BRANDS' ECO “A IA pode ser um auxiliar de aprendizagem extraordinário”
Pedro Santa Clara, professor universitário e empreendedor, é o segundo convidado do podcast Vale da Inquietação.
Pedro Santa Clara, professor universitário e empreendedor, é o convidado do segundo episódio, que teve como mote “A Inteligência Artificial e a Educação”. Nesta conversa, moderada por Pedro Duarte, vice-presidente da CIP, foi abordado o impacto que a Inteligência Artificial terá no tema da educação e, ainda, as vantagens que se podem retirar do seu uso enquanto ferramenta de apoio.
Como melhorar a educação com a Inteligência Artificial (IA)? Como educar toda a gente para usar esta ferramenta? De que forma o uso da IA pode ser um aliado para professores e alunos? Estas e outras questões foram respondidas por Pedro Santa Clara, que criou a Shaken not Stirred, uma empresa de gestão de projetos, que se dedica a criar experiências de aprendizagem envolventes e centradas no aluno, de forma a fomentar o seu pensamento crítico, libertar a sua criatividade e despertar o gosto pela aprendizagem ao longo da vida.
“Até aos 45 anos, a minha vida era dar aulas, mas depois tive uma grande mudança na minha vida porque estive a desenvolver um projeto muito grande, o novo campus da NOVA em Carcavelos, e a inventar vários programas novos dentro da escola. E, surpreendentemente, descobri que gostava disso. Descobri esta vontade de contribuir para a sociedade, de desenvolver novos projetos educativos e, na altura, com uma equipa reduzida, lançamos uma empresa chamada Shaken not Stirred“, explicou.
Entre os projetos educativos desenvolvidos está a Escola 42, em Lisboa e no Porto; o Tumo, em Coimbra; e, ainda, uma startup de EdTech, a Miles in the sky, que, de acordo com o professor, “traz uma série de ferramentas de IA para a educação”. “Nós temos um modelo de escola que, durante muito tempo, foi o único modelo de educação possível. Mas é um modelo muito ineficiente. A taxa de retenção de conhecimento de uma aula de 1h30, passado duas semanas, é na ordem dos 5%. E eu gosto de pensar nesta estatística pensando que desperdicei 95% do tempo que passei em salas de aula”, disse Pedro Santa Clara, que considera a tecnologia a solução para “implementar melhores modelos pedagógicos”.
“Quando digo tecnologia não estou, de todo, a falar de aulas por Zoom ou por Teams, eu estou a falar sobre usar a tecnologia de uma forma muito subtil, muito de background, para construir uma experiência de aprendizagem, que leva os alunos a quererem aprender e a eles próprios pesquisarem o conhecimento necessário para resolverem os desafios que lhes estão a ser lançados, com grande colaboração entre os pares. Todos os nossos projetos baseiam-se nos dois princípios pedagógicos mais fundamentais, que é aprender fazendo e aprender uns com os outros, e com um toquezinho de IA para apimentar as coisas“, referiu.
Quando usa o termo “apimentar”, o professor universitário refere-se à capacidade de motivar o aluno a querer aprender, algo que considera fundamental para que haja, efetivamente, aquisição de conhecimento: “Todo o conhecimento está disponível, de forma gratuita, a qualquer pessoa que tenha acesso à Internet. O tema não é dar conteúdos, mas perceber como se desperta nas pessoas a vontade de ter esta experiência de aprendizagem. Acho que há princípios importantes, como aprender a resolver um problema motivado por um desafio e reconhecer que aprender é um ato social. Mas a educação tradicional é muito pouco participativa e colaborativa”.
Nesse sentido, Pedro Santa Clara deu alguns exemplos de como a IA poderia tornar este processo mais apelativo para os alunos, já que poderiam usar esta ferramenta como “co-piloto” de aprendizagem. “Ter um co-piloto de IA permite que o aluno lhe faça perguntas e, no caso de o aluno dar um erro numa resposta a uma pergunta, esta IA não lhe vai dar a resposta, mas vai guiá-lo na procura da resposta correta. Outro exemplo está relacionado com leitura. Em vez de apenas ler o livro, é possível interrogar as personagens do livro. É como termos um explicador pessoal, que está sempre disponível, sempre bem-disposto e à borla. A IA pode ser um auxiliar de aprendizagem extraordinário”, disse.
Se, por um lado, as escolas ainda têm muitos receios em torno da tecnologia, por outro lado, o professor universitário relembrou que a necessidade de renovação está evidente, até por algumas dificuldades com as quais o sistema de ensino atual já se depara, nomeadamente o ChatGPT, ao qual vários alunos recorrem para fazerem os trabalhos de casa: “Num curtíssimo prazo temos de educar toda a nossa população a usar IA. Isto é uma ferramenta tão poderosa, em tantos níveis, que vai ter consequências sociais. Vai haver profissões que sairão mais afetadas que outras e vai haver muita gente que vai ter que se reinventar profissionalmente“.
A curto prazo, Pedro Santa Clara garantiu que “a grande divisão vai ser entre os que usam a IA e os que não usam, e os que não usam vão estar condenados ao fracasso”. “Se há coisa que posso dizer aqui é: se não usam, parem tudo, e comecem a usar. Experimentem tudo e aprendam a usar porque isto é incrível”, concluiu.
Os dilemas éticos, as oportunidades de transformação e as implicações sociais da revolução tecnológica, mais concretamente da Inteligência Artificial, serão os temas abordados ao longo da primeira temporada do podcast “Vale da Inquietação”, uma iniciativa da CIP – Confederação Empresarial de Portugal e da Microsoft.
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