Da britânica à brasileira, até à indiana. Num mês, número de variantes em Portugal subiu de 12 para 16

  • ECO
  • 30 Abril 2021

No espaço de um mês, o INSA passou de 12 variantes do vírus SARS-Cov-2 identificadas em Portugal para 16. Isto significa que o número de variantes da Covid-19 reportadas no país aumentou em 33,3%.

São várias as variantes que estiveram ou estão a circular em Portugal ao longo do último ano e há cada vez mais casos notificados. No espaço um mês, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) passou de 12 variantes identificadas em Portugal para 16, o que representa um aumento de 33% do número de variantes detetadas no país.

O surgimento das novas variantes preocupam os governos e instituições de saúde mundiais já que estas podem “fintar” as medidas de saúde públicas que estão a ser implementadas, como a vacinação, os tratamentos estabelecidos para tratar a Covid-19, o rastreio ou até ser mais transmissíveis e causarem uma doença mais grave. Há cada vez mais mutações do vírus SARS-CoV-2 a serem identificadas em todo o mundo e Portugal não é exceção.

Se no relatório divulgado a 3 de março, o INSA tinha identificado 12 variantes em Portugal, sendo que 3,8% dos casos eram categorizados como “outras variantes”, a 2 abril o balanço aumentava para 16, sendo que em 1,1% dos casos eram categorizados como “outras variantes”. Contas feitas, no espaço de um mês, o número de variantes da Covid-19 reportadas no país aumentou em 33,3%. Mas, afinal, quais são as variantes que mais preocupam as autoridades de saúde?

Variante britânica responsável pela maioria dos casos

No primeiro relatório mencionado e referente ao mês anterior, era já a variante britânica (N501Y.V1 – linhagem B.1.1.7) que mais preocupava as autoridades de saúde nacionais. Detetada pela primeira vez em setembro, no Reino Unido, esta variante espalhou-se rapidamente por todo o mundo e representava quase 60% (58,2%) das amostras analisadas pelo INSA em fevereiro. Estes dados mostravam um “incremento relativamente à frequência de 16% observada em janeiro”, notava o relatório.

Cerca de um mês depois, no relatório de 2 abril, o INSA destacava que esta variante, associada ao Reino Unido, representava já 82,9% das amostras analisadas pelo instituto em março, continuando uma “trajetória ascendente” e “sendo a variante responsável pela grande maioria dos casos de Covid-19” detetados no país. E esta tendência crescente ficou também clara na última reunião do Infarmed, com o investigador João Paulo Gomes, a estimar que a percentagem da prevalência nos casos identificados deve rondar os 89%-90%. Esta variante é a mais transmissível, mas a “letalidade em Portugal está em níveis baixos”, explicou.

Outra das variantes que tem concentrado as atenções dos especialistas é a variante brasileira (501Y.V3), especificamente associada a Manaus (Amazónia), que, em fevereiro, representava 0,4% das amostras colhidas pelo INSA. Em Portugal, circulavam já nessa altura as variantes brasileiras de linhagem P.1 e P.2 , sendo que esta última tem maior resistência aos anticorpos do que o vírus original – o que dificulta a criação de imunidade.

E se a presença da variante brasileira da linhagem P.1. era ainda “muito limitada” no último relatório do INSA, já que o documento apenas dava conta de 22 casos identificados em Portugal (quatro dos quais detetados na amostragem de março), o que mantinha a sua frequência no país (0,4%), esta linhagem poderá estar a ganhar força em Portugal, já que na na reunião do Infarmed João Paulo Gomes disse que já foram identificados 73 casos no país, dos quais 44 nos últimos 15 dias.

Por outro lado, no que concerne à linhagem P.2. a sua frequência em Portugal revelou um decréscimo no último relatório do INSA, tendo apenas sido identificado um casos no mês passado desta variante em 1.904 sequenciações do vírus.

Quanto à variante da África do Sul (N501Y.V2 + E484K – linhagem B.1.351) em fevereiro, a sua presença era ainda limitada, tendo sido encontrados cinco casos até essa altura, o que representa uma frequência de 0,1%. Em contrapartida, um mês depois o balanço aumentava para 49 casos detetados, dos quais 27 identificados na amostragem de março. Neste contexto, a frequência relativa em março era já de 2,5% “o que evidencia um aumento considerável em relação à amostragem de fevereiro”, notava o relatório.

E tal como acontece com a variante brasileira, a tendência é de crescimento. “Portugal está com um total de 64 casos, 11 dos quais [detetados] nas últimas duas semanas”, afirmou o João Paulo Gomes, durante a última reunião de peritos, reforçando que este número está longe dos valores registados em países como a Alemanha, Bélgica ou Reino Unido, “reflexo da abertura de fronteiras em toda a Europa”. Relativamente a esta variante, o grande aumento deu-se de fevereiro para março: “É cedo para estimativas mas número em abril é capaz de rondar os 2%”, notou.

Um estudo divulgado na quarta-feira pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC na sigla em inglês) e em colaboração com sete países, incluindo Portugal revelou que estas variantes aumentam o risco de hospitalizações e ingresso em unidades de cuidados intensivos. Assim, este estudo aponta que, quando comparado com o vírus original, as infeções originadas pela variante britânica aumentam o risco de hospitalização em 1,7 vezes, enquanto na variante da África do Sul o risco é 3,6 vezes superior, e 2,6 vezes no caso da variante brasileira com linhagem P.1.

Quanto ao risco de ingressar em unidades de cuidados intensivos, é 2,3 vezes maior no caso de infeções com a variante britânica, 3,3 vezes superior na variante sul-africana e 2,2 vezes superior na linhagem P.1. da variante brasileira.

Há já seis casos da variante indiana em Portugal

Mais recentemente foi detetada uma nova variante, categorizada como B.1.617 e associada à Índia. Apesar de ainda estar sob investigação, sabe-se que é constituída por duas mutações: a E484Q e a L452R. Contudo, nenhuma delas é completamente desconhecida dos especialistas: a primeira, mais comum, é semelhante a uma mutação verificada nas variantes de Manaus e da África do Sul, ao passo que a segunda já foi observada na variante da Califórnia.

Esta variante está a levantar algumas preocupações, porque parece ser mais contagiosa que as já identificadas, o que poderá fazer com que escape à resposta imunológica das vacinas e poderá explicar o crescimento explosivo de novos casos na Índia. Em Portugal, a B.1.617 ainda não tinha sido mencionada em nenhum os relatórios mensais do INSA, no entanto, na última reunião do Infarmed ficou a saber-se que já foi identificada no país. Atualmente, foram identificados seis casos associados à variante indiana em Portugal, “todos em Lisboa e Vale do Tejo“, disse João Paulo Gomes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, esta variante foi detetada em mais de 1.200 sequências de genoma em “pelo menos 17 países”. A maior parte destas amostras “vem da Índia, Reino Unido, Estados Unidos e Singapura”. Além de Portugal, nos últimos dias, a estirpe também foi detetada na Bélgica, Suíça, Grécia e Itália.

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