PS acusa direita de usar “não caso” da compra de ações dos CTT para fins eleitorais
Socialistas consideraram que a privatização decidida por PSD e CDS-PP “degradou o serviço postal e deixou concelhos sem estação de correios”.
PSD e Chega acusaram esta quarta-feira o PS de secretismo e tentativa de agradar PCP e BE na compra pelo Estado de ações dos CTT, tendo o PS criticado a direita por usar um “não caso” com objetivos eleitorais.
Num debate agendado pelo Chega, quer o partido de André Ventura, como o PSD, aproveitaram a discussão em plenário para trazer não só a compra pelo Estado de 0,24% ações dos CTT como a polémica indemnização à antiga administradora da TAP Alexandra Reis, usando estes e outros temas para criticar o então ministro das Infraestruturas e atual líder do PS, Pedro Nuno Santos.
O presidente do Chega considerou que casos como os CTT, TAP, Efacec ou Novobanco mostram que “tudo aquilo em que o PS mete a mão inicia um processo imediato de destruição”. Acusando o PS de querer “satisfazer as suas novas clientelas”, PCP e BE, Ventura criticou o “velho secretismo socialista”, questionando onde estava Pedro Nuno Santos durante este debate, ao qual chegou no final, porque à mesma hora era recebido, enquanto o novo secretário-geral do PS, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O primeiro pedido de esclarecimento veio do deputado do PCP Bruno Dias, que acusou o Chega de não se preocupar com a situação dos correios, com o mau serviço, com a falta de trabalhadores para não “chatear a família Champalimaud, financiadora do partido”. Reiterando que 0,24% dos CTT nas mãos do Estado “não servia para nada” e que o PCP o disse na altura ao PS, o parlamentar comunista voltou a recusar que esta compra tenha sido uma moeda de troca nas negociações, considerando que esta é uma “mentira ridícula”.
Bruno Dias disse que, ao ouvir as intervenções do Chega, se lembrou de uma música do brasileiro Jorge Ben Jor: “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”. Pelo PS, a deputada Fátima Pinto acusou o Chega de tentar “esticar este não caso” para o aproveitar para a campanha eleitoral.
Na mesma lógica, também pelo PS, o deputado Hugo Oliveira acusou o Chega de não pretender uma discussão esclarecedora, mas sim centrar-se em “casos e casinhos fabricados com único interesse eleitoral”. O socialista considerou que a privatização decidida por PSD e CDS-PP “degradou o serviço postal e deixou concelhos sem estação de correios”, e que quando chegou ao Governo o PS “teve de intervir para salvaguardar o interesse público”.
Já o PSD, pela voz de Hugo Carneiro, criticou um “processo opaco e potencialmente lesivo” e “no maior secretismo porque tentou o apoio do PCP e do BE”, num “esquema de votos”. Criticando a justificação dada pelo ainda primeiro-ministro, o social-democrata considerou que há “aqui gato escondido” e questionou quem foram “os mentores desta operação”, se António Costa, se Pedro Nuno Santos, fazendo uma comparação com o caso de Alexandra Reis.
Pelo BE, Isabel Pires referiu-se à “história de um saque” que foi a privatização dos CTT feita por PSD/CDS-PP, recordando as propostas do partido, do PCP e do PEV apresentadas e chumbadas no parlamento para nacionalizar os correios, mas reiterando que nunca houve acordo para este negócio. “Francamente a nossa resposta tinha sido: tenham juízo. 0,24% não serve para nada. O que é preciso é a nacionalização”, disse.
O deputado da IL Carlos Guimarães Pinto deu o exemplo de Espanha e defendeu que, se os CTT se tivessem mantido públicos, “provavelmente hoje os contribuintes estariam a pagar os prejuízos da empresa”. O liberal afirmou que a esquerda teria de justificar aos portugueses a “subida de impostos por uma birra ideológica” e assinalou que “a gestão privada está longe de ser perfeita”, mas o regulador deve intervir quando as condições não forem cumpridas.
O deputado único do Livre, Rui Tavares, ironizou que, se fosse pelos argumentos da direita, a compra de “menos de um quarto de 1% dos CTT” poderia ter sido manchete do Avante!, publicação oficial do PCP, como uma “grande vitória”, quando constitui algo “ínfimo”. O Livre acusou a direita de querer “embaraçar a esquerda” com este debate, mas recusou que isso tenha acontecido.
Já o PAN, por Inês Sousa Real, considerou que nem PSD/CDS estiveram bem por causa da privatização, nem o PS porque as empresas públicas “não podem ser usadas como moeda de troca”, considerando que “uma decisão como esta tem que se pautar pela transparência”, o que, alegou, não aconteceu.
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