Paris saiu à rua no “dia 1” da mobilização popular contra Macron
Marcha Contra a Vida Cara, convocada para este domingo pelos partidos de esquerda, juntou milhares de pessoas na capital francesa. Tom do protesto deve subir nos próximos dias com greve de refinarias.
A esquerda francesa saiu hoje às ruas da capital para reivindicar melhores condições de vida face à inflação, num protesto que os manifestantes esperam que ganhe expressão em todo o território gaulês e consiga paralisar o país nos próximos dias.
“Gostava mesmo que este movimento se generalizasse com uma greve geral que toque todos os setores, porque está a afetar-nos a todos. As únicas pessoas que não são atingidas são os acionistas das grandes empresas”, declarou Jean-Claude, junto à Praça Nation, em declarações à agência Lusa.
O seu cartaz resumia a Marcha Contra a Vida Cara convocada para este domingo pelos partidos de esquerda: Especulação + Requisição = Revolução. Do outro lado do cartaz deste professor parisiense, um camião com a palavra salário subia por uma rampa chamada inflação. Mas não é só a inflação de 5,6% que traz os franceses à rua.
“Vim para lutar contra o empobrecimento da sociedade, a luta contra a reforma das pensões, a vida cara, o aumento do salário mínimo, os aumentos dos apoios sociais, mais apoios para os jovens, por tudo isto. Estamos aqui porque somos de esquerda e estamos fartos da direita”, disse Christian, enumerando os motivos da sua mobilização.
A este protesto, previsto desde agosto pela coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), para reivindicar um aumento generalizado dos salários, mantendo a exigência de 1.600 euros líquidos de salário mínimo, juntaram-se nas últimas duas semanas as dificuldades sentidas em todo o país devido às greves nas refinarias.
Os sindicatos preferiram não juntar-se ao protesto deste domingo, convocando uma greve geral para terça-feira, numa altura que mantêm ainda um braço de ferro com a empresa Total, resultando na escassez generalizada de combustíveis. No entanto, se o sinal a nível nacional foi negativo por parte de centrais sindicais como a CGT, as federações marcaram presença em Paris.
“Para nós, sindicalistas, houve um grande ataque contra o nosso direito à greve com as requisições feitas nas refinarias e isso não é possível. O alcance destes protestos está a aumentar e é preciso que nos batamos pelos nossos direitos. Ficar em casa a discutir na sala não dá em nada, a população está a perceber o que nos estão a fazer a todos”, declarou Noella, que pertence à CGT do departamento de Cher, no centro da França.
Para Jean-Luc Melénchon, a grande figura da esquerda que apelou a esta mobilização, esta manifestação é apenas “o dia 1” de “uma conjunção entre uma mobilização popular, uma crise institucional e uma mobilização social”, que se vai desenrolar esta semana, com o possível anúncio do Governo da utilização do artigo 49.3, que força a aprovação do Orçamento sem passar pela Assembleia Nacional.
Uma manobra “frustrante” para Silene, jovem militante da França Insubmissa, o movimento de Melénchon. “É muito frustrante porque dizem-nos sempre que as eleições e a via democrática é que vai funcionar, mas vemos que mesmo utilizando as ferramentas democráticas, o Governo consegue continuar a bloquear-nos e a tomar as decisões que bem entende. É muito triste, especialmente porque se trata do nosso futuro”, lamentou a estudante.
Para Christian, reformado, resta agora bater-se pelo futuro dos jovens, perante uma situação que só tem vindo a piorar. “A situação só piorou. Os estudantes fazem fila para refeições quentes, nunca vimos isto. Há seis milhões de pessoas em França que comem graças à ajuda das associações, senão passavam fome”, concluiu.
Apesar de uma forte mobilização da polícia, o cortejo decorreu quase sem incidentes, com os organizadores a contabilizarem 140 mil pessoas nas ruas de Paris e as autoridades estimarem que estavam presentes cerca de 30 mil manifestantes.
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