo e se é possível avançar para um modelo de prestação de serviços ou parceria. Da mesma forma, a startup estará focada em concretizar o negócio e saber se investiu na instituição certa.

Para além do negócio efetuado pretende-se que as startups e instituições retirem boas práticas e aprendizagens sobre a jornada comercial neste contexto e sobre como evitar obstáculos na execução de uma prova de conceito.

O programa definiu cinco desafios para serem explorados pelas startups. Como é que estes desafios se relacionam com tendências de mercado e com a estratégia das instituições?

AF: Os cincos desafios do programa foram trabalhados com as instituições financeiras a partir dos seus próprios planos de inovação e por este motivo, estão intrinsecamente ligados à sua estratégia.

Este é um fator crítico para o sucesso do programa. O facto de estarmos a trabalhar em objetivos de curto e médio prazo permite motivar e mobilizar as equipas internas para se envolverem com o programa e levarem as provas de conceito para a frente.

No que toca ao alinhamento com o mercado identificámos várias pontes com tendências que anteriormente identificadas. Por um lado, os bancos procuram reformular as suas ofertas de crédito e poupança e a forma como o cliente acede às mesmas nos seus canais digitais. Temas como Buy Now Pay Later (pagamento parcelado), planeamento por objetivos de poupança acabam por surgir como resposta ao contexto sócio económico atual.

Por outro lado, identificámos um grande enfoque na proximidade das PMEs. As instituições financeiras querem-se posicionar como um parceiro próximo na retoma económica e querem disponibilizar de forma integrada serviços financeiros e não só aos seus clientes corporativos.

Qual o perfil das startups e scale ups que apareceram neste programa?

AF: As candidaturas do Fintech 365 estiveram abertas a todas as startups que tivessem um produto pronto para responder aos desafios identificados para o programa. Por este motivo, acabámos por receber candidaturas maioritariamente de startups já estabelecidas.

Em termos de candidaturas, um terço das candidaturas vieram de startups em Portugal, com alguma dispersão nacional, destacando Braga. Cerca de 80% das startups estavam em fase de Seed e de Series A, com cerca de 5 anos de maturidade, o que evidencia a maturidade das startups do programa

Em relação às 22 startups, 9 são portuguesas e o Reino Unido e Espanha surgem como as geografias mais presentes. Muitas startups viram este programa para entrar no mercado português e sondar o fit da sua solução.

“Este programa tem excelentes exemplos de processos e casos de uso”

André Mestre, MicrosoftD.R.

O programa reúne concorrentes diretos, tanto ao nível das instituições como das startups. Como é que este tipo de cooperação acelera a digitalização dos serviços financeiros?

André Mestre (AM): Do ponto de vista das instituições financeiras, há sempre uma reserva natural na participação em programas desta natureza, onde estão também presentes alguns concorrentes diretos. Não obstante, o ecossistema financeiro nacional tem tido ao longo das ultimas décadas exemplos de colaboração entre várias destas instituições que tiveram um sucesso que fala por si, casos por exemplo da Unicre ou da SIBS.

Tal como acabou por acontecer com as start-ups da área financeira (fintech), é também do entendimento dos vários participantes que, quando estes espaços de colaboração e inovação são encarados da forma certa, os benefícios que se podem retirar dos mesmos tornam-se evidentes. Com as devidas limitações na partilha de informação e tendo trazido cada instituição desafios muito diferentes, ficou claro para os participantes que esta podia ser uma oportunidade de acelerar a inovação em alguns dos seus processos mas também de absorver experiências dos restantes participantes. E a interação entre todos tem sido exemplar e bastante dinâmica.

Como é que as instituições podem tirar mais proveito das fintech na transformação digital?

AM: Os processos de transformação digital no setor financeiro enfrentam ainda muitos e variados desafios – a situação pandémica veio dar mais prioridade a alguns desses desafios, atrasou outros, trouxe e trará novos.

De qualquer forma, continua a ser muito difícil para as instituições financeiras responder da forma ágil e rápida que certamente pretendem – e não o fazem por vários motivos: processuais, de capacidade e conhecimento, tecnológicos, culturais, entre outros. E creio que é na agilização de resposta a alguns destes desafios que as fintech podem ter um papel fundamental, trazendo, através da utilização de tecnologia, formas de repensar e criar novos processos e modelos de negócio.

Um dos pontos que consideramos fundamental está relacionado com o facto das fintech não estarem à partida limitadas pelo legacy de sistemas e tecnologia que a maior parte dos bancos tem de gerir, pelo que isso lhes permite do ponto de vista de inovação, agilidade e velocidade – sobra o desafio de garantir as integrações necessárias, mas também esse tema está atualmente bem mais simplificado do que o era no passado.

Este programa tem excelentes exemplos de processos e casos de uso que são desafios para as instituições financeiras e para os quais existem diversas startups prontas a responder. Estamos muito entusiasmados para ver os resultados finais das diversas provas de conceito e, mais ainda, em perceber quais podem ter a viabilidade necessária para seguirem o seu caminho de produção e escala.

Os serviços financeiros estão disponíveis para trabalhar com as fintech?

AM: Acreditamos que os tempos em que as instituições financeiras viam as fintech apenas como concorrentes diretos passaram. Naturalmente existem algumas exceções, mas o que vemos atualmente no mercado é uma postura de colaboração e de integração muito positiva.

Há alguns desafios de ambas as partes na operacionalização destas parcerias mas a maturidade das ofertas das fintech é cada vez maior e as próprias instituições financeiras estão cada vez mais bem preparadas para facilitar o ‘onboarding’ destas novas soluções, quer do ponto de vista de negócio quer tecnológico. Existem já diversos casos de sucesso, incluindo a nível nacional, e certamente a tendência será a de vermos este número aumentar.

O programa pretende fechar o gap entre instituições maduras e startups. De que forma é que a Microsoft for Startups e a Portugal Fintech estão a conciliar estes dois universos?

AM: Este programa pretendia fechar esse gap mas também provar que existe uma mais valia significativa para instituições financeiras e startups na adoção de um modelo ágil, usando provas de conceito para testar casos de uso, e executados em formato sprint com horizontes temporais bastante reduzidos.

Durante a fase de ideação do Fintech 365, focámo-nos em criar um programa para o qual cada todos trazem mais valias relevantes. A Microsoft traz um conhecimento extenso do mercado financeiro em Portugal, sobretudo nas áreas tecnológicas, e um programa de incentivos e benefícios muito relevante através do Microsoft for Startups e a Portugal Fintech tem um conhecimento muito alargado de todo o espectro de startups nacionais e também uma rede de contactos alargada com outras comunidades e redes de startups pela Europa fora.

As startups trazem abordagens novas e desafiadoras para os casos de uso propostos, com base na utilização das mais recentes e inovadoras tecnologias; e as instituições financeiras trazem o conhecimento profundo do negócio e dos desafios que enfrentam, têm dentro de casa uma riqueza imensa em dados (que são uma das peças mais relevantes em todos os casos de uso, senão a mais relevante), e têm também uma rede de clientes estabelecida, que confiam nestas instituições e que permitirão certamente no futuro fazer escalar estas soluções.

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