Mário Centeno adverte que “instabilidade política não rima com crescimento económico”

Governador do Banco de Portugal antevê que as taxas de juro já terão atingido o pico, mas alerta que famílias e empresas continuarão a enfrentar uma situação de aperto financeiro durante algum tempo.

Mário Centeno considera que a crise política em que mergulhou o país após a demissão do primeiro-ministro a 7 de novembro não prejudicou a imagem externa de Portugal. Porém, salienta que “instabilidade, de qualquer que seja a fonte, não rima com crescimento económico nem com estabilidade social”, referiu esta terça-feira o governador do Banco de Portugal durante a conferência CNN Portugal International Summit.

“Esquecemo-nos que, na primeira década deste século, Portugal teve três legislaturas interrompidas. Se alguém acha que as dificuldades económicas de Portugal neste período não tiveram nada a ver com isso, desengane-se”, reforçou o antigo ministro das Finanças.

O governador lembrou que Portugal é “uma pequena economia aberta” e que o PIB tem crescido com base no investimento e nas exportações, sublinhando que este ano, até setembro, apresentou uma balança corrente de capitais positiva em mais de 6 mil milhões de euros, quando há um ano, no mesmo período, era negativa em mais de mil milhões de euros.

Por essa razão, Mário Centeno acredita que “o principal desafio que a economia nacional enfrenta não é interna, mas externa”, mostrando-se preocupado para 2024. A procura externa projetada para o próximo ano “será a mais fraca dos últimos 15 anos”, salientou na mesma conferência.

No que toca ao combate à subida dos preços, o governador do Banco de Portugal refere que “a inflação está a cair a um ritmo muito superior àquilo que subiu”. “A inflação era um efeito temporário, como cheguei a dizer”, acrescentou, destacando, porém, que “ainda é muito cedo cantar vitória”.

Centeno mostrou-se também prudente na forma como o BCE deve continuar a combater a subida dos preços. “Perante um choque quase estrutural, devemos dar tempo aos agentes económicos para se ajustarem. E os agentes económicos não tiveram esse tempo. Devemos ser comedidos na terapia”, detalhou.

O governador voltou também a mostrar-se confiante de que o BCE não vai subir mais as taxas diretoras. “Com uma elevada probabilidade, atingimos o valor máximo das taxas de juro nominais”, assume. No entanto, como a inflação está a cair, significa que a taxa de juro real (diferença entre a taxa de juro nominal e a taxa de inflação) está a aumentar e deverá continuar a subir nos próximos meses.

“E, portanto, durante alguns meses mais — não sabemos quantos porque o BCE disse e bem que toma decisões com base em dados –, enquanto a taxa de juro nominal estiver fixa lá em cima e a taxa de inflação estiver a cair, o aperto financeiro não pára de aumentar“, nota Centeno. Com isto, concluiu, “temos mais uma certeza, mas continuamos com algumas incertezas.”

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