Vai Trump anunciar a recandidatura à Casa Branca já em setembro?

  • Lusa
  • 17 Julho 2022

Com popularidade de Biden em baixo e eleições intercalares em novembro, Donald Trump pode "jogar" com a comissão parlamentar sobre o assalto ao Capitólio no anúncio da corrida à presidência dos EUA.

O anúncio da recandidatura de Donald Trump à presidência norte-americana em 2024 é aguardado para breve, entre o final das audiências públicas sobre o assalto ao Capitólio — em que é o principal visado — e as eleições intercalares de novembro.

Fontes próximas do ex-presidente disseram ao New York Times que Trump acredita que a recandidatura vai distrair a atenção mediática que está a ser devotada às audiências do assalto de 6 de janeiro. O Washington Post cita dois conselheiros segundo os quais Trump pretende anunciar já em setembro.

Entre os vários fatores a pesar para a decisão está também a baixa popularidade de Joe Biden, que se encontra nos 38,7%. Mas um anúncio de recandidatura antes das eleições tem potencial para ser negativo, dando aos democratas uma forma de galvanizar os eleitores anti-Trump.

Para Everett Vieira III, professor de ciência política na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, fará mais sentido Trump esperar e fazer o anúncio da recandidatura depois das eleições intercalares de novembro. “Aí, se [o congressista republicano] Kevin McCarthy se tornar presidente da Câmara dos Representantes, a comissão parlamentar que investiga o 6 de janeiro será cancelada”, sublinhou o analista à Lusa.

Se os republicanos também ganharem o Senado, o senador republicano Mitch McConnell poderá bloquear todas as nomeações de Biden “e Trump pode fazer campanha com isso”. “Trump tem reconhecimento de nome, tem pessoas a lutar por ele até ao dia de hoje, mas penso que vai esperar até depois das intercalares”, referiu.

Trump tem reconhecimento de nome, tem pessoas a lutar por ele até ao dia de hoje, mas penso que vai esperar até depois das intercalares.

Everett Vieira III

Professor de ciência política na Universidade Estadual da Califórnia

De acordo com o cientista político Jeffrey Cummins, reitor interino da Faculdade de Ciências Sociais na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, um anúncio precoce costuma ser feito para “antecipar o anúncio de outros candidatos e tentar atrair os doadores o mais cedo possível”.

No entanto, neste caso poderá também estar em causa o lançamento da campanha antes que o Departamento de Justiça formalize uma acusação criminal contra Trump pelo envolvimento no assalto ao Capitólio.

“Pode defender o argumento de que um candidato presidencial não deve ser alvo de uma tentativa de condenação criminal”, sugeriu Cummins. O analista referiu que uma investigação criminal a Trump favoreceria o rival republicano Ron DeSantis, mas avisou que um caso destes leva muito tempo a montar e a julgar e é possível que o tempo se esgote até 2024.

A comissão parlamentar que investiga o assalto ao Capitólio está a cooperar com o Departamento de Justiça em matérias que podem vir a envolver Trump. O líder da comissão, Bennie Thompson, disse aos jornalistas que o Departamento está a investigar um esquema com falsos ‘grandes eleitores’ concebido para manter o ex-presidente no poder de forma fraudulenta.

O que acontece se Trump se candidatar e for alvo de acusação formal? E se ganhar? “Não é claro o que acontecerá se houver um processo criminal e Trump ganhar as eleições”, admitiu Jeffrey Cummins. “Nunca tivemos uma situação dessas”.

A CNN noticiou na semana passada que Donald Trump está a questionar os seus aliados regularmente sobre quando vão terminar as audiências públicas, cujo impacto está a ser maior que o esperado. Esperava-se que a comissão parlamentar terminasse o seu trabalho em meados de julho, mas o calendário estendeu-se. A próxima audiência pública deverá acontecer na quinta-feira, 21 de julho.

Dado o contexto, e o facto de faltarem mais de dois anos para as presidenciais, o cientista político Brian Adams considera que ainda é muito cedo para começar a campanha. “Não seria vantajoso para Trump anunciar a sua recandidatura agora”, afirmou o analista, docente na Universidade Estadual da Califórnia em San Diego. “Não me parece que Ron DeSantis e outros potenciais candidatos desistissem por causa disso”, explicou.

Historicamente, quando alguém se declara candidato à presidência com anos de antecedência não obtém grandes resultados.

Brian Adams

Professor na Universidade Estadual da Califórnia

Adams disse que um anúncio precoce não teria o efeito de arrefecer as aspirações de políticos republicanos como o governador da Florida, Ron DeSantis, o ex-vice-presidente Mike Pence ou o ex-secretário de Estado Mike Pompeo. “Historicamente, quando alguém se declara candidato à presidência com anos de antecedência não obtém grandes resultados”, afirmou.

Também a ideia de que Trump terá a renomeação garantida caso deseje candidatar-se novamente, considera, é precipitada. “Penso que vai haver uma primária competitiva entre os Republicanos”.

Esta visão alinha-se com o teor de vários artigos que têm saído na imprensa norte-americana, desde o Politico à CNBC, e dão conta de uma “fadiga” relativa a Trump junto dos grandes doadores republicanos, que analisam a viabilidade de outros candidatos. “Quanto mais cedo um candidato anuncia”, disse Everett Vieira, “mais tempo anda com um alvo nas costas”.

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