Morreu o ex-Presidente Jorge Sampaio

  • ECO
  • 10 Setembro 2021

Opositor da ditadura e figura destacada dos primeiros 30 anos da democracia, Jorge Sampaio não resistiu ao agravamento dos problemas respiratórios. Tinha 81 anos.

O antigo Presidente da República faleceu esta sexta-feira no Hospital de Santa Cruz em Lisboa, onde estava internado desde o dia 27 de agosto, devido a dificuldades respiratórias. Jorge Sampaio padecia, há muitos anos, de problemas cardíacos, que obrigaram a várias intervenções cirúrgicas.

Jorge Fernando Branco de Sampaio nasceu em Lisboa a 18 de setembro de 1939, numa família da burguesia da capital. O pai, Arnaldo Sampaio, vimaranense, era médico e especializou-se em Saúde Pública. A mãe, Fernanda Bensaúde Franco, lisboeta de ascendência judaica, educada em Inglaterra, dava aulas particulares de inglês.

Opositor do Estado Novo, a veia política de Jorge Sampaio manifestou-se primeiro enquanto figura central na Crise Académica de 1962, já depois de concluir o curso de Direito na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa. Participou e foi fundador de movimentos da esquerda radical, como o Movimento Ação Revolucionário ou o Movimento de Esquerda Socialista, já depois do 25 de abril, de que cedo se afastou.

Nos primeiros anos da revolução desempenhou um importante papel no diálogo com a ala moderada do MFA, sendo nomeado em março de 1975 Secretário de Estado da Cooperação Externa do IV Governo Provisório.

Como advogado, distinguiu-se na defesa de presos políticos no Tribunal Plenário de Lisboa, mas acabaria por se especializar em propriedade industrial. Foi fundador, na década de 70, da sociedade Jardim, Sampaio, Caldas & Associados.

Seduzido por comunistas e socialistas, acabaria por se filiar no PS, em 1978, sendo eleito deputado à Assembleia da República logo no ano seguinte e reeleito em 1980, 1985, 1987 e 1991, presidindo durante dois anos ao grupo parlamentar.

Foi secretário-geral dos socialistas entre 1989 e 1992, sucedendo a Vítor Constâncio. Nesse mesmo ano decide candidatar-se à Câmara Municipal de Lisboa, firmando uma aliança inédita com o PCP. A coligação “Por Lisboa” venceu o candidato da direita, Marcelo Rebelo de Sousa. É reeleito em 1993, mas não termina o mandato.

Em 1996, candidata-se à Presidência da República e vence Cavaco Silva à primeira volta, sucedendo a Mário Soares. É reeleito em 2001. Durante os seus mandatos encerrou o processo de descolonização, com a transição de Macau para a China e a independência de Timor Leste. Terminou o segundo mandato em 2006, passando a integrar o Conselho de Estado.

Depois de deixar Belém foi designado Enviado Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose e, em abril de 2007, nomeado como Alto Representante para a Aliança das Civilizações. O seu último grande projeto foi o lançamento, em 2013, da Plataforma Global para Estudantes Sírios, a que presidia.

Recebeu várias condecorações oficiais de diferentes países. Em Portugal foi-lhe atribuído o Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, da Ordem da Liberdade e de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Brasil, Espanha, Japão, Luxemburgo, Marrocos, Noruega, França, Países Baixos e Reino Unido também lhe atribuíram condecorações.

Recebeu ainda vários prémios internacionais, com destaque para o prémio Nelson Mandela, atribuído pelas Nações Unidas em 2015, na primeira edição do galardão.

Era casado com Maria José Ritta, com quem teve dois filhos, Vera e André.

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