BCE sobe juros em 50 pontos base. “E vamos continuar a fazê-lo no futuro porque a inflação ainda é muito elevada”, disse Lagarde

É a quarta subida das taxas de juro do euro desde julho. A presidente do banco central, Christine Lagarde, reviu também em alta as perspetivas para a inflação.

O custo do dinheiro na Zona Euro voltou a aumentar. De acordo com a decisão do Comité de Política Económica Monetária do Banco Central Europeu (BCE) anunciada esta quinta-feira, as taxas de juro do euro vão subir 50 pontos base.

Isto significa que, a partir de 21 de dezembro, a taxa de juro das operações principais de refinanciamento passa para 2,5%, a taxa de facilidade permanente de depósito para 2% e a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez para 2,75%.

Fonte: Banco de Portugal e Banco Central Europeu.

Esta foi a quarta subida consecutiva das taxas de juros do euro este ano (desde julho). Atualmente, a taxa de juro das operações principais de refinanciamento está no valor mais elevado desde 14 de janeiro de 2009. E não ficará por aqui.

“Aumentámos hoje as taxas de juro em 50 pontos base e vamos continuar a fazê-lo no futuro porque a inflação ainda é muito elevada”, referiu Christine Lagarde, presidente do BCE em conferência de imprensa.

O Conselho do BCE considera “que as taxas de juro ainda terão de aumentar de forma significativa a um ritmo constante, no sentido de serem atingidos níveis que sejam suficientemente restritivos para assegurar um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo”, revela a autoridade monetária em comunicado de imprensa.

De acordo com a estimativa provisória do Eurostat, a inflação situou‑se nos 10% em novembro, sendo esta taxa ligeiramente inferior à de 10,6% registada em outubro. Sem indicar se a inflação já terá atingido o seu pico, a equipa de Christine Lagarde reviu significativamente em alta as suas estimativas para a inflação na Zona Euro, apontando agora para uma inflação média de 8,4% em 2022 e de 6,3% em 2023; e depois uma inflação média de 3,4% em 2024 e de 2,3% em 2025.

Na avaliação do BCE para aumentar as taxas diretoras em 50 pontos base está também a expectativa de a atividade económica na área do euro poder registar uma contração no último trimestre deste ano e no primeiro trimestre de 2023, “devido à crise energética, à elevada incerteza, ao enfraquecimento da atividade económica mundial e às condições de financiamento mais restritivas.”

Segundo Lagarde, “as pressões inflacionistas e as condições de crédito mais restritivas estão a amortecer o consumo e a produção”, e antecipa que “os salários cresçam a taxas muito superiores à média histórica”.

A presidente do BCE salienta ainda que “uma economia mais fraca pode resultar num desemprego ligeiramente mais elevado”, e sublinha que uma recessão na Zona Euro “será curta e pouco profunda”.

Em geral, as projeções elaboradas por especialistas do Eurossistema indicam agora que a economia registará uma taxa de crescimento de 3,4% em 2022, 0,5% em 2023, 1,9% em 2024 e 1,8% em 2025.

Subida das taxas sem surpresas para os investidores

A decisão anunciada esta quinta-feira por Christine Lagarde não foi uma total surpresa. Há dez dias, em entrevista à Renascença, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, defendia que o pico da inflação já teria passado e admitia que depois de dois aumentos “jumbo” (75 pontos base) das taxas de juro, o BCE deveria aumentar as taxas em 50 pontos base na reunião realizada esta quinta-feira.

A reforçar a confiança dos investidores de que o BCE deveria ficar-se por uma subida de 50 pontos base esteve também a decisão anunciada no dia anterior pela Reserva Federal norte-americana (Fed) de abrandar o ritmo de subida das taxa de juro, aumentado o preço do dólar em 50 pontos base.

O BCE revela também mudanças na política de compra de ativos. “A partir de março de 2023, a carteira do programa de compra de ativos (asset purchase programme – APP) diminuirá a um ritmo comedido e previsível, dado que o Eurossistema não reinvestirá todos os pagamentos de capital de títulos vincendos”.

A autoridade monetária da Zona Euro revela ainda que a diminuição da compra de ativos ascenderá, em média, a 15 mil milhões de euros por mês até ao final do segundo trimestre de 2023 e o seu ritmo subsequente será determinado com o tempo. “Na reunião de fevereiro, o Conselho do BCE anunciará os parâmetros detalhados para a redução das posições do APP.”

Christine Lagarde também não se mostra preocupada com o balanço das entidades bancárias. A presidente do BCE revela que “os bancos têm atualmente o capital adequado” para enfrentar os desafios que têm pela frente.

No entanto, salienta que “as vulnerabilidade dos Estados aumentou” e que a “as necessidades de liquidez de entidades não bancárias podem amplificar a volatilidade do mercado.”

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