BRANDS' ECO “O futuro dos pagamentos será fluido e invisível”

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  • 31 Maio 2023

Os desafios da transição digital no setor dos pagamentos e as vantagens que esta traz a vários setores, principalmente ao da mobilidade, foram apresentados por Maria Antónia Saldanha, da Mastercard.

A transição digital tem trazido vários desafios a muitas empresas, mas também vantagens que acabam por compensar o esforço de adaptação e de procura de conhecimento numa fase inicial desta transformação.

Neste sentido, a facilidade que a digitalização trouxe ao setor dos pagamentos, principalmente com a pandemia, veio para ficar, mas agora é tempo de se continuar a modernizar. No entanto, essa modernização implica lidar com alguns desafios, que são necessários ultrapassar para garantir que as empresas e consumidores acompanham o progresso tecnológico e usufruem das suas vantagens.

Maria Antónia Saldanha, Country Manager da Mastercard em Portugal, explicou, em entrevista ao ECO, quais as dificuldades mais sentidas na adaptação a esta nova realidade, mas também apresentou vários projetos que a Mastercard tem levado a cabo, a fim de modernizar várias regiões do país, de forma a torná-las mais atrativas através do investimento em tecnologia, concretamente no setor dos pagamentos.

A Mastercard, enquanto referência no setor de pagamentos, acompanha de perto a transição digital das empresas e a respetiva evolução. Quais os principais desafios na mudança e adaptação a esta nova realidade?

Depois dos momentos de pandemia terem testado todos os planos de transformação digital e terem impulsionado até os mais céticos a adotarem novos modelos de funcionamento, agora temos estado focados na sofisticação. Anteriormente a urgência era manter os negócios ativos e dar serviço aos consumidores. Agora podemos investir, com as empresas, na evolução para ambientes cada vez mais digitais e trazermos os benefícios da tecnologia para melhorar a experiência dos clientes, desde a compra ao pagamento, seja em ambiente físico ou online.

Assim, posso identificar três desafios principais. O primeiro, ao nível do checkout online. Desenvolvemos uma solução simples, segura e sem atritos, ou seja, sem necessidade de introdução manual de dados ou passwords. É uma avançada tecnologia para pagamentos online, desenvolvida com base nos padrões da indústria e nos métodos de segurança inteligente da Mastercard.

O segundo desafio está relacionado com o online banking. Já evoluímos do atendimento ao cliente nas agências de rua para plataformas online e experiências digitais, criadas a pensar nos utilizadores. Agora apoiamos as entidades para o passo seguinte, para soluções assentes em open banking. Com soluções como as da Aiia, uma fintech adquirida pela Mastercard, as empresas têm a possibilidade de criar, de forma fácil e rápida, experiências de pagamento altamente personalizadas, uma mudança incrivelmente poderosa e que aumenta a taxa de inovação no setor de serviços financeiros.

Por fim, o terceiro grande desafio é o da segurança. E não é só a cibersegurança. É, também, a necessidade de conjugar simplicidade sem comprometer a segurança dos pagamentos. São duas áreas em que a Mastercard também tem apostado, seja através de soluções como o RiskRecon e o Cyber Quant, que permitem às empresas reduzir a sua exposição ao risco, avaliando recursos internos e mitigando o risco de cibersegurança em terceiros, seja através das soluções de biometria que já estão aplicadas em programas como o Biometric Checkout, uma estrutura de tecnologia inédita para ajudar a estabelecer os padrões para as novas formas de pagamento em lojas de todos os tamanhos, desde grandes retalhistas até lojas familiares. Na prática, o futuro dos pagamentos vai ser cada vez mais contínuo e virtualmente invisível, à medida que a tecnologia se torna mais autónoma e personalizada e sem atritos, para as empresas e para os consumidores.

Para além das empresas, a inovação tecnológica e as novas formas de pagamento também representam um repto para os consumidores. Como avaliam a aceitação destas novas formas de pagamento?

A aceitação dos consumidores às novas formas de pagamento tem sido fantástica e mostra que os portugueses não só são early adopters, como são inteligentes na adoção das inovações, porque percebem as eficiências que essas soluções lhes trazem no seu dia-a-dia. Os números mostram como os consumidores aderiram ao contactless seja com cartão, seja com soluções em dispositivos móveis, nomeadamente as que são proporcionadas por serviços internacionais porque são de aceitação global, isto é, podem usar no seu local de residência ou quando viajam. A mesma experiência e sistema facilita a adoção instantânea.

Contudo, ainda há alguns gaps que precisam de ser corrigidos em Portugal. Um dos setores que tem muito para evoluir ao nível dos pagamentos é, por exemplo, o dos transportes públicos. É incrível que, num país como o nosso, comprar um simples bilhete de autocarro seja ainda tão complexo. Então se for um turista, ainda pior, porque são sistemas que só aceitam numerário ou sistemas domésticos e locais.

Mas isso também vai mudar e a Mastercard está a contribuir decisivamente para isso. Fizemos uma parceria global com a Ubirider, uma startup portuguesa que criou uma app e uma plataforma de mobilidade (MaaS) que serve passageiros, operadores de transportes, revolucionando a mobilidade nas cidades. Esta colaboração já evoluiu o serviço de bilhética e acesso aos transportes em duas regiões em Portugal, com uma solução facilmente escalável para a maioria das regiões em Portugal, que ainda não têm serviço global e aberto de acesso aos transportes, e ganhos imediatos de eficiência para operadores que podem ser demonstrados.

Maria Antónia Saldanha, Country Manager da Mastercard em Portugal, no evento New Money
Com a pandemia, assistiu-se à criação de novos modelos de negócio, o digital ganhou peso, houve um boom do e-commerce e parece que estes novos hábitos e formas de consumo vieram para ficar. Analisando os dados, até que ponto estes modelos de negócio potencializaram novas formas de pagamento?

Estiveram de braço dado na maioria das vezes porque muitos dos novos modelos de negócio resultaram da necessidade de prestar um melhor serviço ao cliente, que passa muitas vezes por incorporar soluções de pagamentos mais simples, cómodas e seguras. Temos ótimos exemplos no setor do turismo, onde assistimos à potencialização de novas formas de pagamento. Foi um setor em que Portugal teve uma recuperação espetacular e no qual continuamos a investir. O Nest – Centro de Inovação do Turismo, com quem temos uma parceria longa, tem colaborado com a Mastercard em várias iniciativas que querem trazer inovação para o setor do turismo. O “IDfastrack” é um bom exemplo da co-inovação: é uma plataforma digital que permite realizar check-in em vários serviços de turismo, de hotéis a rent-a-cars, totalmente gerida e controlada pelo utilizador, poupando tempo, evitando repetições e preenchimentos desnecessários de dados. O protótipo da IDfastrack está em fase de piloto no contexto de uso em Turismo Termal, inserido no programa da “Agenda Acelerar e Transformar o Turismo” no quadro do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência. Esta agenda, em fase de assinatura do Termo de Aceitação, junta 38 entidades que se propõem a investir 128 milhões de euros de 2023 a 2025 para inovar no turismo.

Outra iniciativa que está prestes a arrancar, ainda este semestre, é o Open Call for Inovation em Smart Mobility, integrado no Programa FIT 2.0 do Turismo de Portugal, para aceleração de startups com soluções de pagamentos e interoperabilidade em mobilidade, para que, a partir de Portugal, se desenvolvam projetos piloto e aplicações best in class para melhorar a experiência dos turistas.

A Mastercard, enquanto promotora de pagamentos fáceis e seguros, preconiza a ideia de um mundo sem pagamentos em numerário. Será uma utopia ou uma realidade possível?

Os pagamentos digitais são cada vez mais uma realidade e olhando para os números do estudo que realizámos (‘’Barómetro de cartões para Microempresas, PME e Médias Empresas”) vemos que Portugal ainda tem um potencial de digitalização dos pagamentos muito grande: apenas 30% das empresas no nosso país aceita pagamentos através de um terminal de pagamento (POS), uma percentagem que aumenta para 54% no caso de empresas de média dimensão. Segundo o mesmo estudo, vemos que cerca de 27% das empresas revela deter um POS físico, uma percentagem que sobe para mais de metade (58%) no caso das empresas de média dimensão, e só 8% tem um POS virtual. E, quando inquiridas se utilizam um POS físico ou virtual, as percentagens variam consoante a dimensão da empresa: 23,4% dos trabalhadores independentes referiram utilizá-lo, uma percentagem que sobe para 39% no caso das microempresas e 54% nas empresas de média dimensão.

Ou seja, ainda podemos acelerar mais empresas a adotarem meios de pagamentos digitais. Com este propósito, a Mastercard tem desenvolvido diversas iniciativas em todo o país. Por exemplo, fizemos uma parceria com a VivaWallet em Évora para apoiarmos a transformação digital na cidade e permitir aos comerciantes locais adotar pagamentos contactless nas suas lojas, através da tecnologia Tap on Phone.

O uso de meios digitais de pagamento traz mais eficiência e transparência às sociedades e economia. E temos de o fazer enquanto asseguramos a inclusão financeira, um tema que nos é particularmente sensível e no qual investimos muito também. Os nossos projetos de inclusão são dirigidos a consumidores, mas também a PME – a pandemia aumentou a desigualdade na digitalização entre as grandes e as pequenas empresas que têm menos acesso à tecnologia adequada para vencerem num mundo cada vez mais digital. Por essa razão temos um projeto para ajudar 50 milhões de PME em todo o mundo e, dentro destas, em ligar 25 milhões de mulheres empresárias com as ferramentas necessárias para poderem prosperar, um apoio fundamental para garantir a igualdade de oportunidades.

Que tendências do setor de pagamentos aponta precisamente como realidades no futuro próximo?

O futuro próximo consiste em reimaginarmos o dinheiro. Isto é, a definição de dinheiro está a expandir-se para incluir ativos não tradicionais, como dados, criptomoedas e ativos digitais. No futuro, trocaremos estes ativos de forma rotineira e contínua em transações quotidianas.

Estamos no centro da revolução digital, na qual vale a pena distinguir tecnologia e tendências de pagamento onde vemos tendências muito interessantes que estão a ganhar importância. Uma a que a Mastercard está a prestar particular atenção diz respeito ao chamado comércio conversacional ou comércio social, que tem sido muito impulsionada pelas novas dinâmicas de influenciadores. É um comércio em que a compra é feita, numa rede social ao invés de um market place, em que uma conversa pode acabar numa transação e num pagamento, mesmo que essa conversa seja com um bot. E nesta operação é fundamental assegurarmos que a transação e o pagamento são seguros e feitos de forma simples e conveniente.

Os consumidores também vão querer usar o poder dos seus dispositivos móveis nas compras em loja para ter uma melhor experiência de compra. Ao invés de ter interação com os comerciantes apenas no momento de pagar, proporcionar que interações aconteçam mal entramos na loja, através do que chamamos de próxima geração de POI, ou seja, ponto de interação.

Quanto às tendências tecnológicas, temos, inevitavelmente que olhar para o potencial do 5G e do 6G, que trarão novos modelos de negócio, da mesma forma que o 4G trouxe e que foi a chamada “economia de assinatura”, em serviço de streaming de conteúdos.

Outro aspeto importante que vemos no futuro próximo como muito importante é o carregamento de veículos elétricos, para o qual bastará ter um cartão ou dispositivo móvel. Na prática, é um tipo de pagamento máquina-a-máquina, que foi pré-programado ou predefinido, que terá, com grande probabilidade, um forte crescimento, sobretudo através dos sensores com IoT.

Como referi, o futuro dos pagamentos será fluido e invisível à medida que a tecnologia se torna mais autónoma e personalizada e sem atritos, para as empresas e para os consumidores.

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