BRANDS' ECO IN Conference – Transição energética: Acelerar para competir?

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  • 23 Maio 2023

O INEGI organizou, esta sexta-feira, dia 19 de maio, a 3ª edição da IN Conference.“Transição energética: Acelerar para competir?” foi o mote da conferência, que decorreu no Terminal de Leixões.

O Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões recebeu, esta sexta-feira, dia 19 de maio, a “IN Conference – Transição Energética: Acelerar para Competir?”. O evento, organizado pelo INEGI, está na sua terceira edição e, desta vez, reuniu vários especialistas do setor da energia para discutirem o futuro da transição energética no país.

Alcibíades Paulo Guedes, Presidente do Conselho de Administração do INEGI, abriu a sessão destacando a importância de se “trazer à discussão” um tema que tem sido um “desafio para vários stakeholders”.

“Os desafios são muitos e as abordagens terão que ser disruptivas em muitos casos. São desafios pertinentes para os nossos stakeholders, para nós e para o mundo. Discutir este tema é, para nós, importante. Não fazer nada ou continuar a fazer pouco não é opção”, disse.

Nesse sentido, o presidente do INEGI garantiu que discutir a descarbonização passa, inevitavelmente, por falar sobre a energia e sobre o papel da indústria. “Grande parte do trabalho vai ter de ser feito do lado da energia, mas a indústria também tem aqui um papel fundamental, aliado a um grande desafio, que é descarbonizar sem desindustrializar”.

Ainda na abertura do evento, Vítor Neves, Presidente da Direção da AIMMAP, também teve uma intervenção, na qual destacou o facto de Portugal ter alguma dificuldade em crescer economicamente e a forma como a transição energética poderia ajudar o país a superar esse desafio.

Todos temos a consciência de que a eficiência energética é fundamental para a competitividade da indústria. Sermos capazes de desenvolver capacidades que nos tornem mais independentes do ponto de vista energético deverá ser um objetivo nacional. E, aqui, o INEGI tem um papel fundamental a desempenhar para o crescimento e criação de valor em Portugal”, afirmou.

A história das transições e o futuro do país e da UE

Ao longo do evento, houve ainda espaço para duas intervenções, nomeadamente de Victor Baptista, administrador REN Portgás Distribuição, moderada por José Sampaio, Diretor para a Inovação e Transferência de Tecnologia do INEGI, e outra intervenção de Paula Pinho, responsável pela Transição Justa, Consumidores, Inovação e Eficiência na Direção Geral de Energia da Comissão Europeia, moderada por Pedro Camanho, vice-presidente do Conselho de Administração do INEGI.

Victor Baptista abordou o tema da transição energética, relembrando que, na história, o mundo já passou por várias transições relacionadas com a energia. “Tivemos o primeiro choque de petróleo, que introduziu o carvão para diversificar. Depois, nos anos 90, começa a preocupação com o carvão e, a partir de 2010, começa a preocupação com os efeitos do dióxido de carbono e CO2 por todo o mundo”, começou por dizer.

Desde então, de acordo com o responsável da Portgás, tem vindo a perceber-se uma progressão da eletricidade com recurso a várias tecnologias, no entanto, “é muito difícil fazer previsões para 2040”, tendo em conta a rapidez com que o mundo está a mudar, até pelo teletrabalho e pelas consequências dele na mobilidade.

A ideia, segundo o administrador da REN Portgás, é criar-se condições para que esta transição seja efetiva, independentemente das condições, entre elas garantir a segurança de abastecimento, a integração massiva de FER (eólica e solar), a eficiência energética e a eletrificação, o foco no consumidor, a capacidade de ter uma visão regional e Pan Europeia e o reforço de infraestruturas de redes.

Essas condições para uma transição justa estão, de acordo com Paula Pinho, da Direção Geral de Energia da Comissão Europeia, a serem colocadas em prática e a terem bons frutos. A responsável pela Transição Justa na UE também falou da história para explicar os impactos que as várias crises que a Europa atravessou trouxeram e como influenciaram nesta temática.

“Estamos em 2023 e, desde 2019, podemos dizer que já vamos na terceira crise de tipo diferente. Na altura, em 2019, foi apresentada a visão para a descarbonização da Europa, de modo a que se tornasse o primeiro continente com neutralidade climática em 2050. Para isso, tínhamos de, até 2030, reduzir em 50% os gases com efeitos de estufa, cota de renováveis de 40%, aumentar a eficiência energética em 9% e fazer face ao trilema – descarbonizar o sistema energético, assegurar a segurança de aprovisionamento, fazer com que a transição seja justa para todos e não tenha custos incomportáveis”, começou por dizer.

Só que, com a pandemia e, mais recentemente, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, todos os objetivos que a Europa tinha estipulado no Pacto Ecológico Europeu pareciam estar ameaçados e, segundo Paula Pinho, falou-se mesmo de uma “morte ecológica” do Pacto, tanto numa crise como noutra. No entanto, ao invés de se tornar mais difícil alcançar estes objetivos, a situação externa obrigou a que se tomassem medidas que até contribuíram para acelerar a transição.

“A pandemia levou a que se conseguisse recorrer a empréstimos sem precedentes no mercado. 724 mil milhões de euros foram veiculados para a recuperação económica, da qual fazia parte a transição energética e digital. E Portugal beneficiou de 14 mil milhões de euros deste valor. Já a situação de guerra fez com que tivéssemos de agir rapidamente e agimos através do REPowerEU, que tinha como principal objetivo tirar a dependência energética da Rússia. E essa estratégia identificava medidas estruturais que aumentaram a ambição relativamente às renováveis”, explicou.

Com esta estratégia, houve uma regulação do consumo de gás que consistia em reduzir o seu consumo para se conseguir “sobreviver o inverno sem o seu principal fornecedor”. Estas medidas resultaram num preenchimento de reservas de gás de 91% (quando estava estipulado 80%), numa redução de 18% do consumo de gás e na procura de eletricidade.

No entanto, apesar de estas medidas também terem potenciado a procura de energias renováveis, Paula Pinho alertou que é importante garantir que “não se passa a dependência de combustíveis fósseis para a dependência de renováveis”: “Temos um elemento a acrescentar ao trilema – a competitividade. O que acontece é que, ao nos tornarmos independentes de combustíveis fósseis, devemos evitar continuar dependentes da importação das matérias-primas críticas necessárias para as turbinas, baterias, eletrolisadores, para as bombas de calor, das quais somos dependentes hoje, nomeadamente da China“.

Oferta e Procura: Adaptação ao novo paradigma

Nesta 3ª edição da IN Conference houve, também, espaço para duas mesas redondas. A primeira, moderada por Jorge Vasconcelos, Presidente da NEWES, foi dedicada ao tema da adaptação que a oferta e a procura tiveram e ainda têm de fazer face à transição energética.

Para discutir este tema estiveram presentes na conversa Sofia Pinto Barbosa, Head of Regulation na Greenvolt; Sandro Conceição, Diretor da CIMPOR; José Passinhas, CEO da Lactogal; e Fernando Keuchen, Diretor de Siderurgia Nacional da Maia.

A eletrificação é, neste momento, o caminho mais consensual para a descarbonização dos consumos. Sabemos que temos de acelerar a transição energética”, afirmou Sofia Pinto Barbosa, da Greenvolt, ao mesmo tempo que lembrou que, para isso, é necessário “utilizar todos os espaços disponíveis, quer telhados, quer terrenos, para instalar painéis fotovoltaicos e baterias”. Com a utilização destes recursos, o objetivo é, de acordo com a responsável, “ganhar independência energética e reduzir a fatura”.

“O desafio é grande. A nossa intenção, em termos industriais, é ter uma preocupação em sermos mais eficientes energeticamente e contribuirmos para a descarbonização dos vários setores onde estamos”, disse, por sua vez, Sandro Conceição, da CIMPOR.

Para isso, o responsável da CIMPOR destacou a importância de existir “um plano adequado” às necessidades da empresa, no qual, no caso da CIMPOR, entraram os investimentos na criação de parques solares próprios.

No entanto, Sandro Conceição falou, também, dos desafios associados a estes investimentos, tais como os “processos de licenciamento, que chegam a demorar mais de dois anos” e “processos regulatórios que levam à indecisão do que vai ser o futuro porque não se conhecer o que vai acontecer”.

Estes desafios também foram apresentados por José Passinhas, da Lactogal, que admitiu a necessidade que a empresa tem de reduzir a dependência do gás através de alternativas mais sustentáveis, mas também destacou a incerteza que sentem ao dar este passo pela falta de informação relativa a ele.

Entre as medidas que a empresa está a tomar para se descarbonizar, o responsável da Lactogal destacou, no âmbito 1, a eletrificação da frota automóvel e a redução em 50% das emissões com gases de efeito de estufa. No âmbito 2, a incorporação de maior autonomia energética com soluções de energia renovável para autoconsumo; uma maior eficiência energética ao nível dos processos industriais; a redução de 80% das emissões com gases de efeito de estufa. E, por fim, no âmbito 3, a aposta no ecodesign, diminuição de resíduos e consumos de embalagens.

Ainda no âmbito das emissões com gases de efeito de estufa, Fernando Keuchen, da Siderurgia Nacional da Maia, revelou que “a indústria siderúrgica é responsável por 80% das emissões de CO2” no mundo. No entanto, tudo muda dependendo da linha de produção usada no processo de produção do aço.

“Há duas linhas de produção de aço: uma por transformação de minério de ferro, que obtém aço por meio de uma redução com fontes fósseis, e a outra linha, que é a que existe em Portugal, que produz aço por meio de fundição de sucata, ou seja, reciclagem. E essa fundição é feita com energia elétrica”, explicou.

O facto de Portugal fazer esta produção de forma mais sustentável levou a que o responsável da Siderurgia Nacional da Maia afirmasse que “a siderurgia, em Portugal, é o maior reciclador do país”. “Somos uma indústria chave na resolução do problema ambiental”, concluiu.

Tecnologias para a Transição Energética em diferentes indústrias

Na segunda mesa redonda do evento, moderada por Carlos Moreira da Silva, CEO da Teak Capital e ex-presidente da BA GLASS, e que teve como oradores Luís Monteiro, Responsável pelo Programa de Combustão Verde na Unidade de Negócios de Águas Quentes Residenciais da Bosch Termotecnologia; Nuno Lago de Carvalho, CCO da Caetano Bus e Administrador da Caetano UK; Adelino Costa Matos, CEO da WAM Investments; e Manuel João de Almeida, vice-presidente de Engenharia na Vestas Wind Systems, foi discutida a importância das tecnologias para a transição energética em diferentes indústrias.

“Ao nível europeu, o aquecimento é feito maioritariamente através de soluções a gás e a tendência agora é de fazer a transição para a eletrificar, através das bombas de calor. A proposta que está em cima da mesa é de as caldeiras serem banidas até 2029. E isto é um desafio muito grande para toda a sociedade“, afirmou Luís Monteiro, da Bosch Termotecnologia.

Em Portugal, de acordo com o responsável da Bosch, “há cerca de quatro milhões de esquentadores instalados”. Por essa razão, Luís Monteiro considera que “passar tudo para elétrico não é a única solução, até porque há gases renováveis que podem ser usados nos esquentadores já existentes sem precisar de mudar nada em casa”.

Por sua vez, do lado do setor automóvel, Nuno Lago de Carvalho, da Caetano Bus, revelou que existem algumas nuances no que diz respeito à descarbonização nesta indústria. “Motores a hidrogénio não são zero emissões, à data de hoje. Poderá vir a ser uma solução para veículos pesados”, disse.

A transição está a ser feita numa perspetiva de eletrificação – a bateria ou hidrogénio. A grande vantagem do segundo é que num autocarro elétrico temos duas toneladas e meia de baterias, enquanto num a hidrogénio temos apenas 500 quilos de bateria. Por essa razão, as duas tecnologias vão coabitar“, garantiu.

Do lado dos investidores e dos fabricantes de soluções, a perspetiva é muito semelhante. Tanto Adelino Costa Matos, da WAM Investments, como Manuel João de Almeida, da Vestas Wind Systems, concordam que os objetivos do governo são “irrealistas”.

“Conseguirmos, até 2030, ter 9GW de capacidade instalada no onshore parece-me muito, mas possível. Agora, ter 10GW de offshore, na minha opinião, é impossível. A Europa inteira tem 28GW a 30GW instalados em anos e Portugal quer ter ter 10GW instalados até 2030. Mesmo que juntássemos a capacidade toda da UE, isto demoraria 40 anos a instalar. Portanto, pensar que daqui a sete anos teremos 10GW de capacidade instalada é irrealista“, explicou.

Esta incapacidade é, de acordo com Manuel João de Almeida, acrescida pela falta de maturidade da indústria para responder às necessidades de novos produtos. “Com o crescente destes novos produtos, chegamos a um ponto em que o modelo de negócio para o mercado offshore é financeiramente insustentável porque faz com que os fabricantes fiquem num ciclo sempre em escala. Isto faz com que o resto da infraestrutura, nomeadamente a cadeia de valor, não acompanhe. Ou seja, ficamos com um produto que tem maturidade, mas o que nos falta é maturidade na indústria em si, no transporte, na logística, etc”, concluiu.

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