BRANDS' ECO Indústria de moda portuguesa prepara-se para o futuro
A conferência “A indústria da moda em 2021/2022: o que esperar!”, promovida pelo CENIT e a ANIVEC, apontou a sustentabilidade e a digitalização como oportunidades para a internacionalização do sector
A indústria portuguesa de moda pode usufruir da aceleração de algumas tendências no pós-pandemia para expandir a sua influência internacional, incluindo a consciencialização dos consumidores para a sustentabilidade e a busca por um sourcing de proximidade por parte de marcas e retalhistas.
As conclusões foram apontadas por especialistas internacionais durante a conferência digital “A indústria da moda em 2021/2022: o que esperar!”, que faz parte de um ciclo de eventos promovidos pelo CENIT – Centro de Inteligência Têxtil e pela ANIVEC – Associação Nacional das Indústrias de Vestuário, Confecção e Moda, no âmbito do projeto conjunto de internacionalização 100%MODAPORTUGAL, que incluiu ainda dois webinars sobre as oportunidades de internacionalização nos mercados do Reino Unido e da Dinamarca.
McKinsey & Company
A consultora, representada pelo partner Antonio Gonzalo, apresentou 10 tendências em aceleração que irão marcar a indústria da moda internacional, onde se destacam a digitalização e o aprofundamento das relações entre os diversos atores da cadeia de aprovisionamento, de forma a evitar as interrupções no sourcing que aconteceram durante o ano passado.
Depois da queda das vendas de moda entre 15% e 30% em todo o mundo em 2020 em comparação com 2019, para 2021 a McKinsey & Company aponta para uma redução das vendas de 15% a 20%.
Por isso, as empresas deverão apostar em quatro medidas para otimizar as suas oportunidades: captar novos clientes, procurar a excelência no digital, rever o mix de produtos, alterando-o de acordo com as preferências do consumidor, e otimizar a estrutura de custos.
“Vai demorar mais tempo do que previmos inicialmente para a recuperação e estes são os quatro elementos em que acreditamos que, independentemente do cenário, é preciso trabalhar”, afirmou Antonio Gonzalo.
Institut Français de la Mode (IFM)
De acordo com os vários estudos e análises da organização francesa, Portugal poderá beneficiar da procura por um sourcing de proximidade e pela diversificação de mercados.
“Pensamos que vai haver mais deslocalização para países do Mediterrâneo e mais deslocalização para a UE. A boa notícia é que Portugal é considerado atrativo”, disse Dominique Jacomet, conselheiro sénior do IFM.
“O made in Europe está de volta para alguns nichos no vestuário, temos marcas de vestuário baseadas no made in e na sustentabilidade e também nos têxteis temos novas instalações para a fiação de linho e para tecelagem, por exemplo”, apontou.
Boston Consulting Group (BCG)
A aceleração do digital, a mudança do papel das lojas, que deverão ser em menor número, mas ganhar mais importância, a procura por produtos de moda mais casuais em detrimento do vestuário formal, a mudança nos valores e estilos de vida e o aumento das expectativas dos consumidores são as cinco grandes tendências antecipadas pelo BCG para o mercado mundial de moda.
O consumidor deverá, por isso, estar no centro da estratégia dos players da indústria da moda, com os dados recolhidos nas diferentes vertentes do negócio a serem fundamentais para melhor os conhecer.
“É importante ligarmo-nos aos consumidores: eles vão ter mais escolha do que nunca”, sublinhou Joan Sol, diretor-geral e partner do Boston Consulting Group (BCG) na região ibérica.
Indústria portuguesa atenta
A mesa redonda que se seguiu às intervenções dos especialistas internacionais, mostrou que os empresários portugueses estão atentos e a preparar-se para o futuro.
“A pandemia deverá trazer uma diminuição da fast fashion e a necessidade de produzir mais perto por questões sustentáveis, porque o transporte não deixa de ter uma pegada ecológica” – José Costa, administrador da Becri
“Todos nós devemos fazer uma reflexão e aprender com esta pandemia. O que é que queremos para a nossa indústria têxtil e de vestuário do futuro? Portugal tem que ser um ponto fundamental no desenvolvimento da moda na Europa” – César Araújo, administrador da Calvelex
“A empresa foi investindo em investigação e desenvolvimento e em projetos de reciclagem no sentido de dar resposta à necessidade do mercado de se aproximar de produtos mais sustentáveis, mais reciclados e mais amigos do ambiente” – Daniela Xavier, diretora-geral da Fermir
“Nos últimos 10 anos comecei a ver a necessidade de ter uma verticalização, porque ninguém quer stocks, portanto, temos que ser muito versáteis e muito rápidos e, para isso, a verticalização é o caminho ideal” – Luís Guimarães, presidente da Polopiqué
“Temos um departamento de automatismos que é brilhante, em que um operador, uma pessoa mais jovem, se pode sentir mais seduzida para passar oito horas de trabalho, da mesma forma que o faz na indústria automóvel. As nossas salas de corte são hoje uma sofisticação suprema” – Mico Mineiro, administrador da Twintex
Na declaração de encerramento da conferência, Pedro Siza Vieira, Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, afirmou estar confiante na capacidade da indústria portuguesa olhar para o futuro e adaptar-se à mudança em curso. “Mas não tenhamos dúvidas: ela vai exigir muito esforço, muita dedicação, muito empenho, criatividade e também o adequado suporte das políticas públicas, para que este percurso possa decorrer de forma adequada, sem perdermos competitividade, mantendo o posicionamento da nossa indústria como um dos melhores e maiores produtores de têxtil e de vestuário na Europa”.
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