BRANDS' ECO De 40% de dependência face ao gás russo, para 9%: como a Europa fez acontecer, e o que se segue na transição energética
Conferência internacional debateu a direção estratégica e as soluções no terreno para acelerar a transição climática.
2022 foi um ano sem precedentes para a UE e para o mundo na política energética. A invasão russa da Ucrânia e a crise energética que lhe está associada tornou o caminho da Europa muito claro no que respeita à transição dos combustíveis fósseis para um sistema energético mais limpo. E esta é a única via para construir um continente não só mais sustentável como também mais seguro, como concluíram os líderes presentes, a 30 de março, no segundo evento realizado pela Deloitte, no âmbito do ciclo de eventos “Reshaping Europe to Build a More Sustainable Future”.
A União Europeia tem estado na vanguarda dos esforços globais para combater as alterações climáticas e a transição para um sistema energético de baixo carbono. Estes esforços são guiados pela meta de alcançar uma economia neutra em termos climáticos até 2050, tal como estabelecido no Pacto Verde Europeu.
Lídia Pereira, Membro do Parlamento Europeu para a COP27 com trabalho notável dentro da temática da descarbonização e do combate às alterações climáticas, que se tem destacado como a eurodeputada que mais tem desafiado os Estados-membros e os países do G20 a ter maior ambição nas políticas sobre o clima, vincou no seu discurso e nas conclusões do evento, a necessidade da aceleração do ritmo no que diz respeito à transição energética e climática.
"Para atingir os objetivos da transição energética e climática na UE o ritmo tem de ser acelerado.”
A Comissária Europeia para a Energia, Kadri Simson, sublinhou que a Europa tem trabalhado arduamente para garantir fornecedores de gás não russos (dos EUA, Noruega, Azerbaijão, Egipto e Israel, entre outros) e um sistema energético mais limpo. A keynote speaker assegura que a política da UE para eliminar a dependência energética da Rússia está a funcionar. Como comprovam os números: se antes da guerra cerca de 40% dos pipelines e do fornecimento de gás à UE eram provenientes da Rússia, agora são apenas 9%.
"O mundo é hoje um lugar muito diferente do que era há um ano. Assistimos desde o início da guerra a preços dolorosos e à utilização da energia como arma pela Rússia. O desafio mais imediato para a UE é garantir a segurança energética.”
O foco em assegurar infraestruturas adequadas para acomodar entregas adicionais e acelerar os investimentos em novas estruturas mais ecológicas complementa o regulamento do gás adotado em Junho. Nesse regulamento, a UE apela aos Estados membros para que garantam pelo menos 80% do seu armazenamento de gás e instalem bombas de gás, contadores inteligentes e painéis solares, com vista a reduzir a dependência do combustível fóssil russo e as contas de energia, contribuindo simultaneamente para a mitigação das alterações climáticas.
A UE estabeleceu como objetivo a redução das emissões de gases com efeito de estufa em, pelo menos, 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990; mas para atingir este objetivo a UE precisa de aumentar a utilização de energias renováveis, eletrificar o setor dos transportes e aumentar a eficiência energética.
Nesse sentido, Kadri Simson acrescentou ainda que “quando falamos de soluções a longo prazo para a crise temos de recorrer às energias renováveis”, que são “a fonte de energia mais limpa, segura e sustentável”, mas também a que permite “acabar com a nossa dependência estrangeira”.
A transição energética apresenta, por isso, oportunidades significativas para o crescimento económico e a criação de emprego, no entanto, a mudança para um sistema energético de baixo carbono exigirá investimentos significativos em energias renováveis, armazenamento de energia e infraestruturas digitais. Estes investimentos podem criar novas indústrias e empregos, estimular a inovação e aumentar a competitividade da UE.
No painel moderado por Anna Kowalewska, Deloitte Central Europe Sustainability Leader – que enfatizou o facto de o relatório publicado na semana passada, confirma que é premente “trabalhar em conjunto para assegurar uma redução sustentável das emissões em todos os setores, durante a próxima década” – Simone Mori, Head of Europe da Enel, multinacional italiana de geração e distribuição de eletricidade e gás, destacou o bom desempenho da Europa no setor da Energia, no atual contexto de guerra. Na sua opinião, assiste-se a um aumento muito relevante dos investimentos em energias renováveis, principalmente a nível do distribuidor. Mas devemos olhar para a reestruturação do sistema energético europeu a longo prazo.
"Fomos capazes de encher os depósitos de gás e atingimos notavelmente o objetivo de reduzir a sua procura em, pelo menos, 15%, sem desvalorização do padrão de vida ou crash no mercado.”
Contudo, a transição energética também apresenta desafios significativos, incluindo garantir a segurança energética e abordar os impactos sociais e económicos da transição. Para superar esses desafios, a UE deve adotar uma abordagem abrangente e integrada da política energética, envolvendo todas as partes interessadas e garantindo uma transição justa para trabalhadores e comunidades afetadas.
Por essa razão, Joe Oliver, Government and Public Services Energy Sector Leader da Deloitte, defendeu que a iniciativa REPowerEU pode ser benéfica, quer a nível de políticas e diretrizes para a transição, quer na redução de custos inerentes e na criação de condições para a expansão da capacidade de transporte e distribuição de energia renovável. E conclui que “a Europa agiu admiravelmente este último ano”, avançando “consistentemente para políticas mais verdes”.
"Ainda é necessário um aumento anual de cerca de 25% da energia proveniente de fontes renováveis.”
Ainda assim, a transição energética e o clima na UE representam um desafio complexo e multifacetado, bem como uma oportunidade para construir um futuro mais sustentável e próspero para a Europa.
Neste âmbito dos desafios, Kris Peeters, Vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), salientou o facto de a Europa precisar de muito dinheiro para tornar os seus desejos e objetivos realidade. O responsável explicou que desde a crise energética foram estabelecidos dois objetivos importantes na sua política de financiamento: independência da Rússia e ter energia verde. O roteiro bancário “solidifica que em 2030, 50% dos nossos investimentos devem estar relacionados com o clima, bem como investidos no programa “REPowerEU”, conclui, apelando à inovação competitiva e envolvimento do setor privado na luta pela independência energética.
"O Banco Europeu de Investimento fez um investimento significativo de 1,7 mil milhões de euros para garantir que a energia produzida na Ucrânia possa ser estabilizada.”
Na conclusão do webinar, Miguel Eiras Antunes, Public Sector, Central Europe Leader da Deloitte, sublinhou o trabalho que é necessário fazer em conjunto, corroborando que é premente “agir agora”.
"Ainda temos um grande salto em frente, mas precisamos de o dar juntos.”
Reshaping Europe é uma iniciativa da Deloitte que, através de uma série de cinco discussões de alto nível dedicadas às políticas globais, reúne um conjunto de senior stakeholders em torno dos desafios atuais da Europa. Os líderes partilham as suas visões sobre a reconciliação das prioridades da UE com as necessidades de segurança e de uma abordagem humanitária eficaz, e debatem a construção de uma Europa pós-pandémica e em guerra mais verde, mais digital e mais resiliente.
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