Reserva Federal aumenta juros em 75 pontos base, a maior subida desde 1994

O banco central dos EUA elevou as taxas de juro em 75 pontos base, colocando-as no intervalo entre 1,5% e 1,75%. Próxima reunião poderá trazer um novo aumento da mesma dimensão, admite Powell.

O comité de política monetária da Reserva Federal anunciou hoje um aumento de 75 pontos base na taxa de referência, o que não acontecia desde 1994, colocando-a no intervalo entre 1,5% e 1,75%. Jerome Powell espera uma subida entre 50 e 75 pontos base na próxima reunião.

A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios na oferta e procura relacionados com a pandemia, preços mais elevados de energia e pressões mais amplas sobre os preços”, assinala o comunicado divulgado pela Reserva Federal.

“A invasão e os acontecimentos relacionados estão a criar uma pressão adicional sobre a inflação e estão a pesar sobre a atividade económica global. Além disso, os bloqueios relacionados com a covid-19 na China deverão exacerbar os constrangimentos na cadeia de abastecimento. O comité está muito atento aos riscos inflacionários”, acrescenta a instituição liderada por Jerome Powell.

Na reunião de política monetária anterior a Reserva Federal tinha realizado a primeira subida de 50 pontos em mais de duas décadas, colocando a taxa de referência no intervalo entre 0,75% e 1%.

As previsões para a economia foram revistas em baixa, com a Fed a apontar agora para um crescimento de 1,7% este ano, mantendo-se abaixo de 2% até 2024. A taxa de desemprego deverá subir para 3,7% no final do ano e 4,1% em 2024.

O banco central dos EUA atualizou também as previsões para a inflação e as projeções para o rumo futuro da taxa diretora. A Fed antecipa agora que o índice de preços esteja acima dos 5% no final do ano e os juros de referência deverão atingir um pico de 3,8% em 2023, descendo em seguida. A inflação deverá depois aliviar para 2,6% no final do próximo ano e para 2,2% em 2024.

A taxa de inflação homóloga atingiu os 8,6% em maio, um novo máximo em quatro décadas, num sinal de que o pico na subida do nível de preços poderá ainda não ter sido atingido. O número foi divulgado na sexta-feira e provocou fortes perdas nas ações já esta semana, como o S&P500 a perder perto de 7% e a entrar num ciclo de perdas (bear market). As taxas implícitas das obrigações também dispararam.

Além da subida do índice de preços no mês passado, também as expectativas dos consumidores sobre a inflação futura (no prazo de cinco a 10 anos) galgaram para o valor mais elevado desde 2008, ano em que o petróleo atingiu uma cotação recorde.

Próxima reunião pode trazer nova subida de 75 pontos base

Na conferência de imprensa após a reunião do comité de política monetária, o presidente da Reserva Federal afirmou que “novos aumentos nas taxas serão apropriados” e que o banco central continuará a “reduzir de forma agressiva o balanço”.

Embora tenha dito que o aumento de 75 pontos base decidido hoje é “invulgarmente elevado” e não seja esperado que “mexidas desta dimensão sejam comuns”, Jerome Powell afirmou que tendo em conta a perspetiva atual, “o mais provável na próxima reunião é um aumento de 50 ou 75 pontos base”. “Tomaremos a decisão reunião a reunião e tentaremos tornar o nosso pensamento o mais claro possível”, acrescentou, repetindo que a Fed terá de ser “ágil na resposta”.

Acho que podemos conseguir uma aterragem suave [da economia], mas os acontecimentos aumentaram o grau de dificuldade. As flutuações nos preços das matérias-primas podem tirar essa possibilidade das nossas mãos.

Jerome Powell

Presidente da Reserva Federal

O responsável pelo banco central garantiu que a Fed não está a tentar provocar uma recessão e considerou que “a economia americana é muito forte e está em condições de enfrentar uma política monetária mais restritiva”. Ainda assim, gostava de “ver a procura a moderar”. Por ora, não está a existir uma espiral de subida nos salários.

Jerome Powel reconheceu, no entanto, que a tarefa de baixa a inflação para 2%, mantendo a robustez no mercado de trabalho não será fácil. “Acho que podemos conseguir uma aterragem suave [da economia], mas os acontecimentos aumentaram o grau de dificuldade. As flutuações nos preços das matérias-primas podem tirar essa possibilidade das nossas mãos. O contexto é de elevada incerteza”, afirmou.

“Não queremos tirar o emprego às pessoas, mas não podemos ter o mercado de trabalho que queremos sem estabilidade de preços”, sublinhou.

“Vamos reagir aos dados de forma apropriada. Em breve veremos progressos na [descida] da inflação. Não vamos declarar vitória até termos provas convincentes de que está a baixar“, garantiu o presidente da Fed.

Os principais índices acionistas dos EUA moderaram os ganhos após o anúncio da decisão, mas voltaram a subir após a conferência de imprensa. O S&P500 seguia há pouco a ganhar 1,4%, o Dow Jones perto de 1% e o Nasdaq 2,5%. Já os juros das obrigações com maturidade a 10 anos recuavam 13 pontos base para os 3,346%.

(Notícia atualizada às 21h00 com declarações de Jerome Powell)

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