Costa classifica política de cativações de “ficção”

  • Joana Abrantes Gomes
  • 11 Dezembro 2023

O primeiro-ministro defende ainda que as "empresas devem fazer um choque salarial para os jovens". Sobre o novo aeroporto, diz que será um "teste de credibilidade" ao PSD.

António Costa afirmou, na entrevista desta segunda-feira à TVI/CNN Portugal, que as cativações – uma estratégia que, até aqui, permitia ao titular da pasta das Finanças impor aos restantes ministérios restrições quanto às verbas que podiam ser, efetivamente, utilizadas, mesmo estando orçamentadas – “são uma ficção, porque nunca impediram a realização de nenhuma política”.

Num regresso a 2015, ano em que assumiu a liderança do Governo, o ainda primeiro-ministro realçou a importância da decisão de “virar a página da austeridade”, mantendo o país na Zona Euro, repondo salários e pensões e reduzindo impostos, contrariamente ao PSD e CDS, que diziam que, sem austeridade, o país teria de abandonar a moeda única.

“Ir progressivamente aumentando o investimento público, mas, ao mesmo tempo, reduzindo o défice e libertar-nos da dívida. Isso é fundamental não é para sermos bons alunos; é que ter menos dívida hoje significa que pago menos 2.000 milhões de euros por ano de juros, que são 2.000 milhões por ano que ponho a mais no Serviço Nacional de Saúde, por exemplo. Não teria feito o aumento de despesa que fiz no SNS se não tivesse reduzido a dívida”, declarou, na entrevista televisiva.

Para Costa, isso foi “a maior derrota que a direita teve”. “Por isso nunca conseguiram, até agora, apresentar uma alternativa política credível. Um dos grandes ganhos – e se há algo que me orgulha particularmente – é que entrego um país que tem, neste momento, muito mais liberdade de escolha” devido ao excedente orçamental.

Ainda que reconheça que a carga fiscal “não é um mito”, o primeiro-ministro demissionário atribui o seu aumento às maiores contribuições para a Segurança Social e não a um aumento dos impostos, com mais 600 mil pessoas no mercado trabalho e a subida do salário mínimo e do salário médio nos últimos anos. “É uma boa notícia, significa que há mais emprego”, apontou.

Novo aeroporto será “teste à credibilidade” do PSD

Quanto ao novo aeroporto, que a comissão técnica independente (CTI) concluiu que deve ser construído em Alcochete, o primeiro-ministro demissionário antevê que será “um teste à credibilidade do PPD/PSD”.

Costa recordou uma história em que se gerou “um grande consenso nacional” à volta de um estudo da CIP, que ditava a mesma solução da CTI, na altura em que Cavaco Silva era ainda Presidente da República. O então Chefe de Estado patrocinou o acordo, mas, quando mudou o Governo, aceitou que este dissesse que não haveria aeroporto nenhum porque “não haveria crescimento da procura”.

“Quando a evidência era impossível de esconder, inventaram a solução Portela com Montijo e eu, quando cheguei ao Governo, tive a humildade de aceitar essa decisão”, mesmo perante a oposição do PS, disse. Mas, para Costa, a solução confortável é a da comissão técnica independente.

Agora, o Governo que sair das eleições de 10 de março “vai ter o privilégio de, tendo decisão recomendada, poder decidir perante o critério que entender”, acrescentou, considerando que o decisor político tem os elementos suficientes para tomar uma decisão. “Raras vezes tive a possibilidade de decidir com quadro de informação tão rico e diverso”, afirmou, mostrando-se esperançoso de que o PSD não o desiluda nesta matéria.

Costa defende que “empresas devem fazer um choque salarial para os jovens”

O primeiro-ministro acredita também que as empresas em Portugal têm de ser mais “competitivas na contração”, porque concorrem com as empresas europeias. “Empresas devem fazer um choque salarial para os jovens”, defende António Costa, que aponta o dedo à iniciativa privada.

Os jovens, dando o exemplo do próprio filho e até da classe médica, não querem trabalhar tantas horas, segundo o chefe de Governo demissionário. “A nova geração quer viver de uma forma diferente”, remata.

(Notícia atualizada às 22h39)

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