BRANDS' ECO Queres ser um bom Controller? Então, não sejas controlador!

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  • 27 Setembro 2023

O controlo de gestão e as funções de Controller são determinantes na performance da Gestão. Conhece aqui nove dicas para ser um excelente profissional no controlo de gestão da tua organização.

A função do controlo de gestão ocupa uma posição cimeira nas organizações. Que não se pense tratar-se de um sub-departamento da contabilidade ou das finanças. Não! O controlo de gestão exige uma visão generalista, multidisciplinar e de negócio. Interage com as várias áreas da gestão e se, de alguma forma, o associamos à contabilidade e às finanças, é porque o controlo de gestão tem também de dominar os números e o reporting financeiro e contabilístico.

O controller é um maestro. O maestro ensina, motiva e orienta os seus músicos para tocarem com precisão, equilíbrio, unidade e energia. O controller, com esta ou outra designação, é alguém que domina as boas práticas do controlo de gestão e que as usa para focalizar a atenção dos gestores, para alinhar a organização em torno de um propósito, para promover uma gestão orientada para os resultados. Em suma, para apoiar os gestores a tomarem decisões, boas decisões!

A montante, o controller trabalha com informação contabilística e financeira, com indicadores financeiros e não financeiros, com alertas e semáforos, com instrumentos de gestão e de controlo de gestão; e com os gestores e os aspetos relacionados com a liderança, autonomia, responsabilização e motivação das equipas; com os temas da estratégia e descentralização para as operações; e a transformação digital dos negócios e o impacto na informação de gestão; e os sistemas de informação, quer transacionais quer de reporting.

Se queres ser controller e implementar práticas de controlo de gestão que de facto impactem a tua organização e a sua performance, lê com atenção estas nove dicas:

1. Sê um parceiro do negócio e dos gestores

Avaliar a performance da gestão é responsabilidade de todos os gestores, é transversal a toda a organização. O controller é o especialista que domina os instrumentos do controlo de gestão. Mas, mais do que usá-los para si, deve assegurar que as boas práticas do controlo de gestão proliferam pela estrutura e são usadas pelos gestores. E porquê? Porque são os gestores que precisam de informação e que tomam decisões de gestão; são os gestores que operacionalizam a estratégia, que perseguem os objetivos, e que devem estar alerta para a emergência de novas oportunidades e objetivos. Ok, o controller é o maestro, mas a música é da responsabilidade dos gestores! Por isto, o controller deve assumir-se, não como um controlador, mas como um parceiro dos gestores e do negócio. Alguém que desenha, implementa e põe a funcionar as melhoras práticas de controlo de gestão e que garantam a monitorização da performance do negócio, a realização dos objetivos e da estratégia, e a permanente vigilância sobre os riscos e oportunidades que emergem.

Se queres ser controller, estuda o negócio, sê um parceiro da gestão, promove a colaboração e a resolução de problemas. Conhece os números, mas interpreta-os como resultado das decisões e desempenhos a montante.

2. Desenvolve competências comerciais

Ser parceiro do negócio significa conhecer também o mercado. Controllers com competências comerciais estão mais alerta para as oportunidades de mercado. E o perfil comercial reforçará o relacionamento do controlo de gestão com as áreas não financeiras do negócio, como a comunicação e o marketing.

O envolvimento com o mercado dar-te-á condições para melhor identificar os drivers da performance financeira, a olhar para o futuro mais do que para o passado, e a aproximar-te das discussões estratégicas do negócio.

3. Domina o tratamento e análise de dados

Como em outras áreas da gestão, também o controlo de gestão usa dados, por vezes em grande quantidade, para produzir informação de gestão. Informação financeira – sobre vendas, resultados, custos, investimentos, de forma analítica – e não financeira – leads, tendências do mercado, o comportamento dos consumidores.

A ciência de dados tem um papel importante no futuro da função de controlo de gestão, tanto na preparação de análises avançadas, como na automação e eliminação de tarefas repetitivas. Se os dados contabilísticos já por si estão sujeitos a normalização, automação e tratamento para análise, o controller enfrenta o desafio adicional de garantir a fiabilidade, transparência e relevância dos dados e dos indicadores de negócio, esses por vezes dispersos pela organização, e em múltiplas bases de dados internas e externas.

Faz parte das tuas atribuições garantir a disponibilidade e adequabilidade da informação e dos relatórios de gestão que apoiam a monitorização da performance e tomada de decisões. O tratamento e uso de dados diversos, e não apenas financeiros, dá-te, a ti controller, uma visão holística da organização e uma melhor compreensão daquilo que os indicadores dizem e como se relacionam.

4. Agarra os ESG, mesmo que ainda não saibas bem como

Motivadas pela pressão dos investidores, clientes, fornecedores e restantes stakeholders, os temas ambientais, sociais e de governo têm cada vez maior destaque. Os ESG farão parte da agenda de todas as organizações e o controlo de gestão estará naturalmente envolvido. Por um lado, na preparação, discussão e reporting dos indicadores ESG; mas, acima de tudo, na explicação, aos vários stakeholders internos e externos, da forma como o tema dos ESG está integrado e alinhado com a estratégia da empresa. O controlo de gestão e o controller poderão dar um forte contributo alertando a organização para a importância e emergência do tema, apelando à colaboração e mostrando de que forma o desempenho financeiro é e será impactado pelo desempenho nos aspetos ambientais, sociais e de governo.

Integrar os ESG e os seus indicadores específicos de reporting na gestão, é uma tarefa do controlo de gestão. Agarra-a.

Ana Maria Simões, Comissão Executiva do Iscte Executive Education (IEE), Diretora da Pós-Graduação em Controlo de Gestão e Execução da Estratégia e da Pós Graduação em Finanças e Controlo Empresariais (IEE)

5. Não pares de estudar

Se queres ser controller, não podes especializar conhecimentos. O controlo de gestão envolve múltiplas temáticas da gestão. Desde sempre as finanças e a contabilidade, corpo de conhecimento técnico e de detalhes. Mas envolve igualmente a estratégia e a sua tradução e operacionalização em objetivos e ações ou decisões. Impacta na gestão das pessoas por via da criação de condições para delegar e responsabilizar, motivar, avaliar. Impacta o tratamento e análise de dados porque o controller é o garante da fiabilidade e adequabilidade da informação. Impacta a transformação digital dos negócios na sua monitorização e definição de resultados esperados. Impacta os sistemas de informação porque se relacionam com as equipas de implementação de sistemas. E, por vezes, impacta até a fiscalidade porque tais temas se colocam aquando da tomada de decisões. E, depois, aposta na diversidade de experiências e nas competências relacionais, como as capacidades de comunicação, persuasão e negociação.

Não pares de estudar. Não te especializes. Domina os números e agrega experiências e conhecimentos nos múltiplos temas que interagem com as funções do controlo de gestão.

6. Entende e promove o agile

Os dias de hoje exigem gestores vigilantes e capazes de dar resposta à mudança e imprevisibilidade. As práticas de controlo de gestão devem orientar a organização para os resultados, mas valorizando a capacidade de resposta à mudança (ao invés de seguir o plano à risca), a colaboração e resolução dos problemas (ao invés dos procedimentos e da burocracia).

Se és responsável pelo controlo de gestão, define com os gestores objetivos de negócio, mas partilha a necessidade de criar oportunidades, de inovar, de fazer emergir ações, e de concretizar. E implementa instrumentos de controlo de gestão que promovam a agilidade e a flexibilidade. Pouca informação, poucos indicadores, mas que focalizem e alinhem a organização.

7. Olha para a floresta, mas não descures as árvores e as flores

Já aqui se disse. O controlo de gestão exige uma visão generalista e multidisciplinar, e interage com variadas áreas da gestão. Um bom modelo de controlo de gestão orienta e focaliza a atenção para os objetivos. Dá autonomia no que toca à implementação das ações e favorece a agilidade para agarrar a mudança e convertê-la em algo positivo para os resultados. Por tudo isto, o controller deve manter a perspetiva do todo, deve ter a capacidade de olhar e promover a performance global e integrada. Mas deve igualmente manter o alerta e a vigilância sobre os detalhes e drivers que impactam e explicam o desempenho da organização. Estes detalhes são, muitas vezes, os semáforos que antecipam problemas.

Cria os semáforos, indicadores de operação ou financeiros, que permitam aos gestores agir e mitigar problemas futuros, aproveitar as oportunidades que emergem. Cuida da floresta e garante que as árvores e as flores não foram esquecidas.

8. Deixa claro o propósito do controlo de gestão

Afinal, para que serve o Controlo de Gestão? Para controlar a gestão…. Errado!

Claro que o controlo de gestão usa indicadores e relatórios que monitorizam a gestão. Claro que, no limite, o controlo de gestão, olha para a performance numa linguagem financeira, e informa se o negócio gerou ou não valor financeiro. Claro que nenhum de nós gosta de ser controlado, só para ser controlado.

As boas práticas de controlo de gestão promovem a autonomia dos gestores e a responsabilização pelos resultados. Autonomia e responsabilização são parceiros, neste contexto. O sistema controlo de gestão deve assumir-se como o conjunto de instrumentos técnicos e comportamentais que se colocam ao serviço dos gestores para os apoiar naquilo que fazem – decidir. Tomar boas decisões, alinhadas com a visão e objetivos corporativos e orientadas para a concretização de resultados, sejam financeiros ou não financeiros. O controlo de gestão tem como propósito apoiar a gestão e os gestores, garantir o alinhamento e promover a melhoria da performance das organizações. No contexto empresarial, tal significa garantir a criação de valor para os investidores.

Se queres ser um bom controller, não sejas controlador! Serve a gestão.

9. Sê resiliente e implementa instrumentos de diálogo

Já aqui foi dito. O controlo de gestão é para os gestores e é para ser praticado pelos gestores. Alguns vão resistir porque associam esta função da gestão a burocracia, perda de tempo, controlo, auditoria, fiscalização.

Um bom controller implementa práticas que desconstruam esta visão redutora do controlo de gestão e, em simultâneo, instrumentos de diálogo que envolvam os gestores no processo de controlo de gestão. Reuniões regulares para avaliar e dar feedback, acesso a informação e indicadores relevantes nos quais os gestores se reveem, participação dos gestores na construção do modelo de controlo de gestão, integração da performance da gestão na avaliação do desempenho individual, entre outros.

Se queres cumprir o teu propósito enquanto controller, mostra aos teus clientes, aos gestores, a relevância do controlo de gestão.

Ana Maria Simões, Comissão Executiva do Iscte Executive Education (IEE), Diretora da Pós-Graduação em Controlo de Gestão e Execução da Estratégia e da Pós Graduação em Finanças e Controlo Empresariais (IEE)

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