“CEO acham que são o máximo e estão radiantes porque ganham o mesmo que na Europa”

Guy Villax, da Hovione, considera que um dos problemas para reter talento "é a falta de perspetiva de carreira que veem nas empresas portuguesas, que continuam a ser geridas de forma muito antiquada".

Guy Villax, membro do Conselho de Administação e acionista da Hovione, considera que o problema de atração de talento vai bem além dos salários e critica a gestão “antiquada” das empresas portuguesas. “Os CEO portugueses acham-se o máximo porque ganham o mesmo que os CEO na Europa, mas não são”, atira.

A saída dos jovens de Portugal é um “prejuízo para o país gigante”, considera Guy Villax, numa conferência organizada pela CIP, no Porto. Para o empresário português, é preciso ponderar o motivo disto acontecer e, “quando se fala com os jovens, percebe-se que o problema não é só dinheiro. É a falta de perspetiva de carreira que veem nas empresas portuguesas, que continuam a ser geridas de forma muito antiquada“.

“Os jovens são muito bem qualificados e as low costs permitiram-lhes ir para o estrangeiro, e chegam lá e veem que são tão bons ou melhores dos que estão lá, e não têm medo de ir para lá”, sintetiza, argumentando que, face a esta situação, é altura para as empresas “acordarem” e mudar-se a forma de gerir as empresas.

Os CEO acham que são o máximo e não são. E estão radiantes porque ganham o mesmo que os CEO na Europa. O salário de entrada numa fábrica em Portugal é três vezes e meio inferior ao salário de uma fábrica na Irlanda e os CEO ganham o mesmo.

Guy Villax

Administrador da Hovione

Os CEO acham que são o máximo e não são. E estão radiantes porque ganham o mesmo que os CEO na Europa. O salário de entrada numa fábrica em Portugal é três vezes e meio inferior ao salário de uma fábrica na Irlanda e os CEO ganham o mesmo“, critica.

Para Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa, a “questão dos salários é muito relevante, e a possibilidade de desenvolvimento de carreiras, mas há outra questão: a falta de estabilidade nas políticas fiscais, falta de confiança nas instituições“.

“Há um acumular de frustração. Nem tudo passa por salários, mas os salários são fundamentais. Os jovens têm que ser capazes de pagar uma renda”, conclui.

Com cerca de 90% dos jovens licenciados, Portugal tem assistido a um movimento de saída destes jovens, face aos baixos salários e à ausência de condições para se fixarem no país. Segundo os dados do INE, em 2022 saíram do país 31 mil pessoas.

Portugal é excelente a produzir um bem de elevada qualidade, que são estes licenciados e mestres graduados pelas universidades portuguesas. (…) E temos também uma enorme capacidade que é destruir este bem que criamos nas universidades.

Isabel Capeloa Gil

Reitora da Universidade Católica Portuguesa

“Portugal é excelente a produzir um bem de elevada qualidade, que são estes licenciados e mestres graduados pelas universidades portuguesas. No contexto global de guerra pelo talento, onde há falta de ativos qualificados na Europa – há em geral uma falta de talento qualificado – nós fazemos isso muito bem. E temos também uma enorme capacidade que é destruir este bem que criamos nas universidades“, critica Isabel Capeloa Gil.

Carolina Amorim, CEO & Co-Fundadora da EMOTAI, coloca o foco nas dificuldades que as startups portuguesas têm para conseguir competir a nível internacional e para competir cá dentro com grandes empresas, como a Google, com capacidade para pagar melhores salários.

“O nosso problema é específico, existe um boom tecnológico”, refere a empresária, acrescentando que uma “empresa pequena não tem capacidade de competir e contratar nesta área. Estamos limitados em termos de recursos e talento“, tendo que competir contra salários elevados das outras empresas.

Por outro lado, há ainda a concorrência internacional, com muitos portugueses a trabalharem em regime remoto para companhias lá fora. “Não estamos a competir para talento bom em Portugal mas com outras empresas mundiais mas que pagam salários muito maiores”, nota. A solução encontrada pela empresa tem sido contratar menos, para conseguir reter pessoas.

Madalena Cascais Tomé, CEO da SIBS, acredita que a inteligência artificial poderá ajudar a melhorar este problema de retenção de talento, saiba o país embarcar nesta transformação tecnológica.

“Estamos a viver uma revolução enorme, que é a da IA. Vai trazer uma produtividade de 50%. Isso pode trazer melhores condições de trabalho às pessoas, mas também ganhos de produtividade”, explica. “Se conseguirmos aproveitar esta transformação com IA, há estudos que mostram que vamos ter ganhos de produtividade”, refere, acrescentando que é preciso fazer esta transformação para ganhar produtividade, crescer e dar melhores condições às pessoas.

 

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