Quais os seguros que dão mais lucros às companhias
As seguradoras continuam a sustentar os prejuízos dos acidentes de trabalho, mas ganham dinheiro nos ramos saúde, multiriscos habitação e em alguns componentes do seguro automóvel. Veja quanto.
Os lucros líquidos das companhias de seguros a operar em Portugal sob jurisdição da ASF, entidade supervisora do setor, atingiram 450 milhões em 2020, sendo agora possível analisar a rentabilidade de cada ramo de seguro e o seu contributo para os resultados económicos do conjunto das 38 companhias de seguros, cujas contas foram detalhadas pela ASF.
Com contas analisadas é possível avaliar a evolução de um ano em que se juntaram fenómenos adversos como a pandemia e a manutenção de baixas taxas de juro nos mercados internacionais e nacional. Ainda assim os resultados das seguradoras melhoraram aproximando-se dos níveis de 2018, já que em 2019 os efeitos de baixas taxas de juro já tinham causado danos no ramo Vida e na rentabilidade do setor.
Os resultados das seguradoras são provenientes do negócio direto do ramo Vida e dos ramos Não Vida, cujas contas estão separadas nos casos das companhias mistas que, em 2020 e em Portugal, eram apenas quatro (Allianz, Fidelidade, Real Vida e Generali/Tranquilidade). Na maioria das situações são mesmo separadas em empresas distintas como é o caso da Lusitania Vida e Lusitania Seguros ou Una Vida e Una Seguros. Estes negócios têm como principal receita a produção ou venda de seguros e como principais gastos os custos com sinistros e todas as despesas das companhias de seguros, que vão dos recursos humanos aos alugueres de instalações. Daqui resultam lucros, ou prejuízos, designados técnicos.
Resultados e rentabilidade das 38 companhias de seguros sob supervisão em Portugal
No entanto as companhias obtêm ainda resultados de atividade não técnica, a que resulta de investimentos realizados com as provisões a que as seguradoras são obrigadas a deter para fazer face a prováveis indemnizações que sejam obrigadas a pagar aos segurados. Enquanto não pagam vão investindo esse dinheiro, seguindo regras prudentes porque os riscos têm de ser reduzidos ao mínimo, o dinheiro devido aos beneficiários nunca pode faltar, nem no imediato nem no muito longo prazo.
Desses investimentos resultam receitas que podem ser integralmente para as seguradoras ou parte para os segurados que subscrevem produtos como os unit linked e que beneficiam dos ganhos realizados nessas operações. Durante 2020, as seguradoras detiveram, em média, investimentos no valor de 52,7 mil milhões de euros, mais de metade do orçamento do Estado português e o setor é o maior investidor institucional em Portugal e na Europa. E, por precisarem de liquidez para indemnizar rapidamente os seus clientes, as seguradoras têm depositados nos bancos em permanência e sem remuneração mais de 1,5 mil milhões de euros, sendo provavelmente o melhor cliente da banca.
A queda generalizada das taxas de juro nos mercados internacionais tem retirado proveitos às seguradoras na sua conta não técnica, cujos resultados resultam dos investimentos próprios das companhias e, principalmente, dos rendimentos obtidos pelo comissionamento de gestão das carteiras realizadas em nome dos segurados. No entanto, mesmo investindo com baixo risco, as seguradoras conseguem rendimentos dos seus investimentos superiores aos vulgares depósitos à ordem em Portugal e no espaço Euro.
Os investimentos do conjunto das seguradoras supervisionadas em Portugal, que no final do ano de 2020 totalizavam cerca de 52 mil milhões de euros, dos quais 42% estavam aplicados em títulos de dívida pública, 29% em obrigações de entidades privadas, apenas 7% em ações, 15% em fundos de investimento e pequenos montantes em imobiliário (ainda assim 646 milhões de euros). Em Portugal apenas estavam investidos 10,1% do valor das carteiras, na restante União Europeia estava 58,5%, na América do norte 14%, na Ásia- Pacífico 7,1% e em praças off-shore 7,5%.
Entregando toda ou parte da gestão de ativos a entidades externas ou internalizando através departamentos próprios, as seguradoras batem sistematicamente outros veículos alternativos de aplicação de poupanças. Os resultados Não Técnicos têm cada vez menos ajudado a compor os lucros das companhias, mas em situações normais de inflação e taxas de juros podem compensar desvios negativos e inesperados na sinistralidade. Nos últimos quatro anos, apenas em 2018 os resultados Não Técnicos deram um contributo interessante de 22% para os resultados antes de impostos das companhias a atuar sob a supervisão da ASF, em 2020 apenas ajudaram em 3% dos 626 milhões de euros obtidos.
Com uma taxa de imposto sobre lucros média em torno de 28% a 30% sobre os resultados brutos, os resultados líquidos de todas as seguradoras oscilaram entre os 289 milhões em 2019 e os 466 milhões em 2018, tendo no último ano atingido 450 milhões de euros. O retorno líquido para os capitais próprios também tem flutuado: no último ano foi 7,2% com um máximo de 9,7% em 2018 e um mínimo 5,2% em 2019.
Automóvel, saúde e habitação dão 82% dos lucros
Os seguros mais lucrativos para as companhias são com certeza os de Vida, mas entre os outros ramos há negócios interessantes. No topo absoluto dos lucros está a componente danos próprios do seguro automóvel que em 2020 deu quase 80 milhões de euros às seguradoras. No entanto, a componente obrigatória de responsabilidade civil deu também lucro, pela primeira vez ao fim de muitos anos conseguiu 21,7 milhões de euros de resultado técnico positivo. Outro complemento ao seguro auto, as pessoas transportadas, atingiu um resultado de cerca de 40 milhões e Acidentes Pessoais quase atingiu 20 milhões. Os ramos mais lucrativos foram:
No entanto as seguradoras também têm os seus ramos problemáticos. O mais conhecido de todos é Acidentes de Trabalho que pesando 14,6% do volume de vendas dos ramos Não Vida obteve um prejuízo técnico de perto de 5 milhões de euros em 2020, melhor – apesar de tudo – que os 36 milhões de prejuízos de um ano antes. Os ramos em que as companhias perderam dinheiro foram:
As contas provisórias em 2021 estão a reforçar o sentido de maior rentabilidade das seguradoras em Portugal. Segundo a ASF, a produção de seguro direto cresceu 34,9% até ao final do terceiro trimestre de 2021, em comparação com igual tempo de 2020, uma variação para a qual foi determinante o acréscimo de 76,5% verificado no ramo Vida e, menos, a subida de 4,2% nos ramos Não Vida. No mesmo período, os custos com sinistros aumentaram um total de 17,5% com subida de 24,3%, no ramo Vida e de 3,2% no ramo Não Vida. Tudo aponta, portanto, para um reforço dos resultados técnicos no final deste ano.
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