Como pode o Estado potenciar a agricultura sustentável?

  • Capital Verde
  • 17 Maio 2024

No 1º Fórum de Agricultura Sustentável, o primeiro painel de debate centrou-se em responder às seguintes questões: "Como pode o Estado potenciar a agricultura sustentável? E o seu financiamento?".

O 1º Fórum de Agricultura Sustentável, organizado pelo ECO em parceria com a Câmara Municipal de Santarém, decorreu, a 14 de maio, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, e contou com vários debates sobre a agricultura em Portugal.

O primeiro debate, moderado por Mónica Silvares, editora executiva do ECO, foi dedicado ao tema “Políticas Públicas: Como pode o Estado potenciar a agricultura sustentável? E o seu financiamento?”, e contou com a presença de António Serrano, ex-ministro da Agricultura e Professor Catedrático na Universidade de Évora; Luís Mira, Secretário-Geral CAP; Nuno Serra, secretário-geral CONFAGRI; e Cristina Melo Antunes, Responsável de Negócio ESG e Green Finance: Santander Portugal.

“A primeira coisa que a agricultura sustentável precisa é de ser rentável. Há, na política europeia, uma grande dose de utopias. O Green Deal é uma ambição da Comissão. É verdade que condicionou a decisão de determinadas políticas, mas, no que toca à agricultura, tinha um erro de base porque não foram feitos estudos de impacto das medidas que estavam ali colocadas. Muitas daquelas medidas, se fossem aplicadas, levariam a Europa a correr o risco de ter uma grande quebra na sua capacidade produtiva. E isso, numa altura em que estamos em guerra na Europa, é a última coisa que se pretende. Ninguém precisa mais do ambiente do que a agricultura, que depende dele para a sua capacidade produtiva, mas não é possível cumprir estas utopias no prazo em que estão colocadas a nível da agenda europeia”, começou por dizer Luís Mira.

O secretário-geral do CAP acrescentou, ainda: “O Estado pode potenciar uma agricultura sustentável, mas vamos dizer a verdade: o Estado, nos últimos vinte anos, em termos de política agrícola, não ajudou nada os agricultores portugueses porque não sabe para onde vai, não há nenhuma ideia para a aplicação das verbas“.

A mesma opinião foi partilhada por Nuno Serra, que afirmou: “Para haver sustentabilidade tem de haver um compromisso básico, que é a sustentabilidade económica financeira. Eu não sei o que o quadro político vai ter, mas este caminho da pressão verde vai ter menos força. O que os agricultores têm de fazer é reivindicar os seus interesses, assim como todos os outros setores fazem. Nós não somos diferentes, pelo contrário, temos sido é completamente prejudicados. O que eu acho é que grande parte destas políticas e destes movimentos têm a ver com políticas exógenas, e nós não podemos confundir aquilo que é a PAC com o que são as políticas ambientais que têm de ser feitas na Europa. Isto porque o restauro da natureza, o uso dos solos, o uso sustentável dos pesticidas, são políticas à parte daquilo que é o PEPAC“.

Por sua vez, Cristina Melo Antunes, Responsável de Negócio ESG e Green Finance: Santander Portugal, também afirmou que ” a sustentabilidade tem de ser rentável porque se não for rentável os produtores não estarão cá nos próximos 20 anos. Quando eu olho para um investimento, ele tem de ter uma rentabilidade a curto, médio e longo prazo, e tem que me permitir diferenciar. Portanto, os novos investimentos, sejam na agricultura, sejam noutros setores, têm de ter a perspetiva de perceber como melhorar o negócio, como mudar a forma como atualmente se fazem as coisas para entrar na economia circular, no uso eficiente da água, com o objetivo de me diferenciar, seja pelos custos, seja por fazer um produto diferenciado“.

“No Acordo de Paris foram definidos vários objetivos, nomeadamente a neutralidade carbónica em 2050. E uma empresa só atinge os seus objetivos de neutralidade carbónica se os atingir no âmbito 1, 2 e 3. O âmbito 1 e 2 são relativamente fáceis, porque são as emissões que nós fazemos com a nossa atividade e são as emissões geradas pela energia que nós compramos. Portanto, estas são fáceis, toda a gente sabe gerir. Mas depois, para ser neutro em carbono, a minha cadeia de valor, os meus fornecedores e os meus clientes, também têm de ser neutros em carbono. E isto faz com que haja aqui uma ideia de transição justa, ou seja, toda a gente tem de fazer esta transição, independentemente de ser uma grande, média ou pequena empresa. Portanto, a principal pressão que já se está a sentir no mercado é a pressão da cadeia de valor. E este ano essa pressão aumentou com a entrada em vigor da nova diretiva de suporte de sustentabilidade produtiva“, continuou.

Na mesma linha, António Serrano referiu, ainda, que “esta matéria impacta em toda a cadeia de valor e a distribuição é fortemente impactada com isso”. “É preciso saber que qualquer operador, nesta área da distribuição, para colocar à disposição do consumidor produtos com confiança para poderem ser vendidos e consumidos, há toda uma logística, que vai desde o campo às fábricas e até à prateleira, que é enorme. Claro que o interesse de toda a cadeia é a sustentabilidade. Todos têm de ser sustentáveis economicamente, em primeiro lugar, ambiental e socialmente. Já agora, tendemos a esquecer a componente social e o impacto da agricultura no território e a responsabilidade que ela tem na manutenção e na preservação do território é enorme“, concluiu.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Como pode o Estado potenciar a agricultura sustentável?

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião