Quem são Vítor Escária e Lacerda Machado, os homens de confiança de Costa detidos na investigação sobre o lítio e hidrogénio

Um é chefe de gabinete do primeiro-ministro e o outro amigo pessoal de António Costa. Conheça o percurso dos principais detidos nas investigações aos negócios do lítio e hidrogénio verde.

A investigação do Ministério Público aos negócios do lítio e hidrogénio verde envolve duas figuras do círculo mais próximo do primeiro-ministro, com uma relação já longa com António Costa: Vítor Escária, seu chefe de gabinete, e Diogo Lacerda Machado, empresário e amigo pessoal. Saiba quem são os principais detidos.

Economista, professor do departamento de Economia do ISEG, Vítor Escária chega aos Governos PS pela mão de José Sócrates, de quem foi assessor económico entre 2005 e 2011. A proximidade com o antigo primeiro-ministro fez dele um dos alvos da investigação da Operação Marquês. Segundo noticiou o Semanário Sol em maio de 2015, esteve meses sob escuta e foi alvo de buscas.

Vítor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro.

Um dos negócios investigados foi o contrato para a construção de habitações pelo Grupo Lena na Venezuela, processo em que esteve envolvido. Ao contrário de José Sócrates, não foi constituído arguido. Seria mais tarde, noutro processo. Na altura, afirmou que a sua missão era fazer “diplomacia económica e não negócios particulares”.

A proximidade com José Sócrates não impediu que o mestre em Economia Monetária e Financeira, pelo ISEG, e doutorado em Economia pela Universidade de York, no Reino Unido, tivesse sido convidado para fazer parte do grupo de trabalho que elaborou o cenário macroeconómico que serviu de base ao programa eleitoral do PS, em 2015. Um grupo de 12 elementos coordenado por Mário Centeno.

Com a chegada de António Costa ao poder, Vítor Escária regressa ao papel de assessor económico do primeiro-ministro. Cargo que teve de deixar em 2017, na sequência do caso das viagens ao campeonato europeu de futebol de 2016 pagas pela Galp. O assessor foi um dos 18 arguidos por recebimento indevido de vantagem, numa lista que incluía também Rocha Andrade, antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, e Jorge Oliveira, ex-secretário de Estado da Internacionalização.

Os arguidos pagaram uma multa (1.200 euros no caso de Escária) e o processo acabou por ser arquivado em julho de 2020, segundo noticiou na altura o Observador. No mês seguinte, o economista agora com 52 anos era nomeado chefe de gabinete do primeiro-ministro.

Oito anos depois, Vítor Escária volta a ser investigado num caso de alegada corrupção, desta vez a propósito dos investimentos da extração de lítio em Montalegre e da central de hidrogénio verde em Sines, ambos aprovados pelo Governo.

Diogo Lacerda Machado, advogado e ex-administrador da TAP.ANDRÉ KOSTERS/LUSA

A relação de Diogo Lacerda Machado com António Costa remonta ao tempo em que ambos estudaram juntos na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Nasceu aí uma amizade muito próxima, que levou o primeiro-ministro a escolhê-lo para padrinho de casamento.

Foi secretário de Estado da Justiça de António Costa no Governo de António Guterres. Quando o “melhor amigo” chegou à liderança do Governo, em 2015, Lacerda Machado tornou-se um homem de confiança de António Costa para negociar dossiês difíceis.

Em 2016, foi o escolhido para encontrar uma solução para os lesados do papel comercial vendido pelo BES, que perderam as poupanças na sequência do colapso do banco. Lacerda machado mediou as conversações entre os reguladores (CMVM e Banco de Portugal), o Novo Banco e os lesados, que terminaram com um acordo para a recuperação de 75% do montante investido, até 500 mil euros.

Uma das promessas de António Costa na campanha eleitoral de 2015 foi reverter a privatização da TAP para devolver a maioria do capital ao Estado. Lacerda Machado voltou a ser o escolhido para mediar as negociações que levariam a que a Atlantic Gateway baixasse a sua participação de 61% para 45%, ficando o Estado com 50%.

Após a conclusão do processo, em 2017, Lacerda Machado, um apaixonado pela aviação, entrou para a administração da companhia aérea como não executivo. Cargo em que se manteve até 2021.

Com uma carreira ligada aos negócios, Lacerda Machado é diretor da Geocapital, uma sociedade com sede em Macau ligada à família de Stanley Ho, que resultou da sua ligação antiga àquele território. No final dos anos 80 foi secretário adjunto para a Administração e Justiça do Governo de Macau e tornou-se próximo do empresário dos casinos, que faleceu em 2020. Através da Geocapital exerce também cargos em instituições financeiras em África, nomeadamente no Banco da África Ocidental, na Guiné-Bissau.

O “melhor amigo” de António Costa é também administrador da Mystic Invest, a holding de investimentos no turismo do empresário Mário Ferreira.

A sua passagem pela TAP levou a que fosse um dos ouvidos na comissão parlamentar de inquérito à companhia aérea. Questionado sobre a sua relação com o primeiro-ministro, respondeu que António costa é um “advogado brilhantíssimo”. “Podia ser rico, mas escolheu ficar pobre, que é o que ele é. Mas é riquíssimo de espírito”, disse.

Além de Vítor Escária e Lacerda Machado foi também detido Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines, a cumprir o terceiro mandato. O autarca socialista é também presidente da Comissão Permanente do Conselho Regional da CCDR do Alentejo, vice-presidente do Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral e líder do Conselho de Administração do Sines Tecnopolo.

Também o primeiro-ministro está a ser investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça, segundo adiantou esta terça-feira a PGR

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