Líder da Sonae queixa-se de “campanha de desinformação” sobre preços dos alimentos

Em resposta às acusações do Governo, Cláudia Azevedo fala em “danos gravosos para a reputação do setor da distribuição alimentar” e garante que “os culpados da inflação não são os supermercados”.

Poucas horas depois de ouvir o ministro da Economia falar num “comportamento completamente dissonante” na evolução dos preços nos supermercados, a presidente executiva da Sonae, que detém o Continente, descreveu que está em curso “uma campanha de desinformação sobre as causas da inflação alimentar, com danos gravosos para a reputação do setor da distribuição alimentar”.

“Sendo certo que o nível de inflação dos produtos alimentares tem sido mais elevado do que a inflação média geral, a verdade é que se trata de um fenómeno global e com causas bem identificadas e associadas às cadeias de produção. Os culpados da inflação não são os hipermercados / supermercados”, escreveu Cláudia Azevedo.

Numa mensagem eletrónica enviada na quinta-feira à tarde aos colaboradores da Sonae, a que o ECO teve acesso, a gestora assegura que a empresa “[baixou] as margens para acomodar o aumento dos custos”. “Também nós sofremos”, acrescentou. Em paralelo, sublinha o desenvolvimento de “soluções para ajudar os clientes a mitigar os efeitos do aumento do custo de vida”.

“Não podia deixar de vos escrever e transmitir o orgulho que tenho na equipa do Continente, nesta altura em que a sua reputação está a ser atacada, e de dizer que podem contar com a Sonae para continuar a ser um motor de desenvolvimento para Portugal. Que não existam dúvidas de que as nossas decisões são orientadas pelos nossos valores, em todos os nossos negócios. Fazemos o que está certo. Sempre o fizemos e sempre o faremos”, lê-se na mesma carta aberta.

Na quinta-feira, o ministro da Economia garantiu que vão ser intensificadas em todo o país as operações de fiscalização da ASAE, que já instaurou 51 processos-crime por especulação, com o objetivo de “identificar se há situações anómalas” e com o argumento de que a evolução dos preços dos alimentos é oposta à da inflação e haver retalhistas com margens de lucro médias superiores a 50%. “Seremos inflexíveis”, prometeu António Costa Silva.

De acordo com os relatórios mensais da ASAE, o cabaz de bens essenciais aumentou de 74,9 euros em janeiro de 2022, para 96,44 euros em fevereiro deste ano. Mas, além disso, há produtos cujo aumento da margem bruta é muito significativa como é o caso das cebolas (superior a 50%); dos ovos, laranjas, cenouras e febras de porco (entre 40 e 50%); ou das conservas de atum, azeite e couve coração (30 e 40%).

Contactado pelo ECO, o grupo Jerónimo Martins, que é o segundo maior operador no retalho alimentar em Portugal, disse apenas que “o comunicado da APED representa a posição do Pingo Doce”. A associação que representa as retalhistas deu a garantia de que os supermercados não estão a aumentar as margens de negócio no atual contexto de inflação e que se “reinventaram” para atenuar nos consumidores os impactos do aumento dos preços. O organismo liderado por Gonçalo Lobo Xavier frisou que a distribuição está a comprar produtos aos fornecedores cada vez mais caros e evitou que “o ónus da inflação em geral para o consumidor fosse muito superior”. “O Lidl está alinhado com o posicionamento da APED”, limita-se a dizer fonte oficial da retalhista de origem alemã.

Esta sexta-feira foi a vez da Associação Nacional dos Transportadores de Mercadoria (ANTRAM) vir recusar responsabilidades no aumento do preço dos bens essenciais, esclarecendo que o transporte não regista subidas que justifiquem as diferenças encontradas nos supermercados.“O transporte de bens alimentares, face ao verificado antes dos níveis da guerra, não regista, atualmente, subidas que possam justificar os enormes aumentos dos bens alimentares”, insiste, em comunicado.

Segundo avança o semanário Expresso (acesso pago), o Executivo liderado por António Costa está a estudar várias medidas para o caso de os supermercados não baixarem os preços nas próximas semanas. O Governo socialista está a ponderar, por exemplo, vir a fixar — mesmo que excecionalmente e com caráter temporário — um limite para as margens de lucro de produtores, indus­triais e distribuidores.

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