Diretora do FMI acusada de suavizar relatório sobre Brasil
Na avaliação anual do FMI, a liderança da instituição terá removido um alerta sobre riscos climáticos contestado pelo Governo de Jair Bolsonaro.
Funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), incluindo a diretora Kristalina Georgieva — que adotou as alterações climáticas como bandeira –, suavizaram um alerta sobre esses riscos para a economia do Brasil, após o Governo se opor à linguagem utilizada. De acordo com a Bloomberg, a decisão, ocorrida no final de julho, envolveu a principal avaliação anual do FMI, conhecida como consulta do Artigo IV.
Os diretores inicialmente deram o selo de aprovação ao relatório da equipa em 30 de julho, para revogá-lo horas depois e, posteriormente, remover a formulação contestada pelo Governo de Jair Bolsonaro, segundo confirmaram funcionários do FMI quando questionados sobre o assunto.
O FMI informou que a decisão de mudar a linguagem do documento faz parte do processo normal pelo qual os relatórios de qualquer um dos 190 países-membros do Fundo passam, com avanços e recuos entre o corpo técnico, os seus diretores e funcionários do país que está a ser avaliado. No entanto, é raro a administração revogar a aprovação de um relatório e remover a frase à qual um país faz objeções, de acordo com vários funcionários do Fundo que trabalharam em avaliações do Artigo IV.
Uma comparação entre o rascunho e as versões finais mostra que cerca de 60 palavras foram eliminadas, detalhou a Bloomberg. A administração tomou a decisão depois que Kristalina Georgieva se reuniu com o representante do Brasil no conselho do Fundo, Afonso Bevilaqua, que se queixou várias vezes de que a avaliação do FMI não deveria incluir a política climática do país.
“O FMI considera as mudanças climáticas uma questão económica globalmente crítica e deixou isso bem claro em relação ao Brasil no relatório do corpo técnico”, disse o porta-voz do FMI, Gerry Rice, numa resposta por escrito a perguntas da Bloomberg. A decisão da administração do FMI de suavizar a linguagem climática do Brasil surpreendeu alguns funcionários, visto que Kristalina Georgieva defendeu que o FMI desempenhasse um papel de liderança no combate às alterações climáticas desde que assumiu o comando em 2019.
Além disso, os membros do conselho do FMI divulgaram uma declaração em maio na qual afirmavam que “geralmente concordaram que a cobertura da mitigação da mudança climática nas consultas do Artigo IV seria fortemente encorajada para os maiores emissores de gases de efeito estufa”, e que o tópico deve ser coberto em locais onde seja “macrocrítico”.
O Brasil é o maior emissor do hemisfério ocidental fora dos Estados Unidos, de acordo com o World Resources Institute. Jair Bolsonaro, que assumiu a Presidência no início de 2019, questiona a existência de alterações climáticas e o seu Governo é duramente criticado por desmantelar órgãos de proteção ambiental. Contudo, nos últimos meses, o executivo tem tentado melhorar a sua imagem.
O relatório do FMI diz que o Governo brasileiro está “empreendendo várias iniciativas” para responder aos riscos relacionados ao clima, “incluindo o fortalecimento dos incentivos para atividades de conservação lideradas pelo setor privado na agricultura, promovendo o desenvolvimento de mercados de títulos públicos e corporativos verdes e melhorando a integração do meio ambiente”.
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