Os concelhos onde ficou (muito) mais difícil comprar casa

O esforço financeiro exigido às famílias para comprar casa duplicou no espaço de três anos. E a culpa não é só da subida dos preços dos imóveis e da galopante escalada das taxas de juro.

Está cada vez mais difícil comprar casa. No espaço de apenas três anos, o esforço financeiro exigido às famílias para comprar casa duplicou em mais de metade dos 24 municípios mais populosos do país.

Habitação no PortoFilipa Brito/CM Porto

De acordo com cálculos do ECO, no primeiro trimestre de 2020, no começo da pandemia de Covid-19, uma casa em Portugal de 60 metros quadrados adquirida por via de um crédito à habitação a 30 anos, indexado à taxa Euribor a 12 meses e com uma entrada de 20% do capital, traduzia-se, em média, numa prestação equivalente a um quinto do rendimento do agregado familiar. No primeiro trimestre de 2023, essa mesma casa comprada sobre os mesmos moldes financeiros, exige uma taxa de esforço de 38%.

Em apenas três anos, a taxa de esforço das famílias portuguesas para comprar casa aumentou, em média, 1,9 vezes nos 24 municípios mais populosos do país, que albergam mais de 100 mil habitantes. Trata-se de um aumento extremamente agressivo, sobretudo se pensarmos que entre o primeiro trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2022 houve apenas uma ligeira alteração do esforço financeiro das famílias para se tornar proprietário de um imóvel.

E entre os que mais sentiram o aumento da dificuldade em trocarem de casa nos seus concelhos estão os residentes na área metropolitana de Lisboa, particularmente no Seixal, Setúbal e Sintra, onde a taxa de esforço mais do que duplicou desde o primeiro trimestre de 2020.

 

A suportar a pressão sobre o orçamento das famílias nos últimos três anos está a subida dos preços dos imóveis, que escalaram a um ritmo médio anual de 10% entre 2020 e 2023, e também o forte aumento das taxas de juro neste período, que se repercutiu na passagem das taxas Euribor de valores negativos para taxas já acima dos 4% – como já sucede com a Euribor a 12 meses.

Mas o aumento da dificuldade das famílias em comprar casa é também gerado pelos baixos salários dos portugueses e pelo parco crescimento dos seus rendimentos nos últimos três anos, pelo menos a comparar com a subida das casas. De acordo com cálculos do ECO, com base nas estatísticas do rendimento ao nível local e da evolução da remuneração bruta mensal média por trabalhador disponibilizados pelo INE, o rendimento bruto das famílias terá aumentado a um ritmo médio anual de 5,4% entre 2020 e 2023, cerca de metade da subida dos preços das casas.

A pressão da subida dos preços do imobiliário e dos juros na carteira das famílias nos últimos três anos foi tão grande que, na maioria dos casos, para hoje conseguirem comprar uma nova casa no seu concelho, as famílias têm de optar por um imóvel com uma área inferior ou avançar com mais capital como entrada. Só assim conseguem cumprir com as medidas macroprudenciais do Banco de Portugal, que os bancos têm de garantir na concessão de um crédito bancário.

Em Lisboa, por exemplo, o concelho que apresenta o preço por metro quadrado mais elevado do país (3.965 euros) e o segundo concelho (apenas superado por Oeiras) com os mais elevados rendimentos por agregado familiar (acima dos 16 mil euros brutos por ano), essa mudança é drástica.

Se no primeiro trimestre de 2020 uma família lisbonense necessitava apenas de avançar com 20% do valor da escritura para comprar uma casa de 60 metros quadrados, que lhe conferia uma taxa de esforço média de 42%, ficando abaixo da fasquia de 50% (máximo permitido pelo Banco de Portugal), agora tem de avançar com 45% do capital da escritura para continuar a viver numa casa de 60 metros quadrados ou então terá de encontrar uma casa nova com uma área máxima de 42 metros quadrados.

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