Os preços das casas vão cair em 2024?

  • Ana Petronilho
  • 2 Janeiro 2024

A permanência de um forte desequilíbrio entre a procura e a oferta é apontado pelos especialistas do setor como a principal razão para que os preços da habitação não sofram correções em 2024.

No início de um ano que se prevê pleno de incertezas, o ECO vai divulgar nos próximos dias 6 trabalhos que tentam responder a questões que mais irão afetar a economia e os mercados, tanto a nível nacional como internacional. Os preços das casas, as descidas nas taxas de juro, o peso do abrandamento externo na economia portuguesa, a evolução dos preços do petróleo, onde investir o seu dinheiro e, claro, o impacto da instabilidade política no país são os temas que serão abordados.

 

Há mais de dez anos que o preço das casas tem subido e assim deverá continuar a suceder em 2024, antecipam ao ECO, em uníssono, os promotores, as consultoras e os agentes imobiliários. Apesar de preverem um abrandamento da procura e do ritmo de vendas, os especialistas ouvidos pelo ECO não veem, num horizonte a médio prazo, uma descida dos preços da habitação.

Os dados provisórios avançados pela JLL apontam para que, este ano, o mercado feche em baixa com menos 20% de casas vendidas, atingindo as 133 mil transações (168 mil em 2022) e com um volume de negócios a cair “cerca de 16%”, para os 27 mil milhões de euros, sendo que, no ano passado, atingiu 32 mil milhões.

Mas, mesmo com a quebra no mercado, ninguém aponta para uma descida dos preços no próximo ano. “É natural que haja um abrandamento do crescimento [em 2024], mas não uma descida generalizada dos preços, porque o desequilíbrio entre oferta e procura continua a ser elevado”, avisa Patrícia Barão, head of residential da JLL, sublinhando que a “retração” nas vendas que deverá continuar em 2024, devido à “subida da inflação e das taxas de juro”.

A mesma opinião é partilhada por Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII). “Não se prevê que o preço das casas desça” em 2024, mesmo com o “ligeiro abrandamento da procura nacional e internacional”, porque, segundo Hugo Santos Ferreira, perante uma oferta “tão escassa” a quebra na procura continua acima.

Para o segmento de luxo (prime), tanto os promotores como as consultoras apontam para um aumento de 2% dos preços em 2024, tendo em conta a “escassez de oferta” na habitação de luxo somada à “grande resiliência” deste segmento.

A previsão de uma subida continuada dos preços das casas no próximo ano é também partilhada por Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP). Apesar de considerar que o ritmo de concretização da venda de um imóvel possa abrandar e o número de transações cair, “todos os dados apontam para que não conheçamos nenhum incremento significativo na oferta [em 2024], suscetível de impactar em descida os preços das casas”, diz.

Para o segmento de luxo (prime), tanto os promotores como as consultoras apontam para um aumento de 2% dos preços em 2024, tendo em conta a “escassez de oferta” na habitação de luxo somada à “grande resiliência” deste segmento, porque “existe uma maior proporção de liquidez por parte dos compradores” sem necessidade de recurso a crédito, refere Miguel Lacerda, Lisbon residential director da Savills Portugal.

No segundo trimestre deste ano, segundo os dados mais recentes do INE, o índice de preços da habitação em Portugal cresceu 8,7% face ao período homólogo, sendo que, neste período, “os preços das habitações existentes aumentaram a um ritmo superior ao das habitações novas, 9% e 8%, respetivamente”, especifica ainda o INE.

O mesmo movimento de subida é espelhado pelos dados do Eurostat, que apontam para que, entre 2010 e o segundo trimestre de 2023, em Portugal, os preços das casas tenham disparado 93% (cerca de 5,4% por ano) e as rendas aumentado 33% (2,3% por ano).

Estes números colocam Portugal na sétima posição entre os países da Zona Euro com maior aumento do preço das casas desde 2010 e na décima posição do ranking dos países do euro com maior aumento das rendas. Este cenário está a impedir, sobretudo famílias jovens (abaixo dos 35 anos), de comprar casa, avisa o Banco de Portugal.

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