BRANDS' TRABALHO “Regressei da licença [de maternidade] e fui novamente promovida”

  • Trabalho + CIP
  • 24 Abril 2023

Patrícia Leal, Corporate Comunications Global Regions na Medtronic, é a décima convidada do Promova Talks. Promovida durante e depois da sua gravidez, a responsável partilha o seu testemunho.

O tema da igualdade de género é o mote da série “Promova Talks”. Trata-se do espaço de debate do Projeto Promova, uma iniciativa da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, que visa sensibilizar para o tema e alargar o acesso das mulheres a cargos de liderança nas empresas portuguesas.

Patrícia Leal, Corporate Comunications Global Regions na Medtronic, foi a convidada do décimo episódio da segunda temporada do “Promova Talks”. As duas promoções que recebeu – uma durante a gravidez e outra logo após o período de licença de maternidade terminar – foram o mote da conversa. Veja, abaixo, a entrevista completa.

Está há mais de cinco anos na Medtronic, em junho passado foi promovida e isto durante a sua gravidez. Teve de licença de maternidade e, agora, depois de regressar à empresa, foi novamente promovida. Como é que a Patrícia gere todas estas mudanças? Promoção, gravidez e regresso à rotina?

Eu encaro todas estas mudanças como algo natural porque, como disse, eu estou há mais de cinco anos na Medtronic e conheço muito bem a sua missão e o que a move. Trata-se de uma empresa que reconhece o trabalho que é feito e premeia o talento, independentemente da altura da vida. Também foi por isso que eu fui incentivada pela Medtronic a participar na segunda edição do projeto Promova e a promoção que veio no decorrer dessa participação, fruto do reconhecimento do trabalho que tinha sido desenvolvido previamente. Agora eu regressei da licença e fui novamente promovida, passei a integrar a equipa de Corporate Comunications Global Regions, é uma função global e que vem no seguimento de uma reestruturação interna da função da comunicação, mas não deixa de ser um reconhecimento do trabalho que foi feito, não só em Portugal, mas também o trabalho que eu fiz para a Europa durante uns meses até ir de baixa.

No fundo, é fantástico regressar com um novo desafio porque é sempre uma motivação extra. Regressar é bom, mas regressar com um desafio destes é realmente fantástico porque tira-me da minha zona de conforto. Portanto, durante a gravidez eu saí da minha zona de conforto porque deixei de ter funções em Portugal e agora, no regresso ao trabalho, volto a sair da zona de conforto porque integro uma equipa com diferentes fusos horários, diferentes culturas, diferentes realidades e também num contexto de mudanças internas, portanto eu acho que é uma oportunidade única de aprendizagem e de crescimento e só posso agradecer à Medtronic por isso.

Vê na Medtronic um exemplo para outras empresas neste quesito?

Completamente. A Medtronic é, realmente, uma excelente empresa para trabalhar. Tem uma missão extraordinária, com mais de 60 anos, que está muito enraizada na nossa cultura e no trabalho que nós fazemos todos os dias. Aliviar a dor, restabelecer a saúde e prolongar a vida é algo que nos move todos os dias e nós temos, inclusive, a Medallion Ceremony, na qual é entregue um medalhão com esta missão a todos os colaboradores. Sabendo tudo isto, é natural que estas oportunidades surjam, independentemente da altura da vida em que estamos. Inclusive, todos nós, colaboradores, somos constantemente incentivados a participar em programas de desenvolvimento pessoal e profissional, seja online, seja presencial. Temos, também, inúmeras ferramentas com vista a este objetivo disponíveis para todos. Não há discriminação de nenhum tipo. Aliás, eu posso dizer que a notícia de uma gravidez é sempre recebida com uma enorme alegria pela direção, sempre. O meu caso não é o único, nem em Portugal nem a nível internacional. São muitos os casos de promoções durante ou após a gravidez e a licença de maternidade porque é uma situação normal. As pessoas trabalham e é reconhecido o talento das pessoas, independentemente da altura da vida em que estão. Eu acho que a Medtronic é um exemplo nesta vertente.

De acordo com o que nos contou e com os números apresentados no relatório anual sobre Inclusão, Diversidade e Equidade da Medtronic de 2022, a nível global, a empresa tem mais funcionários do género feminino do que masculino (51% de mulheres), no entanto, o mesmo não se verifica em cargos executivos, onde só têm 31% de mulheres, bem como nas funções de presidência ou diretoria, onde só têm 35% e 41% respetivamente. Pergunto-lhe, então, porque é que nestes cargos ainda se observa esta diferença?

Eu penso, e realmente é essa a indicação que nós temos, que para as mudanças serem sólidas e duradouras, elas não se fazem de um dia para o outro. É preciso uma estratégia e é preciso implementá-la por níveis e por objetivos. E a nossa estratégia de Inclusão, Diversidade e Equidade, para além do género, também inclui etnia, religião, ou opção sexual, portanto não é só igualdade de género, é igualdade, ponto. E isto não se trata apenas de cumprir métricas, mas sim premiar o talento, independentemente do género, da etnia, da religião ou da opção sexual. Este é o ponto-chave e a Medtronic tem vindo a implementar métricas que permitem medir este progresso para além da representatividade e criar responsabilidade a todos os níveis de colaboradores, e esta combinação é fundamental para que todos nós, seja em função de direção ou abaixo, possamos contribuir para acelerar o progresso da área da igualdade.

Nós temos novos objetivos de representatividade a cinco anos para continuar a promover esta questão. Até ao final de abril de 2027, o objetivo é alcançar 45% de representação de mulheres em função de manager e acima, em todo o mundo, e depois também há o objetivo, mais para os EUA, de termos 30% de representação de grupos etnicamente diversos em funções de manager e acima. Este compromisso é encarado com muita seriedade na Medtronic, é uma prioridade. Por isso, desde 2020, todos os colaboradores têm um objetivo anual que contribua para a Inclusão, Diversidade e Equidade e ações que apoiem o cumprimento destes objetivos, ou seja, nos nossos objetivos de negócio, que fazemos todos os anos, também existe um objetivo muito específico que nós temos de definir relativamente à parte de Inclusão, Diversidade e Inclusão. Desde 2021 que este é um tema que está presente no nosso inquérito organizacional, com índices de envolvimento e inclusão ao nível do Executive Comity e reportes diretos. Portanto, a Medtronic está, neste campo, a vincular a remuneração a estas metas ao mais alto nível da empresa e isso faz com que este tema seja realmente prioritário.

A Medtronic promove várias iniciativas dentro do tema da inclusão e da equidade. Uma delas é o GIDE Award, que premeia colaboradores que tenham tido um impacto notável nesta área. Como funciona essa avaliação e qual o prémio que os colaboradores recebem?

O prémio GIDE, que é o prémio Global de Inclusão, Diversidade e Equidade, ele reconhece o contributo de colaboradores que são promotores ativos de um ambiente de trabalho que é inclusivo e que está enraizado na missão da Medtronic. É, por isso, um prémio que presta homenagem a estes colaboradores.

Este prémio começou por ser individual, mas em 2022 a Medtronic criou categorias para este prémio que possibilitam reconhecer uma variedade mais ampla de colaboradores, que são exemplo nesta área e que tiveram um impacto significativo durante um período prolongado, e a verdade é que houve uma participação notável no 1º ano do lançamento destas categorias, talvez porque todos os colaboradores eram elegíveis. Foram recebidas mais de 250 nomeações. E, agora, em 2023, com a inclusão da categoria equipas, as submissões duplicaram.

Nós temos uma plataforma que é o Recognize, onde podemos reconhecer colegas e onde os nossos superiores nos podem reconhecer, e isto funciona muito bem na Medtronic. Mais do que um prémio monetário ou físico, o reconhecimento dos nossos pares ou dos nossos superiores é mais especial.

Além do GIDE Award, a empresa tem ainda cinco networks de diversidade e oito de Employee Resource Groups, dentro dos quais se encontra o Medtronic Women Network, do qual a Patrícia faz parte. Pode falar-nos um bocadinho sobre como funciona este grupo e o que promove?

O Medtronic Women Network é um grupo a que pertencem inúmeros colaboradores em cerca de 65 países. Foi um grupo criado em 2013 pelo nosso Chairman e CEO e o objetivo é transformar a cultura empresarial e promover oportunidades para que mais mulheres ocupem cargos de liderança. E, para isso, disponibiliza várias oportunidades de desenvolvimento profissional, de networking, de mentoring e muitas outras. Também em Portugal existe um grupo de colaboradoras, que é como se fosse uma filial, que se dedica a promover o grupo em Portugal e, entre as atividades que se costumam fazer, está a discussão de vários temas relevantes e relacionados com o papel das mulheres no mundo empresarial, eventos, workshops e outras iniciativas idênticas.

E tendo já participado nestas duas iniciativas - o Medtronic Women Network e o Projeto Promova-, qual a sua opinião sobre o papel que estes têm no desenvolvimento atual das organizações?

Eu acho que em qualquer uma destas iniciativas, a mais valia é a partilha de experiências e as ferramentas que nos dão para nos empoderarmos ainda mais enquanto mulheres. Aqui não se trata de criar ou aumentar talento porque todas as mulheres que participaram ou participam no Promova têm talento e todas as mulheres que querem participar no Medtronic Women Network também o tem, mas sim promover o autoconhecimento, o networking, a partilha de diferentes perspetivas e de experiências profissionais e pessoais, aumentar a autossegurança e aprender a lidar com qualquer tipo de injustiça ou discriminação.

Que mensagem gostaria de deixar às futuras participantes do Projeto Promova?

Acho que posso resumir em duas palavras: dedicação e honestidade. Aproveitem todos os minutos, mesmo. É muito fácil deixarmo-nos levar pela loucura normal do dia-a-dia de trabalho, muitas vezes é difícil fecharmos o computador e desligarmos o telemóvel e fazermos uma espécie de retiro no Projeto Promova porque ocupamos cargos de relevo e somos muitas vezes solicitadas com urgência, mas vale a pena dedicarmos 100% da nossa atenção a esta experiência porque só assim vamos vivê-la em pleno, não só para conseguirmos absorver tudo o que nos é passado pelos professores e convidados, mas também pelo networking que se faz nas pausas e nos eventos.

No fundo, nós temos pontos que nos tocam, mas nós somos todas diferentes, com experiências profissionais e pessoais distintas, realidades díspares. No meu caso, eu era a única mulher a trabalhar na área da saúde e em comunicação, portanto eu não consigo qualificar a mais valia que foi aproveitar as pausas, os almoços, os jantares, em que privei com tantas mulheres extraordinariamente talentosas. E, depois, a honestidade porque, para mim, tal como para grande parte das minhas colegas, a parte do autoconhecimento foi essencial para o sucesso desta experiência, portanto é importante que entrem no Promova com total honestidade e transparência, quer em sala, quer nas sessões de coaching e mentoring.

Ouça aqui o episódio:

O Projeto Promova conta com o apoio da ANA Aeroportos, da EDP, da Randstad e da SONAE.

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