Novo travão às rendas em 2024 levará 46% dos senhorios a rescindir contratos, mostra inquérito

  • Ana Petronilho
  • 12 Outubro 2023

Inquérito da ALP revela que quase metade dos proprietários vai rescindir o contrato e 25% vai subir o valor pedido nos imóveis que tem por arrendar. 22% admite sair à rua para protestar.

O anúncio do primeiro-ministro para um novo travão à atualização das rendas em 2024 já está a provocar efeitos no mercado e há fortes sinais de descontentamento entre os proprietários. Quase metade dos senhorios (46%) garante que vai rescindir o contrato de arrendamento caso o Governo avance com um novo travão. E 25% dos proprietários vai subir o valor nos imóveis que estão desocupados “para compensar as perdas a que são obrigados a sustentar”.

Com um novo travão à subida do valor no horizonte, 22% dos senhorios assume que pretende ainda manifestar o seu descontentamento através de protestos na rua ou em abaixo-assinados.

Estes são alguns dos resultados do inquérito realizado entre os dias 30 de setembro e 8 de outubro pela Associação Lisbonense de Proprietários (ALP).

Durante dez dias foram inquiridos um total de 745 senhorios com casas arrendadas. Destes, 330 (45,9%) avisam que vai “denunciar os contratos de arrendamento que tem no mercado assim que puder” e 93,6% “não considera aceitável que seja imposto aos senhorios” o travão à subida do valor, defendendo que seja aplicada a lei com o valor apurado pelo INE, fixado em 6,94%.

Isto porque, sustenta o inquérito da ALP, mais de 63% dos inquiridos considera que as rendas que recebe “são baixas face aos valores de mercado” e um em cada cinco diz que, no final de setembro, suportava rendas em atraso dos inquilinos.

Por isso, há 176 (24,5%) que estão a ponderar “transferir os imóveis do arrendamento tradicional para outros segmentos com menor risco, como o alojamento a estrangeiros ou a estudantes”.

Já um terço dos senhorios (238) diz que “vai negociar com os inquilinos um valor de renda equilibrado para as duas partes” e 47% refere ter uma relação cordial com os seus arrendatários.

O primeiro-ministro anunciou que em 2024 o travão à atualização das rendas será diferente à medida adotada este ano, que limitou o aumento a um máximo de 2%. “A fórmula para o próximo ano não será exatamente igual à deste ano”, mas o Governo “está a conversar com os inquilinos e os proprietários para encontrar uma medida para repartir o esforço entre os proprietários, os inquilinos e o Estado para garantir que nenhuma família fique sem condições de pagar a casa onde habita”, referiu António Costa.

A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, esteve novamente reunida esta terça-feira com a CGTP, a UGT, as associações de senhorios e de inquilinos, e com a Deco, mas o Governo não apresentou ainda qualquer proposta para uma solução neste setor.

Se há arrendamento é graças a quem aforrou e investiu neste mercado, sem contar que o risco maior desse investimento viria do lado do Estado.

Luís Menezes Leitão

Presidente da ALP

Em comunicado, Luís Menezes Leitão, presidente da ALP, frisa que os senhorios “não são os culpados desta crise” no acesso à habitação. E, acrescenta, “se há arrendamento é graças a quem aforrou e investiu neste mercado, sem contar que o risco maior desse investimento viria do lado do Estado”.

Para a ALP, a crise no acesso à habitação é o resultado das “políticas irresponsáveis adotadas pelos sucessivos Governos” há, pelo menos, oito anos, lembrando que “não é a incumprir ou a alterar as leis sistematicamente que vai haver mais habitação e a preços mais acessíveis”.

Luís Menezes Leitão vinca ainda que, para os senhorios, “cumprir a lei é, neste momento, essencial”, tendo em conta que os proprietários – sejam eles pequenos senhorios ou grandes investidores – têm de ter um sinal inequívoco de que há estabilidade legislativa” em Portugal.

 

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