Sonae “liberta” três áreas de negócio da esfera do Continente

Processo de cisão-fusão, que envolve património de 23,3 milhões de euros, reestrutura negócios do grupo para focar MC no retalho alimentar e reforçar especialização na papelaria, pet care e marketing.

A Sonae decidiu avançar com um processo de cisão-fusão, envolvendo quatro empresas do grupo retalhista, para autonomizar as unidades de negócio ligadas aos setores da papelaria, do cuidado animal (PetCare) e do marketing. Vão ser retiradas da esfera da Modelo Continente estes “ramos de atividade que não se apresentam como sendo, atualmente e no futuro, o foco da sua atividade comercial”.

Na prática, esta operação envolve a cisão de parte do património da sociedade Modelo Continente Hipermercados SA – num total de 24,32 milhões de euros em termos líquidos, de acordo com o projeto consultado pelo ECO – e a sua fusão em três empresas (Mundo Note – Papelaria, Livraria e Serviços, SA; ZU, Produtos e Serviços para Animais SA; e Mcmkt Brands, Lda.).

No projeto de cisão-fusão, depositado junto dos serviços de Registo Comercial, o grupo justifica que esta reestruturação vai permitir à Modelo Continente “focalizar” a atividade essencialmente no comércio retalhista geral, de predominância alimentar (hipermercados e supermercados), deixando assim de exercer “algumas atividades de cariz mais residual” e que não se apresentam como “core” do seu negócio.

Por esta via, lê-se no documento, com data de 14 de abril, “potencia-se a centralização de recursos materiais, humanos e financeiros, o que por certo conduzirá a um aumento da sua performance e crescimento, permitindo-se igualmente uma redução de custos e a eliminação de eventuais redundâncias nas estruturas existentes, melhorando-se a eficiência operacional e aumentando-se igualmente a eficácia da relação com os seus fornecedores e/ou prestadores de serviços, pela identificação inequívoca das entidades com as quais interagem”.

Contactada pelo ECO, fonte oficial da empresa retalhista sublinhou que este processo societário “permitirá o destaque de determinados negócios” de uma das sociedades para outras do mesmo grupo, visando a “reestruturação de negócios, com vista à sua especialização e melhor performance de cada um” deles. É o caso daquelas em que opera com as marcas Note! (papelaria) e ZU (PetCare), e também da prestação de serviços de gestão de marcas, publicidade e marketing.

Trata-se de um processo societário de cisão-fusão, que permitirá o destaque de determinados negócios de uma das sociedades do Grupo MC para outras sociedades desse mesmo grupo, com objetivo de reestruturação de negócios, com vista à sua especialização e melhor performance de cada um dos negócios.

Fonte oficial da Sonae MC

As quatro sociedades intervenientes nesta cisão-fusão são detidas, direta ou indiretamente, pela holding MCretail, pelo que “não foi definida qualquer relação especial de troca”. O formato jurídico adotado, defende o grupo nortenho, “é aquele que apresenta maior eficiência e neutralidade, salvaguardando o benefício equitativo de todos os acionistas e os direitos de credores e de quaisquer terceiros titulares de direitos sobre as sociedades intervenientes”.

“As sociedades incorporantes são responsáveis, na medida do património incorporado, pelas dívidas da sociedade cindida, anteriores a 1 de janeiro de 2023 e até à inscrição da cisão-fusão no registo comercial e, ainda, as sociedades incorporantes respondem solidariamente com a sociedade cindida, pelas dívidas que por força da cisão, Ihe tenham sido transmitidas”, esclarece ainda o grupo retalhista liderado por Cláudia Azevedo.

Note! foca 83 lojas no “eixo escolar”

Foi em 2007, englobada na MC e ainda com a designação de BooklT, que a Sonae lançou uma cadeia de lojas especializada em produtos de papelaria, livros, presentes e serviços de conveniência. Com o rebranding operado em 2014, assume a marca Note! e uma identidade própria, orientando nessa altura a aposta para um cliente complementar ao dos hipermercados Continente.

Conta atualmente com 83 lojas físicas, uma loja online e uma estrutura central que assegura as atividades de planeamento comercial, operações de loja, marketing e comunicação, desenvolvimento de negócio, digital e expansão de lojas, que passam agora para a nova sociedade. Promete “uma reorganização interna dos recursos e focar-se estrategicamente no eixo escolar”, entrando com esta mudança em “segmentos e marcas mais direcionados, que não atuam no mercado da grande distribuição” e a iniciativas que exigem ter o comércio a retalho de livros e papelaria como atividade económica principal.

Com esta autonomização do negócio da Note!, que “permitirá em termos operacionais uma maior eficiência do processo comercial, o aproveitamento de sinergias negociais com fornecedores e maior visibilidade e transparência”, o capital social da sociedade que incorpora este negócio é aumentado em 671.530 euros, passando para 721.530 euros, com a emissão de 134.306 novas ações e a assunção de uma reserva de cisão-fusão, no montante de quase 13 milhões de euros.

Com 44 espaços, ZU “foge” aos hipermercados

No caso da ZU, a insígnia de retalho especializado que opera no setor de PetCare, o “crescimento sustentado” das vendas e a “crescente diferenciação” dos seus produtos e serviços, face à oferta disponibilizada nos supermercados e hipermercados Continente, são as explicações apresentadas para a autonomização deste ramo de negócio numa outra entidade jurídica, com gestão e recursos autónomos.

O primeiro espaço foi inaugurado em 2014 e tem atualmente um total de 44 lojas espalhadas pelo território português. E no âmbito desta mudança para “aproveitar sinergias de organização, de gestão e de expansão”, assim como permitir “promover a excelência do serviço prestado ao cliente final”, será aumentado o capital social da incorporante para 234,4 mil euros, assumindo uma reserva de cisão-fusão num valor superior a 3,5 milhões de euros.

Nos três casos envolvidos nesta operação da Sonae, as ações e a quota representativas do aumento de capital das sociedades incorporantes serão entregues à acionista da Modelo Continente, após o registo definitivo da operação, concedendo-lhe o “direito a participar” nos lucros do exercício de 2023 e nos anos seguintes, esclarece a empresa no projeto de fusão-cisão.

Brand marketing e retail media em concorrência

Na área da publicidade, gestão e promoção das marcas, a Modelo Continente, que nos últimos anos tem apostado na criação de diversas marcas – incluindo algumas próprias na distribuição alimentar –, desenvolveu uma estrutura larga de meios humanos e materiais, além de uma rede de parceiros, com estas equipas dedicadas ao brand marketing e ao retail media a moverem recursos e a envolverem-se em estratégias de comunicação “cada vez mais complexas e completas, prestando um serviço integrado ao seu cliente interno”.

No caso do retail media, por exemplo, inclui a comercialização de espaço publicitário em canais digitais e canais offline, utilizando dados agregados e anonimizados de consumo e de navegação, para personalizar e medir esta comunicação e a intermediação da compra de espaço publicitário em nome dos fornecedores, parceiros ou anunciantes. No caso desta unidade de negócio, a nova detentora assume uma reserva de cisão-fusão de quase 6,7 milhões de euros, aumentando o capital em cerca de 346 mil euros.

“A atividade destas equipas compete diretamente com os serviços normalmente prestados por outros operadores no mercado nacional e internacional ao nível da gestão das funções de marketing e publicidade, quer na perspetiva mais criativa e institucional, quer na vertente mais operacional e de aquisição, gestão e comercialização de espaços e meios publicitários”, sustenta a empresa na peça jurídica em que é detalhado este projeto de fusão-cisão.

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