Borrell reconhece “falhanço político e moral” que agravou conflito israelo-palestiniano
Alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros diz que conflito israelo-palestiniano é "resultado de falhanço político e moral coletivo". Alimentos básicos em Gaza podem acabar em três dias.
O alto-representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros reconheceu esta segunda-feira que o agravamento do conflito israelo-palestiniano é “resultado de um falhanço político e moral coletivo” e que nada foi feito para o resolver realmente.
“A tragédia que está a desenrolar-se no Médio Oriente é o resultado de um falhanço político e moral coletivo, e as populações israelita e palestiniana estão a pagar um preço alto por isso. Este falhanço político e moral é resultado da nossa falta de vontade para resolver o problema israelo-palestiniano”, disse Josep Borrell, na abertura de uma conferência com embaixadores, em Bruxelas.
“Sim… Comprometemo-nos formalmente com a solução dos dois Estados, mas sem um plano credível para atingir esse objetivo. A substância do problema israelo-palestiniano não é religiosa ou étnica. É um problema de duas populações que têm o mesmo direito a viver no mesmo território, por isso, precisam de partilhá-lo”, acrescentou o chefe da diplomacia europeia.
Contudo, hoje “não há condições para a partilha” e não há solução. “Ou melhor, havia. Lembram-se de Oslo? Há 30 anos? Tínhamos isso, mas não o implementámos de todo! A violência aumentou, os números são dramáticos. É demasiado… O que é que aconteceu?”, questionou Josep Borrell, perante os embaixadores dos 27 Estados-membros da UE.
O chefe da diplomacia europeia reconheceu que há culpados dos dois lados: “Do lado israelita, as forças extremistas na Cisjordânia querem acabar com o problema palestiniano através da submissão e exílio e na Cisjordânia o Hamas não está presente”.
E citando o antigo Presidente norte-americano Barack Obama, o alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros recordou que a “estratégia militar de Israel tem de obedecer à lei internacional, incluindo a que procura evitar a morte e sofrimento das populações”. “Ignorar o custo humano pode fazer ricochete”, comentou.
Josep Borrell reconheceu que “a tragédia humanitária em Gaza não tem precedentes” e disse que os “melhores amigos de Israel” têm de transmitir a Telavive que “não pode estar cega pela raiva”, utilizando uma expressão utilizada pelo atual Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A destruição do movimento islamista Hamas “não vai resolver o problema em Gaza”, advertiu.
Alimentos básicos em Gaza podem acabar em três dias
O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas alertou que os alimentos básicos destinados à população civil em Gaza podem esgotar-se nos próximos três dias. Os abastecimentos que entraram no enclave através do Egito são muito escassos face às necessidades, principalmente alimentos destinados ao consumo imediato como atum (em conserva), arroz, barras energéticas e tâmaras. A farinha destina-se exclusivamente às padarias.
Por outro lado o Gabinete para a Coordenação da Ajuda Humanitária das Nações Unidas (OCHA) avisou no domingo que “um número limitado” de camiões com bens humanitários conseguiram cruzar a fronteira de Rafah, não tendo especificado mais dados sobre o trânsito de veículos que transportaram auxílio básico no último fim de semana.
No passado dia 21 de outubro, Israel e o Egito aceitaram a entrada de ajuda humanitária – com restrições – sendo que até ao momento entraram em Gaza 451 carregamentos por estrada, de acordo com os dados da semana passada.
Segundo o último relatório do OCHA sobre a situação humanitária em território palestiniano, a distribuição de alimentos por parte de organizações internacionais aos deslocados internos no norte de Gaza está praticamente estancada devido à intensidade dos bombardeamentos de Israel.
Calcula-se que permanecem ainda no norte do enclave cerca de 400 mil civis, entre os quais feridos, doentes e pessoas que não conseguem abandonar o local. No total, onze padarias foram atacadas ou destruídas em Gaza desde o dia 7 de outubro, quando o Hamas atacou Israel, que lançou uma violenta ofensiva militar contra o território.
Papa conversa com Irão sobre Médio Oriente
O Papa Francisco conversou por telefone com o Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, na tarde de domingo, divulgou a assessoria de imprensa do Vaticano. A discussão centrou-se no conflito no Médio Oriente desencadeado pelo ataque do Hamas a Israel, em 7 de 0utubro, e na resposta militar israelita na Faixa de Gaza.
Segundo fontes iranianas, o Presidente Raisi disse que “as atrocidades brutais do regime sionista em Gaza representam o maior genocídio de todo o século e um crime contra a humanidade”.
A agência de notícias iraniana Irna também citou o Papa: “Como líder dos católicos do mundo, farei o meu melhor para parar os ataques e evitar mais assassínios de mulheres e crianças em Gaza”.
A conversa telefónica de domingo não foi o primeiro contacto entre o Vaticano e o Irão desde o início da guerra entre Israel e o Hamas. Na segunda-feira passada, o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário do Vaticano para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, conversou por telefone com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian.
“Durante a conversa, o arcebispo Gallagher expressou a séria preocupação do Vaticano sobre o que está a acontecer em Israel e na Palestina, reiterando a necessidade absoluta de evitar a escalada do conflito e de alcançar uma solução de dois Estados para uma paz estável e duradoura no Médio Oriente”, referiu um comunicado do Vaticano.
No domingo, o Papa Francisco também reiterou o seu apelo ao fim das hostilidades durante a oração do Angelus no Vaticano. “Continuo a pensar na situação extremamente grave na Palestina e em Israel, onde tantas pessoas perderam a vida. “Em nome de Deus, imploro que parem”, declarou Francisco, apelando a um “cessar-fogo”.
Francisco também disse esperar que “todos os caminhos sejam seguidos” para evitar uma escalada do conflito. “Que os feridos sejam ajudados e que o apoio [humanitário] chegue à população de Gaza, onde a situação humanitária é muito grave”, declarou o Papa.
“Os reféns devem ser libertados imediatamente. Entre estes estão muitas crianças. Deixem-nos regressar às suas famílias”, afirmou Francisco.
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