A longevidade como um ativo financeiro
Vivemos na era da "demografia disruptiva", porque vem alterar muitos dos paradigmas, se não todos, relacionados com a idade e com a forma como se desenvolve a população mundial.
Vivemos de facto na era da demografia disruptiva, como refere Joseph Coughlin do MIT Age-Lab. Disruptiva porque vem alterar muitos dos paradigmas, se não todos, relacionados com a idade e com a forma como se desenvolve a população mundial.
Tal como se vê na imagem abaixo, do Global Age Watch Index, o envelhecimento da população é um fenómeno mundial, fruto do aumento da esperança média de vida e cujo impacto na sociedade é reforçado pela fraca renovação das gerações, dada a quebra do crescimento da natalidade.
Este fenómeno populacional global leva a que a longevidade seja cada vez mais um fator crítico de sustentabilidade das pessoas, das sociedades e por consequente, das economias. Ora, o outro lado desta moeda é que torna a longevidade um ativo financeiro, algo que tem de ser gerido, pode ser medido, quantificado e valorizado. Esta é a razão pela qual se fala em Economia da Longevidade.
Segundo o relatório Longevity Industry Landscape Overview 2019, da Aging Analitics Agency, a Economia da Longevidade representou um total de 17 biliões de dólares norte-americanos e se o seu crescimento continuar estável (ou seja, se continuar a ser o foco de crescimento dos países que hoje tem uma estratégia nacional para o seu desenvolvimento) em 2026 irá representar um total de 27 biliões de dólares norte-americanos, o que poderá representar a módica quantia de 20% do PIB global.
As indústrias que são mais tradicionalmente afetadas (leia-se com maior potencial de crescimento) pela longevidade são a da saúde (lato senso), tecnologia e robótica (que é transversal a todas as outras), alimentação e turismo.
Contudo, outras como a dos produtos financeiros (investimentos e seguros) irá sofrer uma revolução com a necessidade de olhar para as pessoas não tanto com base na idade, mas com base na qualidade da sua longevidade e no seu estádio de vida.
Este é o pequeno exemplo na banca, mas teremos o mesmo no ramo da construção civil e imobiliária, com o investimento dos privados em obras para adaptar as casas tornando-as assim preparadas para o chamado “Ageing in Place”, por um lado. Por outro, cresce o investimento em soluções imobiliárias na área dos conceitos habitacionais seniores e intergeracionais.
"A sustentabilidade das economias passa invariavelmente pela capacidade de dar condições às pessoas de envelhecer de forma saudável. Só assim poderão continuar a contribuir para a economia como será necessário e como desejam.”
Mas voltemos à longevidade. O desenvolvimento de métricas para avaliar a capacidade das pessoas em gerirem a sua própria longevidade, de forma positiva e sustentada, bem como para medir a capacidade dos países em promover o envelhecimento sustentado (ex. Active Age Index) constituem prova da crescente e contínua valorização da longevidade como um bem.
É importante ter em mente que o primeiro impacto da demografia disruptiva foi negativo, porque facilmente se percebeu que a má gestão da longevidade leva, por diversos fatores, a um aumento da procura do serviço nacional de saúde, a uma sobrecarga do sistema nacional de pensões, com um excesso de pessoas na faz não produtiva da vida, por comparação com aqueles que se encontram na idade ativa.
A sustentabilidade das economias passa invariavelmente pela capacidade de dar condições às pessoas de envelhecer de forma saudável. Só assim poderão continuar a contribuir para a economia como será necessário e como desejam.
Obviamente este é um tema muito complexo, no entanto, neste breve artigo, não posso deixar de referir a solução encontrada por um dos países que mais sofre com duas megatendências globais – desenvolvimento tecnológico e envelhecimento da população – como é o caso do Japão.
O conceito de Sociedade 5.0 e a sua conversão em estratégia de desenvolvimento socioeconómico nacional tem como base o impacto do desenvolvimento tecnológico (Ind. 4.0) que se soma ao impacto do envelhecimento da população. Aquilo que poderia colocar em causa a sustentabilidade da sociedade é convertido uma via de crescimento e esta via está baseada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentado da ONU.
Foi desta forma que o Japão encontrou na longevidade um fator crítico do seu crescimento. Outros países precederam o Japão, como é o caso da Irlanda, considerada em 2019 como o primeiro país Age Friendly do mundo, segundo a OMS, ou mesmo a Austrália, Países Nórdicos e Reino Unido.
Quanto a Portugal, já temos uma estratégia nacional para o envelhecimento ativo e saudável, mas isso é muito pouco. Mesmo! Um país que está no topo dos países mais envelhecidos do mundo, com o potencial que tem devido ao seu posicionamento geoeconómico, já deveria ter uma estratégia nacional para o desenvolvimento da Economia da Longevidade.
Texto de Ana Sepúlveda, Managing Partner da 40+ Lab
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