Glennmont/BNZ: “Temos planos para oito projetos diferentes em Portugal, que variam entre 40 e 98 MW de capacidade”

  • ECO
  • 6 Junho 2022

A empresa produtora independente de energia confirma "planos ambiciosos" para Portugal, que incluem a construção da sua primeira central solar fotovoltaica na região Norte ainda este ano.

“O potencial de crescimento das energias renováveis nos próximos anos é muito elevado e, portanto, muito atrativo para os investidores, mesmo com a subida das taxas de juro”. É esta a visão de Luis Selva, managing director da BNZ/Glennmont Partners, uma produtora independente de energia que desenvolve e opera projetos solares fotovoltaicos no sul da Europa, e Jordi Franchesch, head of asset management e chief risk officer da gestora de ativos Glennmont Partners.

No que diz respeito a Portugal, a opinião também é otimista, com os empresários a considerar o país como um dos que tem maior potencial no setor das energias renováveis da Europa, mas apontam alguns dos desafios que ainda precisa de ultrapassar para se destacar, nomeadamente ao nível da velocidade na atribuição de licenças administrativas, um entrave também verificado em Espanha e Itália.

A empresa já recebeu autorização para avançar com a sua primeira central solar fotovoltaica em território português ainda este ano, na região Norte, e os responsáveis confirmam nesta entrevista “planos ambiciosos” para o País.

Quais são as principais oportunidades que existem no investimento na energia solar em Portugal?

Enquanto Espanha, Itália e Portugal (onde a BNZ está focada) têm enormes possibilidades, existem diferenças óbvias entre eles. Portugal é um dos países com maior potencial no setor das energias renováveis na Europa e reúne as condições necessárias para um ótimo desenvolvimento no domínio das energias renováveis. Uma das opções da BNZ em Portugal é exportar a energia produzida para os compradores externos, interessados em assinar Contratos de Aquisição de Energia (CAE), o que garantiria um preço previsível da eletricidade para o comprador da nossa eletricidade produzida e vendida em Portugal, gerando retornos estáveis para os nossos investidores.

Além disso, os CAE permitem-nos aumentar a notação de crédito do nosso projeto devido à qualidade da notação do crédito das contrapartes dos CAE, que poderiam ser portuguesas ou internacionais. A indústria portuguesa tem pouca tradição na assinatura destes CAE, mas está a evoluir rapidamente, por isso convencê-los é um dos nossos próximos grandes desafios.

Para além do grande potencial de energia solar em Portugal, temos vindo a construir boas relações com importantes stakeholders. Estamos em contacto com municípios e freguesias onde estabelecemos a nossa presença local dentro de cada comunidade, ouvindo as autoridades locais e respondendo às suas necessidades e preocupações. Para além de gerar energia verde e oportunidades de emprego, os nossos projetos acolherão também visitas de educação pública e, quando apropriado, contribuirão para iniciativas financiadas pela comunidade local. Cada um dos nossos projetos será escrupulosamente concebido de modo a assegurar que vai mais além nas políticas da ESG e no apoio à biodiversidade, atuando eticamente em todos os aspetos do negócio da BNZ.

Quais os principais constrangimentos e como podiam ser resolvidos?

Tal como em Espanha e Itália, as licenças administrativas em Portugal são demasiado lentas devido ao grande número de pedidos que estão a ser apresentados. No total, 35% dos projetos da BNZ para o mercado português já têm a aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o que é um dos passos cruciais para projetos de grande escala.

Responder a este desafio implica tornar todo o processo burocrático mais rápido, tanto em Portugal como nos outros países em que operamos.

Jordi Francesch, Head of Asset Management e Chief Risk Officer da Glennmont Partners e Luis Selva, Managing Director da BNZ/ Glennmont Partners, explicam os planos da empresa para Portugal, que incluem oito projetos diferentes de energia.

Em que ponto estão os projetos em desenvolvimento pela Glennmont /BNZ em Portugal?

Temos planos ambiciosos e firmes para Portugal. A BNZ está constantemente a analisar e avaliar oportunidades no mercado português e planeia anunciar projetos interessantes no futuro. Os nossos planos atuais envolvem o desenvolvimento de oito projetos diferentes em Portugal, projetos que variam de 40 a 98 MW de capacidade e estão concentrados nas regiões Centro e Norte.

Anunciámos recentemente o primeiro destes projetos onde a BNZ obteve autorização na Região Norte de Portugal para iniciar a construção de uma central solar fotovoltaica na comunidade intermunicipal do Ave, com uma capacidade instalada de 49 MWp. Prevemos que a central esteja operacional até ao final de 2023.

Quais os planos para o futuro? Existe alguma previsão para o investimento em Portugal nos próximos anos ou uma meta em termos de MW?

Planeamos iniciar a construção no terceiro trimestre deste ano e terminá-la no quarto trimestre de 2023. Esta será a primeira central da BNZ a ser construída em Portugal, onde esperamos instalar uma capacidade aproximada de 400 MWp até 2024.

O crescimento virá sobretudo da construção de novos projetos ou da aquisição de portefólios já existentes?

O nosso core business é sobretudo iniciar projetos a partir do zero, mas não descartamos a aquisição de projetos existentes para os integrar na nossa carteira, como já fizemos em Espanha, com uma carteira solar fotovoltaica de 473 MW no centro e sul do país.

Qual o impacto do contexto geopolítico na Europa e dos preços elevados da energia nas políticas para o setor?

A invasão da Ucrânia pela Rússia está a ter consequências geopolíticas globais. A volatilidade dos preços das matérias-primas aliada ao stresse nas cadeias de abastecimento globais está a criar um panorama desafiante para se operar. Os mercados europeus de energia são determinados pelos preços de custo residuais, e os preços do gás levaram o custo da eletricidade a níveis sem precedentes nos últimos meses. Os atuais preços são 4-5 vezes mais elevados do que a média de 2018-20.

Relativamente ao nosso portfólio em desenvolvimento, este ambiente de preços em alta confirma (ainda mais) a energia renovável como sendo acessível, fiável e uma garantia para a independência energética dos países europeus. As estruturas de compra a longo prazo oferecidas no mercado proporcionam segurança nos preços e uma cobertura contra a volatilidade dos preços para os consumidores finais.

Qual o impacto da subida das taxas de juro no financiamento do setor?

A emergência climática está a levar governos, empresas e famílias a acelerar a transição energética para o net zero. Tendo isto em conta e a elevada dependência da nossa economia face aos combustíveis fósseis importados para gerar eletricidade, transportes e manufatura, o potencial de crescimento das energias renováveis nos próximos anos é muito elevado e, portanto, muito atrativo para os investidores, mesmo com essa subida das taxas de juro.

O aumento do custo dos painéis fotovoltaicos e outros fatores de produção devido à inflação e ao crescimento da procura na Europa poderá reduzir a rentabilidade dos projetos? Ou os custos mais elevados serão compensados pela venda da energia com preços superiores?

Os rendimentos de um projeto não se baseiam exclusivamente nos custos de alguns componentes. Como o mercado europeu de energia está a evoluir para longe dos combustíveis fósseis e da estabilidade elétrica das suas centrais elétricas, os reguladores do mercado de energia estão a encontrar novas utilizações para projetos de energias renováveis, para além da óbvia geração de energia limpa, como a regulação da frequência ou da energia reativa. Todos eles geram vários fluxos de receitas que equilibram as variações do mercado.

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