Há menos portugueses a trabalhar para tecnológicas lá fora e isso afeta salário

Salários do setor tech estão a arrefecer, com subida estimada de 0,4% este ano, aponta estudo da Landing.Jobs. Fosso salarial entre homens e mulheres não para de aumentar.

O número de portugueses de IT a trabalhar remotamente para empresas fora do país caiu de 22,6% para 16%, no espaço de um ano. E a diferença salarial entre trabalhar para empresas lá fora e cá dentro recuou de 60,1%, para 50,8%. O que não para mesmo de crescer é a diferença salarial entre homens e mulheres no setor. As mulheres ganham em média menos 36% e nos cargos de gestão essa diferença ronda os 60,9%, apontam os dados do “Global Tech Talent Trends 2024”, da Landing.Jobs, divulgados esta quarta-feira.

Depois de anos de crescimento continuo, há menos profissionais portugueses a trabalhar à distância para empresas no mercado externo. “Esta diminuição é, em nossa opinião, surpreendente, pois contraria uma tendência clara pós-pandemia de empresas internacionais a recrutar profissionais IT em Portugal para trabalhar remotamente a partir de cá. É também um dos principais fatores para o parco aumento de salários em Portugal (isto porque as empresas estrangeiras que contratam profissionais IT em Portugal para trabalho remoto pagam muito acima da média das empresas do mercado local)”, aponta Pedro Moura, chief growth officer da Landing.Jobs, ao ECO.

Para este ano, a recrutadora especializada no setor tecnológico estima uma ligeira subida dos salários, na ordem dos 0,4%, bem longe dos mais de 30% registados há dois anos. Há uma “correção dos aumentos brutais de salários de profissionais TI de 2022 para 2023 (+36.5%), feitos numa altura de euforia pós-pandemia”, considera Pedro Moura.

Vários outros motivos contribuem para este forte abrandamento da evolução salarial. Pedro Moura elenca algumas das razões: “O congelamento de contratações na maioria do mercado durante 2023 (e ainda 2024), devido sobretudo à incerteza económica (devido à inflação de 2023, ao aumento do custo do dinheiro e às guerras em curso). As empresas estão a adiar investimentos, e isso implica cortes (ou pelo menos não crescimento) em áreas como TI”, refere o chief growth officer.

Mas também “a sensação de ‘mercado em baixa’ por parte dos profissionais de IT, que os leva a procurar estabilidade e conforto, em oposição a mudanças de carreira (geralmente os momentos em que os maiores aumentos salariais acontecem). O talento também sente a incerteza do mercado e age em concordância, agindo de forma mais conservadora.”

Por região, a área metropolitana do Porto foi a que registou a maior subida média dos salários (+7,2%), seguida da região Centro (+6,8%), tendo superado o Norte como a terceira região com os salários mais elevados. Os profissionais residentes em Lisboa continuam a ganhar mais do que no resto do país, mas tendo registado um aumento salarial de apenas 0,1%.

Em média, os profissionais de TI em Portugal ganham 46.500 euros/ano, com os profissionais de tech management a ganhar uma média de 53.765 euros e os tech developers a auferir uma média de 43.238 euros.

No que toca aos salários, anos de experiência e categoria tem impacto — os profissionais de tech management ganham, em média, mais 24,4% dos que os developers — mas também o vínculo profissional, com os contractors a auferir mais 30,6% de salário bruto anual do que um profissional a tempo inteiro numa empresa (há um ano essa diferença era de 58,1%).

 

 

Fosso salarial entre homens e mulheres aumenta

O relatório da Landing.Jobs revela ainda que o fosso salarial entre e mulheres não para de aumentar: num ano subiu de 34,9%, para 36%. Em 2021 era de 16,4%. E neste parâmetro o fosso é transversal às categorias profissionais e nível de experiência.

“O fosso salarial de género é muito maior nos cargos de gestão (58%, uma subida face aos 47,4% em 2023) do que nos cargos de development (26,3% um recuo face aos 29,3% em 2023″, aponta o relatório.

 

É nas startups e scaleups — aquelas que lideram o ranking das maiores remunerações — que o fosso salarial entre homens e mulheres é mais acentuado. Nas startups essa diferença é de de 81,2%, seguido das scaleups (57,4%) e Nearshore IT outsourcing/staffing (40%). Público/Governo/R&D (2.9%) e Local IT outsourcing/staffing (3%) são onde essa diferença salarial é menor.

“Algo parece estar terrivelmente mal, quando empresas que normalmente se vangloriam sobre diversidade e inclusão não só têm os maiores fossos, como aumentam (consideravelmente) o seu fosso salarial ano após ano”, aponta o relatório.

 

As mulheres que trabalham em TI foram menos beneficiadas do que os homens – 55,2% de mulheres viram o salário subir vs. 59,6% dos homens – e foram também aquelas que mais viram o seu pacote salarial reduzido: 10,4% vs. 4,9% dos homens, aponta o relatório alertando para o seu impacto para o aumento do fosso salarial de género.

Número de profissionais imigrantes aumenta

O relatório também destaca a evolução do número de profissionais estrangeiros que escolhem Portugal para trabalhar no setor. “A percentagem de profissionais IT residentes em Portugal com origem noutro país está a aumentar (2022: 8.9%, 2023: 10.6%, 2024: 15.7%), mostrando uma maior atratividade do país para profissionais de IT estrangeiros”, refere Pedro Moura.

Dos 15,7% de força trabalho estrangeira residente, 10,6% é brasileira. Com 21%, o Porto é a região do país com maior representatividade destes profissionais, e é também aqui que os profissionais brasileiros são os com maior peso: 16,9%.

“A tendência de mais estrangeiros se juntarem à força de trabalho portuguesa em TI é boa, mas deveria
ser acelerado para fazer face às necessidades do mercado nos próximos anos”, recomenda o relatório.

O “Global Tech Talent Trends 2024”, da Landing.Jobs, obteve resposta de um total de 7.485 profissionais tech a residir em 143 países, dos quais 2.474 residentes em Portugal.

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